Diagnóstico de esclerose tem nova técnica

Por Ana Claudia Martins

Pesquisa foi desenvolvida no campus da UFSCar Sorocaba e usa um nanobiossensor para o diagnóstico. Crédito da foto: Erick Pinheiro (8/4/2015)

Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba, desenvolveram uma técnica para diagnosticar precocemente a esclerose múltipla, que é uma doença do sistema nervoso central. Além disso, a técnica ainda permite distinguir a esclerose múltipla de outra doença, a neuromielite óptica.

O resultado da pesquisa foi divulgado recentemente em importantes revistas científicas como a Nature e a Ultramicroscopy. O estudo é coordenado pelo pesquisador Fábio de Lima Leite, do Centro de Ciências e Tecnologias para a Sustentabilidade da UFSCar, campus Sorocaba, e coordenador do Grupo de Pesquisa em Nanoneurobiofísica (GNN) da universidade.

Leite afirma que iniciou a pesquisa em nanobiossensores há mais de 10 anos, com auxílio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.

O pesquisador disse que em pessoas acometidas por esclerose múltipla e neuromielite óptica o sistema imune produz anticorpos que atacam e danificam parte da camada da bainha de mielina que envolve os neurônios e auxilia na transmissão de impulsos nervosos. Com o tempo, surgem lesões permanentes em regiões do cérebro.

A partir de um nanobiossensor originalmente desenvolvido para detectar herbicidas, metais pesados e outros poluentes, o grupo da UFSCar criou um método que permite observar a interação entre os anticorpos presentes nas amostras de pacientes depositadas em um microscópio de força atômica e os peptídeos que compõem a bainha de mielina.

O pesquisador Fábio de Lima Leite foi o coordenador do estudo. Crédito da foto: Divulgação

O equipamento utiliza para isso uma técnica, conhecida como espectrometria de força, para medir a força das interações entre essas moléculas.

“O sensor para a detecção da esclerose múltipla foi desenvolvido pelas pesquisadoras Pamela Soto Garcia, e Jéssica Cristiane Magalhães Ierich, sob orientação do coordenador da pesquisa. E o sensor para detectar a neuromielite óptica foi desenvolvido pela pesquisadora Ariana de Souza Moraes”, diz Leite.

“Com o microscópio de força atômica é possível detectar a presença de anticorpos específicos para cada uma dessas duas doenças no líquor e no soro sanguíneo. Se os anticorpos forem atraídos pelos peptídeos que depositamos no sensor durante o teste, é sinal de que o paciente tem a doença. O equipamento é muito sensível e capaz de identificar uma quantidade pequena desses anticorpos, ou seja, é capaz de diagnosticar ainda nas fases iniciais da doença”, conta Leite.

O pesquisador explica ainda que a migração da detecção de herbicidas para a identificação de anticorpos se deu principalmente por causa da atual dificuldade em diagnosticar as doenças desmielinizantes. “Geralmente, a esclerose múltipla é diagnosticada clinicamente, a partir de sintomas relatados pelo paciente e exames de ressonância magnética, que identificam lesões em determinadas áreas do cérebro”, diz.

Método mais barato e preciso

O pesquisador relata ainda que o microscópio de força atômica, além de ser mais preciso e evitar erros de diagnóstico, é um método mais barato.

Segundo ele, o microscópio de força atômica custa R$ 100 mil, já o equipamento de ressonância magnética está em torno de R$ 2 milhões.

Além disso, outra vantagem do estudo é que, quanto antes essas doenças forem diagnosticadas, mais cedo se inicia o tratamento e menor será o risco de sequelas. E como não existe cura, o diagnóstico precoce pode dar qualidade de vida e um tratamento mais adequado a esses pacientes, aponta a pesquisa.

Também são parceiros do estudo a pesquisadora Doralina Guimarães Brum, da Unesp de Botucatu; Paulo Diniz da Gama, do Instituto do Cérebro de Sorocaba; Maria Teresa Machini da Universidade de São Paulo (USP); e a empresa RheaBioetch. (Ana Cláudia Martins)