Obesidade traz mais riscos às meninas
Pesquisa aponta que elas têm maior propensão às doenças cardiovasculares na fase adulta do que os meninos
Estudo feito com 92 adolescentes sugere que as meninas são mais propensas do que os meninos a desenvolver alterações metabólicas associadas à obesidade, entre elas hipertensão e dislipidemia - como é chamada a elevação dos níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue.
A pesquisa foi conduzida com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Os resultados foram divulgados em artigo na revista “Frontiers in Nutrition”.
Segundo os autores, os dados revelam um padrão de alterações no perfil lipídico associado às meninas obesas, quando comparadas a meninas sem sobrepeso. A conclusão é que as garotas do primeiro grupo têm mais predisposição a sofrer de doenças cardiovasculares na vida adulta.
“Observamos que as meninas são muito mais propensas às alterações típicas da obesidade, como hipertensão e dislipidemia. Elas apresentaram níveis aumentados de triglicerídeos e LDL, o chamado colesterol “ruim”, enquanto o HDL, o colesterol “bom”, foi menor em comparação às meninas eutróficas [sem sobrepeso]”, revela a bióloga Estefania Simoes, primeira autora do trabalho.
O perfil lipídico dos meninos obesos não apresentou diferenças significativas quando comparado com o dos meninos eutróficos, segundo os cientistas.
Preocupação mundial
A obesidade infantil é uma preocupação crescente de autoridades sanitárias e estudiosos da área da saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 340 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos estavam com sobrepeso ou obesos em 2016. É bem sabido que a obesidade na infância pode acarretar distúrbios metabólicos e doenças cardiovasculares na vida adulta.
Embora a questão venha ocupando cientistas e grupos de pesquisa há algum tempo, a ocorrência da obesidade na adolescência sob o ponto de vista das diferenças entre os sexos ainda é um tema pouco explorado.
“Nós comparamos adolescentes obesos e não obesos entre 11 e 18 anos de ambos os sexos abordando, simultaneamente, medidas antropométricas, perfil lipídico e lipoproteico, concentração de hormônios e neuropeptídeos, com foco especial nas respostas dependentes do sexo. Até onde sabemos, trata-se do primeiro estudo com essa abordagem multifatorial.”
O trabalho recebeu financiamento por meio de dois projetos: “Avaliação de anatomia cerebral, mediadores inflamatórios e hormônios reguladores do apetite de pacientes pediátricos obesos: um estudo sobre a neurobiologia da obesidade” e “Inflamação sistêmica em pacientes com caquexia associada ao câncer: mecanismos e estratégias terapêuticas, uma abordagem em medicina translacional”.
Colaborações
A pesquisa foi realizada em colaboração com o neurologista e psiquiatra Ricardo Riyoiti Uchida, pesquisador que lidera o trabalho e responsável pelo recrutamento dos 92 adolescentes que participaram do levantamento, no Ambulatório de Endocrinopediatria da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Uchida estuda, por meio de neuroimagens, se existe alguma alteração nas regiões do cérebro relacionadas à saciedade e ao apetite. “É outro trabalho que está prestes a sair. O objetivo é caracterizar o sistema nervoso central dos pacientes obesos. Ele estuda obesidade adolescente há muitos anos”, adianta Simoes.
Além da coleta de sangue dos pacientes e da aferição da pressão sanguínea, foram mensuradas as concentrações plasmáticas (em jejum) de colesterol total (TC), colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL), colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL), colesterol de lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL) e triglicerídeos (TG). Esse trabalho foi feito pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Adicionalmente, foram aplicados vários questionários desenvolvidos para identificar os padrões alimentares que exibem sinais de dependência de alimentos ricos em gordura e/ou açúcar, assim como distúrbios alimentares. (Da Redação, com informações da Fapesp)