Um mergulho na história do menino Monteiro Lobato
Se você gosta de ler ou ouvir histórias, muito provavelmente já se deparou com “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Considerado um clássico da literatura infantil brasileira, a obra, que no ano que vem completa 100 anos, traz personagens curiosos como a tagarela boneca Emília; o Visconde, que é um sábio sabugo de milho; a Cuca, uma bruxa com cara e corpo de jacaré; a meiga menina Narizinho e seu corajoso primo Pedrinho.
Mas você sabe quem é o “pai” dessa turma toda? O criador da série de 23 volumes é José Bento Renato Monteiro Lobato, mais conhecido como Monteiro Lobato, pioneiro da literatura infanto-juvenil no Brasil. Além da turminha do “Sítio”, ele criou outro personagem bem conhecido, o Jeca Tatu, e também trabalhou como editor, tradutor e foi grande defensor da exploração do petróleo em prol do progresso do País. Se Monteiro Lobato é considerado um dos primeiros escritores infantis brasileiros, que livros ele gostava de ler quando era criança? Quem ajuda a responder a essa e a outras perguntas é o empresário Ricardo Monteiro Lobato, bisneto do grande escritor.
Viva, Lobato
O Cruzeirinho conversou com Ricardo, que relata para a gente uma série de curiosidades de quando o seu bisavô ainda era criança. Algumas dessas histórias são contadas nas palestras que Ricardo faz Brasil afora e que estão inseridas no novo espetáculo “Viva, Lobato”, realizado em parceria com a contadora de histórias sorocabana Monisa Maciel. A ideia deste papo é mostrar para todas as crianças que antes de se tornar um grande escritor, Monteiro Lobato foi um menino muito curioso -- e um tanto levado.
História
Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882 em Taubaté e passou toda sua infância na região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, num sítio de propriedade de seu pai, cuja a casa era tão grande que, segundo Ricardo, podia-se andar tranquilamente de bicicleta dentro da sala de estar. O escritor foi alfabetizado em casa pela mãe, Olímpia, e descobriu o mundo dos livros por intermédio do avô materno, o Visconde de Tremembé, que tinha uma vasta biblioteca, onde leu os grandes clássicos da literatura. Um privilégio, já que, naquela época, segundo Ricardo, os livros eram muito caros e quase todos importados. “As pessoas não tinham muito acesso, só as de muita renda podiam ter um biblioteca particular em casa. A maioria, se quisesse ler algo, só tinha acesso em escola ou biblioteca pública”, comenta Ricardo.
Pesquisadores dizem que quando Monteiro Lobato fazia o estudo primário em sua terra natal, já escrevia pequenos contos para o jornalzinho da escola. O bisneto do escritor destaca que o gosto e o talento pela literatura foram crescendo com o passar do tempo e se intensificaram em 1907, quando ele comentou a escrever artigos para o jornal O Estado de S. Paulo. O primeiro livro, “Urupês”, que deu vida ao famoso personagem Jeca Tatu, foi lançado em 1918.
Sempre em contato com a natureza
Voltando à infância de Monteiro Lobato, Ricardo conta que seu bisavô cresceu em contato direto com a fauna e a flora e essa sua relação com a natureza se reflete em toda a sua produção literária, em especial, em sua obra mais célebre, que é o “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. “Ele cresceu num ambiente de fazenda, em contato com animais, com planta, no convívio com os bichos e os homens do campo”, diz. Foi nesta época que Lobato adquiriu o paladar para uma iguaria muito peculiar da região do Vale do Paraíba: o bumbum de formiga. É isso mesmo! Lobato era um apreciador de içá (ou saúva) frita, servida como tira-gosto. “Era uma das comidas prediletas dele. Já adulto ele ganhava sacos de içá, as pessoas caçavam e entregavam na casa dele”, conta Ricardo. Lobato gostava tanto da iguaria que apelidou o prato como “caviar caipira”.
Diversão
Sobre as brincadeiras favoritas do Monteiro Lobato, Ricardo conta que o bisavô, quando menino, gostava mesmo é de criar os seus próprios brinquedos, com madeiras e até mesmo legumes cultivados na própria fazenda. “Ele fazia bonecos com chuchu”, exemplifica. Durante a infância, Monteiro Lobato também tinha fama de “menino levado”. Ricardo revela que, uma vez, o menino chegou a comer todas as bananas da fruteira, mas com cuidado para não estragar as cascas, fez furo na ponta inferior e as encheu de ar. Quem olhava, pensavam que ainda estavam todas ali.
Conheça alguns dos livros de Lobato
Agora que você já conhece um pouco mais sobre a vida de Monteiro Lobato, que tal viajar na obra literária do escritor? O Cruzeirinho separou algumas sugestões que, com certeza, você vai gostar!
- “Reinações de Narizinho”,1931.
- “Caçadas de Pedrinho”, 1933.
- “Emília no país da gramática”, 1934.
- “Geografia de Dona Benta”, 1935.
- “O picapau amarelo”, 1939.
- “A reforma da natureza”, 1941.