O aprendizado que vai além do esporte
Conhecer paratletas faz com que estudantes saibam mais sobre diversidade e as diferentes formas de praticar atividades físicas
Cada um vive e se comporta de um jeito. Mas olhar para o outro também é importante. Nesse processo, alguns aprendizados podem acontecer, até mesmo para quem já lida no dia a dia com o “diferente”. O Heitor Manike de Andrade é cadeirante. Mas foi conhecendo uma equipe paratleta e tirando as principais dúvidas que ele descobriu um novo mundo de possibilidades dentro do esporte.
“Foi muito legal conhecê-los. Nunca tinha conversado com atletas com deficiência e não imaginava que era possível fazer tantas coisas”, comentou o garoto de 11 anos. A situação foi tão especial para Heitor que, poucos dias depois, decidiu se inscrever para praticar uma das modalidades que viu. Entretanto, houve uma pequena mudança nas preferências do menino em seguida, e ele decidiu abandonar o atletismo como profissão para colocá-lo na caixinha do hobby. E está tudo bem.
A experiência transformadora ocorreu no final de março, quando ele e os colegas, estudantes da E.M. Prof. Flávio de Souza Nogueira, foram até ao Centro Esportivo da Vila Gabriel para se encontrarem com os paratletas que treinam por ali.
Na ocasião, os estudantes puderam ver na prática as provas de saltos em distância e em altura, arremesso de disco, corrida de revezamento, lançamento de dardo, entre outros. Mas a atividade foi além. Eles puderam experimentar como é praticar aqueles esportes, apesar das adaptações apresentadas em cada modalidade.
O Yago dos Santos Barbosa, por exemplo, aproveitou a oportunidade para refletir sobre a acessibilidade e oportunidades que todos deveriam ter, independentemente da área que está. “Foi muito legal conversar com eles. Aprendi que é possível fazer qualquer coisa com um pouco de adaptação”, disse o estudante de 12 anos.
Curioso para saber mais do universo esportivo para as pessoas com deficiência, Yago concluiu que o bate-papo foi muito útil para “quebrar os tabus que existem.” Ao chegar em casa, o jovem fez questão de conversar com a família. “Foi muito interessante falar sobre isso com eles”, complementou ele.
Entre os atletas que participaram da interação está Rodrigo Ribeiro. Ele sofreu um acidente em 1999 e, desde o ano 2000, passou a praticar esportes. “Eu fazia fisioterapia, na época, e por indicação de um amigo, acabei conhecendo o atletismo. Desde então, passei a treinar em equipe. Primeiro com corrida, mas tive uma lesão no ombro e resolvi parar. Foi quando tive contato com o lançamento de disco e me interessei”, conta Rodrigo, que é atleta do Lançamento do Disco F55 e campeão Regional 2023.
Já o atleta saltense Ramão Castello conquistou uma medalha de prata, no Campeonato Paulista deste ano. “Eu não praticava nenhum esporte. Mas comecei depois de sofrer um acidente. Acabei vindo para Sorocaba e uma pessoa me deu um cartão, me convidando para praticar futebol. Eu achei que era impossível, mas acabei começando. Depois de um ano comecei a correr e não parei mais. Minha dedicação aos esportes começou em 2018, após um acidente de moto”, revela o atleta.
A jovem Alice Constantino Silva, de 11 anos, contou à reportagem que sempre gostou de esportes e ver que as dificuldades não limitam a prática deles foi muito importante. Entre os que mais gostou de ver está o arremesso de peso. “Fui com tanta intensidade que no segundo arremesso machuquei meu braço, mas logo logo passou”, riu a pré-adolescente.
“Foi muito bom conhecê-los. Tirei dúvida de como os cadeirantes faziam no dia a dia. Tudo isso me ajudou a entender sobre as oportunidades e também que todos podem sim ter capacidade para fazer algo”, complementou Alice.
A programação fez parte do projeto “Eu Pratico Esporte Educacional”, da Secretaria da Educação (Sedu). “As trocas de experiências vivenciadas entre estudantes e atletas, sem dúvida alguma, enriqueceram, e muito, um dos princípios do Esporte Educacional, que é o ensinar mais que esporte para todos!”, finaliza o técnico pedagógico da Sedu, Luís Gustavo Maganhato. (Com Rose Campos/Secom Sorocaba)
Para além da estratégia
O projeto que proporcionou a experiência dos alunos com os paratletas executa mais de 11 modalidades esportivas. Entre elas o xadrez. O esporte é um dos mais antigos do mundo e é carregado de estratégia. E engana-se quem acha que é um jogo de pessoas “mais velhas”, tem muito jovem adorando, viu?!
Lembra do Heitor, o menino de 11 anos que até cogitou em se tornar atleta profissional? Agora a paixão dele está no tabuleiro. “Antes não jogava, mas quando fui apresentado no projeto gostei muito. O xadrez tem muita estratégia e raciocínio. Eu amo isso”, comentou o garoto.
Sua colega, Alice Maia Galindo, de 12 anos, por sua vez, é tão competitiva que o xadrez pareceu o esporte ideal. “Fico muito concentrada, monto várias estratégias na minha cabeça e a cada ação do adversário. Sempre aprendo práticas novas, é ótimo”, disse.
Questionada se acha importante a escola proporcionar esse tipo de aprendizado, a pequena não hesita em dizer sim. “A gente tem várias opções e depois da aula adoro vir aqui para jogar várias coisas”, complementou Alice Galindo. (T.M.)