Segurança e eficácia de anti-inflamatórios são analisadas em estudo sobre artrite reumatoide
Essa inflamação é a mais comum, apresentando um conjunto de sintomas que prejudica a qualidade de vida e as tarefas diárias
Conviver diariamente com a dor, o desconforto e a limitação para as tarefas básicas é a realidade de pacientes que sofrem de artrite reumatoide. E, para poder suportar dores nas juntas (artralgia), rigidez matinal, inchaços, além do risco aumentado de desenvolver dano ósseo e de cartilagem irreversível, essas pessoas recorrem à medicação. Por serem tratamentos contínuos e de longo prazo, essas condutas precisam recorrentemente ser investigadas quanto à eficácia e segurança aos pacientes, como ocorreu com o trabalho que resultou na tese de doutorado da pesquisadora Mariana Del Grossi Moura, para o Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso).
Ela explica que um conjunto de mais de duzentas doenças reumáticas e osteomusculares compõem um grupo bastante diversificado de doenças que podem afetar articulações, mas também outros órgãos do corpo. Entre elas, a artrite reumatoide é a forma inflamatória mais comum e leva o paciente a apresentar um conjunto de sintomas bastante desconfortável e que prejudica a qualidade de vida e as tarefas diárias. A evolução é progressiva e limitante ao portador, e esses efeitos são incapacitantes e multifatoriais.
Usar medicação continuamente acaba sendo condição corriqueira para esses pacientes, e os anti-inflamatórios são utilizados de maneira coadjuvante nos tratamentos. Estudos apontam que a artrite acomete 1 pessoa para cada 100 habitantes no mundo. Já no Brasil, resultados de uma pesquisa de 2004 apontaram uma prevalência de 0,46%, alcançando um universo de aproximadamente um milhão de pessoas. A idade média para início dos sintomas é entre 40 e 60 anos e as mulheres são três vezes mais acometidas que os homens.
O trabalho foi focado no uso de anti-inflamatórios esteroides e não esteroides no tratamento da artrite reumatoide e apontaram “indícios da efetividade dos medicamentos naproxeno, predinisona e predinisolona e da segurança de celecoxibe como coadjuvantes do tratamento da artrite reumatoide. A pesquisadora alerta que, para maior confiança, esses achados devem ser confirmados, mas reconhece que o estudo pode beneficiar pesquisadores, gestores, prescritores, cuidadores e pacientes quanto às informações geradas.
O objetivo do estudo foi avaliar a efetividade e a segurança desses dois grupos de anti-inflamatórios por meio de uma revisão sistemática com meta-análise. As bases de dados eletrônicas pesquisadas foram: CENTRAL; MEDLINE; EMBASE, CINAHL; Web of Science; entre outras. Os ensaios clínicos randomizados que compararam os anti-inflamatórios com placebo ou controles ativos foram avaliados. Desfechos primários incluíram dor, função física, rigidez matinal, número de articulações inchadas e doloridas, força de preensão, progressão da doença por imagem radiológica e qualidade de vida. Desfechos secundários incluíram eventos adversos e sua gravidade, satisfação com o tratamento e consumo de medicamentos de resgate.
A qualidade da evidência foi aferida pelo Grading of Recommendatons Assessment, Development and Evaluaton. Meta-análises de rede foram realizadas para AINES e, dos 26 estudos selecionados, 21 reportaram o uso de AINES e 5 o uso de AIES. Naproxeno 1.000 mg melhorou a função física, reduziu a dor e o número de articulações dolorosas em comparação com o placebo (evidência de qualidade muito baixa). O etoricoxibe 90 mg, comparado ao placebo, reduziu o número de articulações dolorosas (evidência de baixa qualidade). Naproxeno 750 mg foi mais efetivo na redução do número de articulações edemaciadas quando comparado a todos os medicamentos, exceto o etoricoxibe 90 mg (evidência de qualidade muito baixa). Naproxeno 1.000 mg, etoricoxibe 90 mg e diclofenaco 150 mg foram melhores que o placebo na avaliação geral dos pacientes (evidências de qualidade muito baixa, baixa e alta, respectivamente).
A avaliação geral do médico mostrou que qualquer medicação não esteroide era melhor que o placebo, exceto celecoxibe 400 mg (evidência de qualidade muito baixa). Etoricoxibe 90 mg foi melhor que celecoxibe 400 mg (evidência de qualidade muito baixa) e naproxeno 1.000 mg (evidência de baixa qualidade). O etoricoxibe 90 mg foi o AINE com mais eventos adversos e o celecoxibe 200 mg o que apesentou menos eventos adversos, no entanto, a evidência é de qualidade muito baixa. Meta-análises não foram realizadas para AIES. Prednisolona 10 mg associada à ciclosporina reduziu a erosão articular em comparação com o metotrexato ou o uso de prednisolona com o metotrexato. Prednisona 5 mg com metotrexato reduziu o dano articular e a atividade da doença. A progressão radiográfica foi menor no grupo da prednisona 7,5 mg em comparação ao placebo. Naproxeno foi o medicamento mais efetivo e celecoxibe o que apresentou menos eventos adversos. No entanto, a baixa qualidade das evidências observadas nos resultados com AINEs, a ausência de meta-análises para avaliar os resultados com a AIES, bem como o risco de viés observado nos estudos, indicam que novos ensaios clínicos randomizados podem confirmar esses achados.
Texto elaborado com base na tese “Uso de anti-inflamatórios esteroides e não esteroides no tratamento da artrite reumatoide: revisão sistemática e meta-análise”, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Farmacêutica da Uniso, elaborada sob orientação da professora doutora Cristiane de Cássia Bergamaschi Motta e aprovada em 27 de fevereiro de 2020. Acesse: https://uniso.br/mestrado-doutorado/farmacia/teses/2020/mariana.pdf
Texto: Marcel Stefano