Videogame é muito bom, mas é preciso ter cuidado
Eles divertem, distraem a cabeça, nos fazem aprender a ganhar e a perder, ajudam na concentração... Os videogames têm muitos benefícios, mas para quem sabe se controlar. Quem passa muitas horas por dia só querendo jogar, deixa de fazer seus compromissos do dia a dia, como as lições de casa, fica sem comer ou até mesmo dorme menos horas do que devia, já está passando dos limites. Talvez você não saiba, mas esse exagero é uma doença.
Na nossa sociedade existe uma Classificação Internacional de Doenças (CID), um sistema que foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para listar as principais enfermidades. O diagnóstico do vício em videogame considera a falta de controle e a prioridade dos jogos na vida da pessoa, ou seja, para ser considerado viciado em games é necessário ter um comportamento extremo, com consequências sobre as “atividades pessoais, familiares, sociais, educativas ou profissionais.” Por isso, não fique triste ou decepcionado com seus pais se eles não permitem que você jogue bastante: eles sabem o que estão fazendo.
Já sobre o fato de se acreditar que os games deixam as pessoas mais violentas, os estudos comprovam que não é verdade. Só será violento na vida real quem já é, ou seja, não tem nada a ver com os jogos. Entre as várias pesquisas, ressaltamos aqui um estudo considerado dos mais completos, feito pela renomada Universidade de Oxford, no Reino Unido, cujos resultados foram publicados no jornal científico Open Science, no ano passado. Foram consultados mais de dois mil adolescentes e cuidadores para se chegar a uma conclusão -- e o resultado é que não há evidência de que praticar jogos violentos deixe os jovens mais agressivos ou menos sociáveis. Que bom, não é mesmo?
A sensação do momento é um jogo chamado Fortnite Battle Royale, desenvolvido pela Epic Games. Esse proporciona uma disputa onde até 100 jogadores lutam em espaços cada vez menores para serem a última pessoa ou time vencedor. Tem arma, tem luta, mas tudo isso faz parte apenas de uma brincadeira. As crianças sabem disso muito bem.
Gabriel Fogaça Jacinto, 6 anos, afirma que “as coisas do game são só no jogo e não na vida real”. Tudo o que joga, é com supervisão do seu pai. Ele não gosta muito dos que têm violência e não tem autorização para jogar aqueles da internet. Por isso, nunca jogou o Fortnite. “Mas já ouvi falar”, comenta.
Na opinião dele, não tem nada a ver ficar agressivo com esses jogos. “Meu pai explica que é só um jogo e também que na vida real, quando morre acabou tudo”, afirma Gabriel. Por isso, ele não faz coisas perigosas. “Tenho cuidado com a vida”, garante.
Gabriel costuma jogar apenas nos dias de chuva, em que a brincadeira é dentro de casa, e ocasiões específicas. Quando joga, aí fica cerca de duas horas. “Curto Resident Evil 4, Zelda e Mario”, comenta. A mãe de Gabriel diz que os professores sempre falam que ele é uma criança amistosa, que resolve os conflitos sempre na conversa e não no físico. “Ele não reproduz os games na vida real, é muito amoroso e aplicado, inclusive com as coisas da igreja onde frequenta”, diz.
Murilo de Oliveira Costa, 6 anos, também costuma jogar videogame, mas só às vezes. “No dia que não tenho escola, posso jogar, mas mesmo assim não muito, no máximo três horas”, conta.
Os pais de Murilo também impõem limites. “Nas férias eles deixam jogar mais”, diz. “Um jogo muito jogado é o Fortnite, do qual participam os melhores gamers. Tem tanta gente lá, é muito bom”, afirma, com conhecimento de quem joga. Mas a sua mãe não permite que ouça os áudios (porque os jogadores falam muito palavrão) e como Murilo não sabe ler, ele nem sabe do que se tratam as mensagens postadas. “É um jogo violento e eu sei que nesses jogos tem gente que fala palavrão, mas a gente não pode nunca falar essas coisas que as pessoas falam”, ensina.
Murilo sabe porque um primo mais velho joga e já contou como funciona. Esclarecido sobre o tema, o pequeno afirma que não reproduz nada do que vê no jogo. “Não pode repetir isso na vida real, muito menos na escola, porque dá briga e eu não brigo com meus amigos, vou na escola para estudar e brincar.”
Opinião dos mais experientes
Dois irmãos nascidos em Itapetininga, uma cidade que fica na região de Sorocaba, estão morando atualmente em Portugal e conversaram sobre o assunto com a reportagem do Cruzeirinho por WhatsApp. Gustavo e Guilherme Cardoso Alciati são gêmeos. Eles têm 11 anos e ambos gostam muito de jogar videogame.
Gustavo curte jogos como Ironsight, Fortnite, Roblox e, às vezes, Overwatch. Quando joga, fica em torno de cinco ou seis horas entretido. O Fortnite, ele diz que nem sempre joga. “Pelo fato de ser um pouco pesado e às vezes meu computador trava, aí fica difícil jogar”, diz. “O jogo é legal, tem muitas pessoas que jogam muito bem, o que me deixa irritado por morrer toda hora por ser iniciante”, comenta. Na opinião de Gustavo, games violentos não deixam as crianças agressivas. “Depende da consciência da pessoa”, afirma.
Questionado se já percebeu se seu comportamento muda por causa do videogame, ele considera que às vezes fica estressado por perder partidas. “Mas tirando isso, na minha opinião não muda o meu comportamento diário.” Para Gustavo, a violência “claramente é errada”. “Também acho que, quem tem comportamentos agressivos por causa dos games, deveria procurar um psicólogo.”
Apesar de gostar “muito mesmo” de jogar, se pudesse, Gustavo afirma que não passaria o tempo todo no videogame. Ele considera importante lembrar que os pais têm sempre que monitorar o tempo e os jogos que os filhos jogam. “Na minha opinião nem todos deveriam jogar jogos como Mortal Kombat XI, pelo fato de ser muitíssimo violento”, aconselha.
Já o Guilherme gosta de jogos como Paladins, CS:GO (Counter Strike: Global Offensive), Roblox e Knights of the Old Republic 2. Ele conta que não joga sempre. “Depende do dia, em dia de semana e em sábado não jogo. Domingo e sexta eu jogo, nesses dias eu jogo mais ou menos sete horas, mas em casos especiais como férias, jogo todos os dias, e varia entre cinco a oito horas”, diz.
O pai controla seu tempo no jogo. “Quando chega uma certa hora, ele diz para desligar, escovar os dentes e dormir.”
Guilherme sabe que alguns games são um pouco mais violentos, com armas, lutas, e acredita que o jogo só causará prejuízos à pessoa se o usuário se deixa influenciar fácil.
No entanto, ele já percebeu que muda seu comportamento por causa do videogame. “Depende da quantidade de tempo que eu jogo, de forma geral, ele me deixa um pouco mais agressivo quando eu paro de jogar, e no dia seguinte, às vezes, tenho um pouco de angústia para poder jogar logo.”
Esse comportamento de Guilherme, ele próprio analisa que faz parte de sua personalidade. “Eu tenho um temperamento bem para impaciente.”
A respeito da violência, Guilherme acha isso um ato horrível. “Embora às vezes causemos ela sem querer, ou sem intenção”, analisa.
Também ele, se pudesse passar o dia todo jogando, não o faria. “Mesmo que eu seja um pouco viciado, acho que é bem importante moderar nas atividades”, conclui. (Daniela Jacinto)