Coleções guardam histórias que passam de geração para geração

Por Beatriz Falcão

Papéis de várias épocas e de outros países enriquecem as coleções

Para alguns, colecionar é muito mais do que guardar simples objetos de um mesmo tema. Muito pelo contrário, para essas pessoas os itens conservam histórias, memórias e lembranças felizes de uma época. Às vezes, o afeto e o carinho são tantos, que os pais passam a “herança” para os filhos. Esse é o caso de Renata Akemi Horie Agustini, mãe da Beatriz Sayuri Horie Augustin, de 12 anos.

No ano passado, próximo ao Natal, Bia recebeu de presente quatro pastas grandes que, na verdade, guardam um tesouro: a coleção de papéis de carta de sua mãe. Apesar de serem pouco conhecidas atualmente, as folhas coloridas e com personagens animados foram febre nos anos 80 entre crianças e adolescentes. Naquele tempo, não existia WhatsApp, Instagram ou Facebook, portanto, a comunicação era feita por cartas.

“Eu tinha 8 anos e lembro que algumas amigas moravam fora de Sorocaba, então mandava cartas escritas para elas, era o nosso jeito de conversar”, conta Renata. “E eu sempre gostei muito de papel, tanto que guardava as embalagens dos presentes que eu ganhava para transformar em papel de cartas”.

Para ela, olhar a sua coleção é revisitar um passado feliz. No recreio entre as aulas, era costume se encontrar com as amigas para trocar papéis de carta no pátio. E quando uma viajava, costumava trazer novas folhas. Essas eram as mais valiosas, principalmente se vinham acompanhadas por um envelope. No entanto, a mais especial para Renata veio do Japão, um presente da sua avó.

“Ela morou lá por um ano e, sabendo da minha coleção, enviava papéis de carta para mim. A folha é diferente, é mais fina do que as demais, porque o envio não podia ter peso, quanto mais pesada a carta, mais caro era”, explica a colecionadora. “Era nesse papel que eu escrevia minhas cartas para ela, então possui uma memória afetiva muito importante, mesmo sendo uma coisa material”.

O hobbie de colecionar está na família. Bia, antes mesmo de saber da paixão da mãe por papéis de carta, montou a sua própria coleção de brinquedos em miniaturas, chamados de shopkins. Representando objetos de supermercados e confeitarias, os itens possuem rostinhos e um tamanho menor do que três centímetros. A linha foi lançada em solo brasileiro.

“Eu ganhei o primeiro no meu aniversário de 5 anos, minha avó me deu. Achei muito bonitinho, tão pequeno, e peguei gosto. Era muito legal brincar com eles”, relata Bia. “Infelizmente, pararam de produzir e eu de colecionar, mas guardo todos com muito carinho”.

Tal mãe, tal filha

Maria Luiza Fantazzini Ferreira Custódio, de 12 anos, também herdou a coleção de papéis de carta e o gosto por colecionar da mãe, Mariana Fantazzini Ferreira Custódio. Maquiagens, pulseiras, pingentes, biscuit, Funko Pop, ursinhos de pelúcia são apenas alguns dos exemplos presentes no quarto dela.

“Eu gosto de colecionar porque, no fim, tudo vira decoração. Acho muito bonito e fofo”, conta Malu. “Além disso, possuem um valor sentimental”.

A sua primeira coleção foi de fotos e cartas que recebeu das amigas e dos familiares. Todos estão expostos, bem como as medalhas que recebeu sendo líder de torcida. Na cômoda, os Funkos Pop de personagens da Disney e bonecos de biscuit do filme Zombie, que ganhou no seu aniversário do ano passado, enfeitam o local. Agora, os papéis de carta também fazem parte da extensa lista.

“Eu fiquei muito feliz com o presente. Claro, a minha mãe deu algumas regras, por exemplo, não posso usar os papéis da Hello Kit ou os que vieram dos Estados Unidos”, detalha Malu. “Normalmente, uso as folhas para escrever cartas para as minhas amigas, mas só para as mais especiais”.

Para Mariana, é emocionante ver a filha herdando não somente a sua coleção, mas também o hobbie. Assim como Renata, trocar papel de carta fez parte da sua infância e adolescência. Essas memórias também estão guardadas em pastas, que hoje pertencem a Malu.

“Hoje, é difícil encontrar pessoas que tenham esse sentimento, é tudo digital, tudo muito rápido. No entanto, acho que o valor no item físico é muito maior. Então, acho legal que ela tenha essa consciência e gosto”, conclui.