Doenças erradicadas podem voltar por falta de vacinação

DataSUS revela que uma em cada quatro crianças com até um mês de vida deixou de tomar vacinas importantes

Por Da Redação

Queda de 25% na vacinação infantil com a BCG e contra hepatite B acionou o sinal de alerta.

Como se não bastassem todos os malefícios causados pela Covid-19, estima-se que 25% dos bebês com até um mês de vida não receberam a vacina BCG (que protege contra a tuberculose) ou a imunização contra a hepatite B. Os números são do DataSUS e referem-se ao período de 2018 a 2020. Dados preliminares indicam que, em 2021, esse tipo de vacinação está abaixo da meta.

E mais: evidências indicam que a queda na vacinação infantil -- incluindo as coberturas contra outras doenças -- já ocorre desde antes da pandemia. Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisaram dados de 1994 a 2019 e concluíram que, a partir de 2016, o índice de crianças vacinadas com menos de 10 anos caiu entre 10 e 20%.

“No caso da imunização contra a hepatite B, a primeira dose é aplicada logo após o nascimento, dentro de até 12 horas. Porém, as duas doses subsequentes têm intervalo de 30 dias e 180 dias, respectivamente”, relembra a professora-doutora Izilda das Eiras Tâmega, docente da disciplina de Pediatria na Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde da PUC-SP. “Então, neste contexto, alguns pais temiam que, se levassem seus filhos aos postos de saúde, poderiam expô-los ao risco de contágio pela Covid-19.”

Já a vacina BCG, por sua vez, enfrenta problemas de abastecimento em todo o País. Sua linha de produção, localizada no Rio de Janeiro, foi paralisada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) por não atender às normas técnicas. Uma nova fábrica está em construção desde 1989, contudo, suas obras ainda não terminaram por mudanças no projeto e falta de recursos.

“Nos últimos meses, o País tem importado esta vacina da Índia”, explica Izilda. Ao todo, sete imunobiológicos do Programa Nacional de Imunizações, do SUS, têm origem indiana.

Doenças podem voltar

“Notamos um atraso em todo o calendário de vacinação infantil, sobretudo na faixa dos quatro aos seis anos”, lamenta a professora de medicina, acrescentando que a população tende a prestar mais atenção aos efeitos adversos, esquecendo-se de que a proteção é muito maior. “A vacina é como uma balança. Também ressalto que alguns efeitos, como fraqueza, febre, dor muscular e vômitos, podem nem estar relacionados à vacina”, acrescenta.

Ela complementa: “Infelizmente, existe uma falta de informação sobre o impacto positivo da imunização. Voltou-se tanto a atenção para a Covid-19 que as vacinas habituais, já conhecidas pela população, foram deixadas em segundo plano. Faço um alerta: as doenças básicas vão voltar, se o calendário vacinal não for feito adequadamente. Por fim, a população deve ouvir mais o profissional da saúde, sobretudo o pediatra, para esclarecer eventuais dúvidas”.

Em artigo publicado neste 6 de setembro, o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, relembra que, desde 1973 (ano de institucionalização do PNI), foram muitas as vitórias. “Uma das mais emblemáticas teve início em 1980, com a campanha que conferiu ao País, após incansáveis 14 anos, a Certificação da Ausência de Circulação Autóctone do Poliovírus Selvagem”.

Cunha traçou uma cronologia vacinal até chegar a 2016, quando foi certificada a eliminação do tétano materno e neonatal, da rubéola, da síndrome da rubéola congênita e do sarampo. “Porém, este último retornou em 2018, devido às baixas coberturas vacinais. Hoje, este fenômeno se estende por todo o calendário de vacinação, elevando o nível de vulnerabilidade ao patamar do risco de reintrodução da pólio no País”, escreveu. (Da Redação)