Cegueira e deficiências visuais são evitáveis em até 80% dos casos
Atualmente, pelo menos 2,2 bilhões de pessoas no mundo sofrem com cegueira ou possuem alguma limitação visual. Desse total, ao menos um bilhão tem um problema evitável ou ainda não tratado, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, mais de 35 milhões de brasileiros têm alguma dificuldade, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mundialmente, entre 60% e 80% dos casos de cegueira ou deficiências visuais severas seriam evitáveis com diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Diante desses dados, oftalmologistas destacam a importância das consultas regulares e de outros hábitos preventivos com a saúde da visão.
Teste do olhinho
Os cuidados começam no nascimento, com o teste do olhinho, informa o oftalmologista Gabriel Zatti Ramos, diretor clínico do Banco de Olhos de Sorocaba/Hospital Oftalmológico de Sorocaba (BOS-HOS).
O especialista também aconselha os recém-nascidos, inclusive prematuros, a passarem por avaliação ocular completa.
“É importante os pais levarem os filhos ao oftalmologista, principalmente para excluir a possibilidade de qualquer problema ocular oriundo na gestação, má formações ou problemas genéticos”.
Antes da escola
Na infância, as crianças devem passar por atendimento antes de ingressar na escola. O especialista recomenda consultas anuais, a partir de um ano de idade, quando não há doenças prévias.
Em torno dos sete anos de idade, completa-se a maturação visual, explica a oftalmologista Adriana dos Santos Forseto, coordenadora de ensino do HOS e diretora médica do BOS.
Por isso, condições não identificadas, nem tratadas precocemente, como desvio dos olhos (estrabismo) ou ametropias (miopia, hipermetropia e astigmatismo) podem ocasionar sequelas permanentes.
O diagnóstico tardio pode prejudicar a visão e afetar todos os aspectos da vida da criança, inclusive o desempenho escolar.
Problemas oculares
Atualmente, cerca de 20% das crianças em idade escolar já apresentam problemas oculares, revela o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
O acompanhamento desde cedo permite a detecção dessas condições, detalham os especialistas. Erros refrativos são corrigidos com o uso de óculos.
“A falta do uso de óculos é, hoje, a principal causa de baixa visão em crianças”, alerta Gabriel. Estrabismo pode necessitar da oclusão (tampão) do olho bom por algumas horas do dia.
Portanto, se o estímulo visual não ocorrer de maneira semelhante entre os dois olhos, quer seja com a utilização dos óculos, já na primeira infância, ou com o tratamento de um possível estrabismo, quando necessário, os distúrbios não poderão mais ser resolvidos nas fases seguintes, pontua Adriana.
“Se o problema não for identificado e corrigido a tempo, a criança não desenvolverá seu potencial de 100% da visão, fenômeno este chamado de ambliopia”, explica.
O check-up é, ainda, essencial para a identificação de doenças orgânicas mais incidentes nos primeiros anos de vida. As principais são: infecções congênitas, catarata congênita, retinopatia da prematuridade e glaucoma congênito. Estas são as maiores causadoras de perda de visão.
Miopia
O uso de aparelhos eletrônicos tende a começar na infância e se acentuar na adolescência. Nessas fases, os pais devem impor limites.
Indica-se a limitação de tempo para a utilização de celulares, tablets e computadores. Olhar diretamente, por muitas horas e de perto, para as telas eleva as chances de desenvolvimento de miopia (dificuldade para enxergar de longe), alerta o médico.
A doença é considerada a pandemia do século e, neste ano, atingirá cerca de 30% da população mundial.
Para 2050, a projeção é de 52%, estima a OMS. Portanto, o jovem deve praticar atividades ao ar livre, longe dos eletrônicos, para descansar os olhos e estimular a visão, orienta ele.
Visitas semestrais ao oftalmo
Já, a partir dos 40 anos até a terceira idade, a atenção deve ser redobrada. Nessa faixa etária, naturalmente, aumenta a incidência de disfunções oculares.
Glaucoma, retinopatia diabética, retinopatias hipertensivas, catarata e degeneração macular relacionadas à idade são algumas delas. Por esse motivo, as visitas ao oftalmologista têm quer ser semestrais, frisa o clínico.
Quanto antes descobertas e tratadas, as chances das doenças acarretarem cegueira são bastante reduzidas, especialmente a catarata, a principal causa do problema.
“Todas as doenças precocemente diagnosticadas têm melhora muito grande no resultado do tratamento e na qualidade de vida”, reforça o especialista.
Catarata e glaucoma
A catarata, especificamente, está diretamente relacionada ao envelhecimento e não pode ser facilmente prevenida, esclarece Adriana.
No entanto, é eficazmente tratada, na maioria dos casos, por uma cirurgia pouco invasiva e segura. “Um aparelho de ultrassom aspira a catarata do olho do paciente, sendo colocada uma lente no lugar. A recuperação costuma ser muito rápida. Geralmente, no dia seguinte ou em uma semana, a visão já está muito boa”, conta ela.
Já, outras disfunções, a exemplo do glaucoma, não são curáveis, mas, sim, controláveis com colírios e, por vezes, com necessidade de cirurgia. Isto é, o tratamento contínuo reduz a progressão, completa.
Não coçar os olhos
Evitar coçar os olhos, pois o hábito pode piorar doenças previamente existentes, como o ceratocone (córnea se curva para fora), além de favorecer a contaminação dos olhos. Higienizar adequadamente as mãos, antes de pingar colírios, por exemplo.
Lavar, diariamente, os cílios, com shampoo neutro ou infantil diluído em água, para eliminar as impurezas que podem entrar nos olhos, também são recomendados pelos oftalmologistas.
Pessoas com diabetes e hipertensão também devem evitar manejá-los, para prevenir que o descontrole cause danos à visão, complementa Adriana.
Devido à pandemia, a limpeza das mãos e dos olhos em si deve ser ainda maior, pois o vírus também pode contaminar pela via ocular.
Além disso, como se aloja na mucosa, a Covid-19 pode ocasionar conjuntivite, um dos sintomas menos comuns da doença, alerta Gabriel.
Outras indicações são manter uma dieta saudável, rica em antioxidantes, e usar óculos escuros com proteção UVA e UVB, na hora de se expor ao sol. (Da Redação)