Maioria das infecções tem origem na vida selvagem
Estudo brasileiro comprova que coronavírus, influenza, HIV e ebola saltaram dos animais para as pessoas por meio de ações humanas equivocadas
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) fizeram uma revisão bibliográfica de dados e os resultados revelaram que de 60% a 75% das doenças infecciosas são derivadas de microrganismos que originalmente circulavam em espécies de animais selvagens e saltaram para os seres humanos. Embora o salto de patógenos de uma espécie de animal selvagem para outra e, posteriormente, para humanos seja comum como mostram os dados, é raro que esses eventos levem a uma situação epidêmica.
Entretanto, a proliferação dessas doenças entre os seres humanos é facilitada pelas ações humanas. Entre as doenças já conhecidas e resultado desse salto, está a Covid-19, cujo vírus Sars-Cov-2 se adaptou ao ser humano, com grande poder de transmissibilidade, o que reforça o papel da ação humana na cadeia de disseminação do vírus. “Podemos citar também os casos de Influenza, cujo salto para as pessoas foi favorecido pela criação de aves e suínos em um mesmo ambiente, ao longo da evolução humana”, exemplificou o professor e pesquisador da UFRGS, José Artur Bogo Chies, um dos autores do estudo, que pretende discutir ações de prevenção ou redução da frequência de eventos de salto de patógenos.
Segundo ele, no caso da Covid-19, a principal hipótese até o momento é a de que o Sars-CoV-2 surgiu do morcego, conforme demonstram as análises de sequências genéticas do vírus, mas que alguma espécie, como os pangolins, agiu como intermediária para a infecção. Na China, é comum o consumo desse pequeno mamífero asiático e a contaminação pode ter ocorrido com o manuseio ou ingestão do animal.
“O fato de estar acontecendo novamente não é nada surpreendente. Provavelmente temos uma origem de morcegos, porque a análise do genoma do Sars-Cov-2, comparado com outros coronavírus que existem na natureza, mostra similaridade grande com os coronavírus que circulam em comunidades de morcegos. Mas daí a poder dizer com certeza de qual comunidade de morcegos tem a origem e qual foi o caminho percorrido ao longo desse salto é que não está bem estabelecido”.
Contágio facilitado
Chies reforça que o salto de espécies zoonótico de doenças infecciosas é altamente conectado com a forma como os humanos interagem com as espécies animais e o meio ambiente. Por isso, a preservação da biodiversidade é necessária para controlar os riscos de surgimento de potenciais patógenos para a espécie humana. Dessa maneira os potenciais patógenos seriam encontrados em pequenas quantidades e em seus hospedeiros usuais, com menor risco de transmissão.
“Devemos estudar ecologia dos vírus para prevenir novas pandemias. Temos lembrado que doenças infecciosas acompanham o ser humano ao longo de toda a evolução e estamos em contato constante com microorgnismos. Novas doenças aparecerem ou reemergirem são eventos absolutamente naturais e esperados, que temos possibilidade de controlar fazendo vigilância sanitária e controlando do que estamos nos alimentando”, disse.
Ele citou como exemplo o HIV, vírus causador da Aids, como um vírus tipicamente de macacos africanos e que por volta da década de 1950 conseguiu fazer o salto do patógeno pelo consumo da carne do animal. “Assim se tem o contato com os microorganismos que adquirem a capacidade de conseguirem se desenvolver no nosso corpo. Outro exemplo clássico citado pelo pesquisador, como proveniente da interferência do ser humano na natureza, é o vírus do Ebola.
Um problema apontado pelo pesquisador é o uso excessivo de antibióticos ou drogas antivirais, inclusive no campo veterinário, o que favorece uma seleção de micro-organismos que se tornam resistentes. (Da Redação, com Agência Brasil)