Vamos falar de saúde mental?

O mês de setembro tem sido marcado pela conscientização do tema e aumenta a necessidade de ter uma rede de apoio

Por Denise Rocha

Atividades são desenvolvidas dentro e fora de sala na Educação Infantil, com crianças de 2 a 5 anos

O que um sorriso esconde é o que a psicóloga Kamila Oliveira da Silva, com quase 20 anos de atendimento clínico, busca descobrir nas sessões voltadas para o público infantil, adolescente e adulto. A profissional é mãe de um adolescente de 15 anos e consegue naturalmente uma conexão com os jovens. “A dor física é vista e a emocional é subjetiva, mas também é sentida. É necessário ‘quebrar’ esse tabu de que saúde mental é fraqueza. Aumentou muito nos últimos anos casos de suicídio, inclusive a partir dos 5 anos de idade”, explica Kamila.

Marco temporal

Segundo a psicóloga, a pandemia tornou-se um marco. Nos anos de 2020 e 2021, com o isolamento social e as mortes, as pessoas tiveram que lidar com incertezas, angústias e perdas, além de se voltar mais para si mesmas. Os sinais são percebidos atualmente. “O sofrimento nem sempre é visível”, alerta.

Rede de apoio

Nessa hora, os profissionais que atuam na área de saúde mental podem ajudar muito. Alguns sinais precisam ser considerados como um alerta no caso de crianças e adolescentes. São eles retração social, isolamento repentino, queixas de cansaço, desânimo constante, excesso de internet, não se alimentar direito e pular refeições, evitar os passeios em família, ter explosões de raiva, abandono de hobby e queda de desempenho escolar. “Eles estão suscetíveis, por conta de estarem em desenvolvimento e encontrarem dificuldade para expressar o que estão sentindo”, explica Kamila.

Nos casos de bullying, quando a criança ou adolescente sofre intimidação psicológica ou física, a informação e a busca por ajuda profissional são aliados no combate a prática. Os pais, que são de gerações diferentes dos filhos, precisam muitas vezes se preparar para estar em condições de auxiliar diante de situações como essa.

A proximidade com o vestibular também gera tensão. Uma orientação da profissional é evitar educar dizendo o que tem que fazer de acordo com a perspectivas dos pais. “O adolescente não é uma projeção dos pais, tem emoções e sentimentos próprios. Precisa buscar um sentido e escolher”, recomenda Kamila ao falar sobre a decisão de qual carreira seguir. Ouvir é a melhor escolha. Aliás ter uma escuta ativa, ou seja, acolher e considerar o que é falado pelo outro é um bom início de diálogo. “Quando escuto e direciono, eu permito que a criança ou o adolescente faça escolhas mais saudáveis, não impostas, e isso ajuda a formar identidade”, salienta.

Por fim, vale lembrar que é sempre bom recorrer à rede de apoio formada pelas pessoas que estão no entorno, como pais, familiares, amigos e professores. Também é fundamental perceber que mais do que nunca a terapia é um recurso poderoso para buscar o autoconhecimento. E se conhecer sempre é o melhor caminho para encarar a vida com mais inteligência emocional. 

O início

Setembro Amarelo é o mês dedicado à prevenção do suicídio. Com o slogan “Falar é a melhor solução”, a campanha teve início no Brasil em 2015. A proposta é incentivar a busca por ajuda. A origem foi nos Estado Unidos, quando um jovem de 17 anos, Mike Emme, cometeu suicídio em 1994. Ele pintou um Mustang 68 de amarelo. Ninguém percebeu que Mike enfrentava sérios problemas psicológicos. No dia do velório, muitos cartões com a mensagem “Se você precisar, peça ajuda” estavam decorados com fitas amarelas.

O amor pela Educação Infantil está no cuidado

Se você quiser falar com a professora Jeiza Carla Araújo de Oliveira durante o período de aula só mesmo através da equipe do colégio. Nada de celular; a dedicação, olhos e o coração estão voltados para os alunos da Educação Infantil.

A profissional que está há quase 4 anos no Poli é graduada em Pedagogia, com pós-graduação em Alfabetização e Letramento. Mas o diferencial está na abordagem que adota no trabalho. “A Educação Infantil é o alicerce. É como construir uma casa que precisa ter um alicerce sólido. É mais do que brincar, é trabalhar o desenvolvimento, contribuir na construção da identidade, explorar números e letras e criar relações. Com uma boa passagem por aqui, vai brilhar em todas as outras séries”, comenta Jeiza.

Até a brincadeira é coisa séria

A explicação para isso tem relação com os primeiros anos de vida das crianças. Nesse momento que começam a entrar em contato com um mundo novo, os detalhes fazem toda a diferença. Por isso, a filosofia do Colégio Politécnico, mantido pela Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), faz mais sentido. Família e escola precisam caminhar juntos. Se a Educação Infantil é o alicerce na vida dos pequenos, a família é a base de tudo.

Na escola a criança vai vivenciar os desafios de novos estímulos de aprendizado, a ludicidade, com a criação de identificações, como números e quantidades e letras e nomes, fazendo as relações entre eles. Além disso, é nesse momento que os pequenos vão aprender a segurar um lápis e desenvolver a coordenação motora fina. Tudo tem um porquê e uma relação fundamental com o aprendizado. “Aqui no Colégio Politécnico brincar também é coisa séria”, explica a professora.

