Molécula de veneno de peixe pode ajudar no tratamento da asma
Uma pesquisa do Instituto Butantan revela que as moléculas de veneno de um peixe podem ajudar no tratamento de asma. Trata-se de um peptídeo derivado do veneno do peixe niquim (Thalassophryne nattereri), denominado TnP, conforme divulgou no último dia 24 o Instituto Butantan. Em estudo publicado na revista científica Cells, foram apresentados resultados promissores para o tratamento da asma em testes em modelos animais.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a asma é a doença respiratória crônica mais comum, afetando 262 milhões de pessoas no mundo e causando 455 mil mortes por ano. A maioria dos óbitos ocorre em países de baixa e média renda, com pouco acesso a diagnóstico e tratamento.
Descoberta em 2007, pelo Laboratório de Toxinologia Aplicada do Butantan, a proteína com propriedades anti-inflamatórias deu origem a uma série de peptídeos sintéticos produzidos pelo grupo, que foram patenteados no Brasil e em outros 12 países.
“Desde então, pesquisas conduzidas pela equipe têm apontado a molécula como uma possível candidata para tratar doenças inflamatórias”, informa o instituto.
Desta vez, os cientistas compararam grupos de animais com asma tratados com TnP e com dexametasona, fármaco comumente utilizado para tratar a doença respiratória, e animais não tratados.
“Assim como o tratamento convencional, o TnP reduziu em mais de 60% o número de células totais que causam inflamação e dano tecidual no pulmão. No caso dos eosinófilos, responsáveis pela inflamação em cerca de metade dos pacientes com asma, a redução foi de 100%”, afirma o estudo.
Ainda de acordo com o Butantan, o tratamento com TnP também atenuou a remodelação das vias aéreas, característica que contribui para a redução da função pulmonar e obstrução do fluxo aéreo, e reduziu a presença de muco no pulmão.
Diferentemente das terapias convencionais, que podem causar sintomas como taquicardia, agitação, dor de cabeça e tremores musculares, não foram identificados efeitos adversos.
“Submetemos o veneno do peixe a uma cromatografia para identificar peptídeos e testamos várias moléculas. Essas toxinas provocam dor, edema, necrose. Até que chegamos a uma fração de peptídeos que não causava nenhuma ação danosa e isso nos chamou atenção”, disse a pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira, responsável pelo estudo.
Segundo ela, posteriormente, foi feito o sequenciamento genético do TnP para permitir a produção dos peptídeos sintéticos em laboratório. “Assim, os pesquisadores não dependem mais da extração do veneno do peixe e podem testar as moléculas sintéticas em diferentes modelos de doenças”, acrescentou a pesquisadora.
Peixe niquim
Espécie de peixe peçonhento brasileiro que predomina nas regiões Norte e Nordeste do País, o peixe niquim costuma se esconder em buracos na areia e é capaz de sobreviver por até 18 horas fora d’água, podendo provocar acidentes graves, segundo o Butantan. O contato com seus espinhos causa dor aguda, sensação de queimação, inchaço e necrose. Seu veneno é estudado pelo instituto desde 1996.
Para avaliar a toxicidade e segurança do peptídeo TnP, os pesquisadores testaram a molécula em zebrafish (ou peixe paulistinha), um modelo animal de pesquisa que apresenta 70% de semelhança genética com humanos. Segundo o estudo, não houve registro de disfunções cardíacas nem problemas neurológicos causados pelo peptídeo. (Estadão Conteúdo)