Diário de Bordo: Viajando de trem no oeste do Canadá
Viajar é, quase sempre, uma atividade gratificante. Algumas vezes, no entanto, seus efeitos são tão surpreendentes que o viajante não resiste à vontade de dividir a experiência com outras pessoas. Foi o que aconteceu com o casal Shirley e José Carlos Carneiro -- ele, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Sorocaba (AEAS) -- após uma recente incursão pelo oeste do Canadá. Além dos cenários, eles ficaram deslumbrados com a qualidade do transporte ferroviário, muito utilizado naquela região. Confira a narração de Shirlei.
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Em maio de 2019, primavera no hemisfério norte, tivemos uma experiência digna de ser compartilhada. Começamos o passeio por Nova York (EUA), durante uma semana. Seguimos para Vancouver, no Canadá, surpreendentemente espetacular pelo entendimento mundial e, para nós, certamente uma das mais belas cidades que tivemos a oportunidade de conhecer. Depois de explorarmos as belezas urbanas durante oito dias, descobrimos que precisaríamos de pelo menos mais oito para complementar a nossa vivência pela Columbia Britânica -- inclusive, queremos, futuramente, fazer um cruzeiro com destino ao Alasca.
Ressaltamos que o ápice desta viagem foi o trecho entre Vancouver e Jasper, que fizemos de trem, com a empresa The Canadian Via Rail. Partimos da simpática Pacific Central Station, passando antes pela sala VIP, onde os atenciosos funcionários servem bebidas quentes e snacks. O trem partiu pontualmente às 15h do dia 13.
A nossa reserva era para o upper and lower berth -- traduzindo, beliche --, mas, quando chegamos às acomodações, encontramos duas poltronas. Nos sentamos, temendo ter errado na reserva. Naquele momento, a expectativa era de uma viagem bem complicada, afinal de contas, teríamos de viajar sentados por mais de 20 horas. Felizmente, nos enganamos: após o jantar, quando retornamos à cabine, nossos assentos haviam se transformado em confortáveis camas, com colchões, travesseiros e edredons macios e quentes. E, ainda, sobre os travesseiros, chocolates. Eu fiquei na parte inferior e o meu marido na superior. Passamos uma noite extremamente confortável. Arriscamos afirmar que, de todos os trens em que já tivemos a oportunidade de dormir, inclusive o Transiberiano, esse foi, sem dúvida, o melhor.
Construído na Filadélfia em 1950 -- antigo, mas bem conservado --, o trem que faz o trajeto de Vancouver a Jasper é um ícone, tendo acomodado, inclusive, Marilyn Monroe em um dos seus beliches. Da mesma fábrica que construiu os carros que viajamos, a The Budd Company, surgiram também os famosos trens Luxo da EF Sorocabana e Vera Cruz/Santa Cruz da EF Central do Brasil, dos quais o nosso País infelizmente não zelou -- ao contrário do Canadá.
Nos vagões dormitórios há também acomodações em cabines, mas são mais caras. Contamos ainda com chuveiro bom e outras facilidades. Fornecem toalhas e material de higiene básica. O vagão restaurante oferece refeições saborosíssimas, servidas em grande estilo. As bebidas alcoólicas são à parte.
O vagão com teto de vidro (Vista-Dome) permite uma visão deslumbrante das montanhas com seus picos nevados e céu azul turquesa. Infelizmente, são poucos lugares, e algumas pessoas ficaram a viagem inteira sentados, sem “se lembrar” que outros passageiros também gostariam de ter esta oportunidade.
O trem atrasa algumas vezes, pois divide a linha com trens de carga. O Canadá prioriza os trens de carga, alguns deles com mais de 150 vagões. Tivemos a oportunidade de ver um destes em um passeio às montanhas rochosas, no incrível túnel em espiral.
Durante a viagem, pudemos degustar paisagens belíssimas, que jamais esqueceremos. As janelas do trem são panorâmicas e delas avistamos até mesmo alguns animais, bem próximos à via férrea: só ursos foram dois. Muito emocionante e gratificante poder, através de um trem, ver a bela natureza entre a Columbia Britânica e Alberta no Canadá.
Pontualmente às 11h do dia 14, chegamos em Jasper. Igualmente bela, é porta de entrada para as indescritíveis Montanhas Rochosas, que seguem mais de 4.800 quilômetros por todo o oeste do Canadá, até o Novo México nos Estados Unidos. Aí seria um capítulo a parte, mas, acreditem, vale a pena. (Shirley Carneiro e José Carlos Carneiro)