E quando se observa a seriedade das crianças com as atividades, de fato se percebe que para elas o conhecimento é absorvido com leveza. A partir dos 2 anos as crianças já podem ingressar no Maternal I, depois passam para o II. Em seguida é o Pré I; depois o II, uma transição, espécie de ponte para o primeiro ano do Ensino Fundamental, quando as crianças, com 5 anos, vão ser preparadas para uma nova fase.

A Educação Infantil exige um olhar mais atento à primeira experiência do aluno fora de casa; muitas vezes é uma adaptação até para a família. Mas é nesse ambiente que a criança vai aprender a socializar e adquirir autonomia, sem auxílio da família, criando vínculos e lidando com primeiros conflitos. Vai ser preciso dividir um brinquedo, se alimentar, escovar os dentes, lembrar de fazer a lição de casa e cuidar dos próprios materiais.

O que faz valer a pena? A professora Jeiza explica que não é só gostar de criança, é preciso ter intuição e sensibilidade para respeitar essa primeira fase da criança. “É saber ouvir, ter o modo de falar e o tom de voz adequados, uma percepção aguçada, ser lúdico e carismático para estreitar os laços e criar vínculos com a criança”, reforça. Sim, a Educação Infantil exige amor. 

A redação do Enem exige muito treino

O professor João Batista Alvarenga é um apaixonado pelos livros e pela escrita. Ele leciona a disciplina Técnicas de Redação para vestibular e Enem, no Colégio Politécnico. Com a bagagem cultural que possui, ele busca despertar nos alunos o interesse em ‘ler o mundo’.

Confira a seguir alguns pontos da entrevista que ele concedeu à nossa reportagem.

JCS: Como é a preparação dos alunos?

João: A preparação do aluno para enfrentar essa etapa é feita com muito treino ao longo dos três anos. Na verdade, os alunos que já estão conosco no Poli, no 8º e 9º anos começam a ter uma base sobre o que é uma redação, um texto opinativo ou argumentativo. Quando eles chegam no primeiro ano, já tem uma noção dessa estrutura e isso facilita. No Ensino Médio vou ampliar o repertório deles e apresentar as diferenças entre o padrão Enem, Fuvest e demais vestibulares, como Unicamp, FGV, Unesp, entre outras instituições presentes na nossa região.

JCS: Qual é a estrutura ideal da redação do Enem?

João: Uma redação padronizada tem entre 25 e 30 linhas, ou seja, serão de 3 a 7 linhas, em média, que irão formar em torno de cinco parágrafos. No Enem é um texto compartimentado. O aluno precisa ter uma tese e defender seu ponto de vista. Por exemplo, se vai tratar do aquecimento global, ele vai expor sua opinião, bem fundamentada, apresentar os argumentos, as causas, origens do problema, que pode ser desde a Revolução Industrial até o consumo excessivo. Além disso, ele precisa falar das consequências e apresentar uma solução, apontando quem são os personagens que vão implementar a proposta. E, é claro, a ideia precisa estar de acordo com o respeito aos direitos humanos, preceitos constitucionais e democráticos e multiculturais. Tudo isso fazendo uso adequado dos conectivos para interligar os parágrafos e desenvolver o raciocínio.

JCS: Qual é a recomendação para o aluno ter bagagem cultural suficiente para desenvolver qualquer tema?

João: É preciso ‘ler o mundo’. E sabe como faz isso? Eu recomendo que aluno leia muito, além dos livros clássicos, jornais e revistas. Também é preciso assistir documentários, séries, filmes, reportagens, ou seja, elementos que ele consiga citar e criar uma conexão com o tema. É importante ressaltar que o Enem proíbe que sejam utilizados trechos da coletânea, mas é permitido citar os dados numéricos.

JCS: Qual é o fundamento para os temas escolhidos até agora?

João: Os temas estão à nossa volta. É importante estar atento principalmente aos fatos do dia a dia, pois a prova traz temas da atualidade, a partir de alguns eixos temáticos, como meio ambiente, saúde, educação, comportamento, cultura e tecnologia.

JCS: Como escrever bem?

João: Para escrever bem é necessário estar atento ao dia a dia. É possível ter os momentos de lazer, mas isso precisa ser conciliado com o compromisso de aprender. O aluno deve treinar muito, fazer várias redações e práticas textuais. Insistir é uma virtude. Eu tenho uma experiência muito interessante. Escolhi um tema para trabalhar com os alunos em sala, que foi superexposição nas redes sociais. Uma aluna tirou 6,5 na prova. O Enem seria realizado em 15 dias. Ela não ficou satisfeita com o resultado e pediu uma revisão, para reescrever e eu reavaliar. Eu tenho essa liberdade aqui no Poli, a Coordenação é muito sensível. O importante é o aluno aprender, não para uma prova mas para vida toda. O resultado da aluna, com a revisão, passou para 8,5. Esse tema tinha caído no meio do ano na Unesp e por incrível que pareça caiu no Enem. E adivinha quanto ela tirou? Mil. Ela insistiu e foi humilde para descobrir as próprias dificuldades e corrigir. No Poli temos essa tradição; muitos alunos alcançam notas 900, 950, graças a essas técnicas para aprimorar o conhecimento. É preciso escrever continuamente para melhorar, eu incentivo que o aluno acredite no próprio potencial. (Denise Rocha)