Dissertação defende o contato com os livros desde a infância

Pesquisadora partiu da experiência com o projeto Bebeteca, uma concepção de aproximação com a literatura advinda do México

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O contato com livros na infância pode influenciar os hábitos de leitura durante a vida

Você teve contato com livros (livros físicos, de papel) quando era criança? Tinha alguém que lesse para você, nesssa época? Houve um espaço confortável e acolhedor para você tocar em livros e ouvir suas histórias? Qualquer que seja a sua resposta, saiba que passar por essas experiências pode fazer diferença.

Esta constatação vem da dissertação de mestrado de Vanessa Aparecida Marconato Negrão. Segundo o estudo realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade de Sorocaba (Uniso), "Literatura é afeto", ou seja, quando um pai, uma mãe ou o responsável lê para um filho ou uma filha, "são mais que quinze minutos de leitura, são quinze minutos do que há de mais importante para uma criança: tempo", destaca a autora em trecho do trabalho.

A dissertação parte da experiência da autora, que trabalhou com mediação de leitura com bebês e crianças pequenas em espaços específicos para este público. O projeto, que teve início na rede de ensino municipal de Sorocaba por volta de 2014 e já foi encerrado, é o da Bebeteca, uma concepção de aproximação com a literatura advinda do México e que engloba especialmente as crianças em primeiríssima infância.

No espaço da Bebeteca, tudo é adaptado para as crianças nessa faixa etária. Há tapetes ou outras formas de proteger do chão, almofadas, móveis baixos e de forma a não oferecer risco às crianças, bem como livros adequados à idade. Neste caso, livros de plástico ou de pano são boas pedidas, sempre com ilustrações grandes e coloridas.

Segundo a autora, o contato com experiências de literatura nessa idade faz toda a diferença na formação do sujeito. Na dissertação, Negrão destaca: "A possibilidade da fruição estética da literatura na educação infantil está baseada na condição da literatura como experiência estética, quando o livro, além engendrado de materialidade, traz também a sedução das palavras, superando a codificação nele transcrita". Neste sentido, sensibilidade e criatividade podem ser despertadas a partir da leitura como experiência estética, seja na leitura, em bebetecas ou mesmo em outras manifestações artísticas ou culturais.

Cida Azevedo, designer instrucional licenciada em Letras e mãe da Alice, de 2 anos e que já adora livros, concorda: "viver a história do outro desenvolve empatia, além da possibilidade de ter contato com outras culturas, realidades, pontos de vista etc.". É fundamental, nesta idade, ter contato com essas possibilidades de estabelecer relações, conexões e comparações como forma de melhor compreender o mundo à sua volta e até a si mesmo. "No caso da infância, especialmente, esse recurso é supervalioso porque ainda não temos outros como o debate, a argumentação, a consciência crítica. Então o faz-de-conta permite que a criança vivencie tudo isso, internalize mensagens sem fugir da capacidade cognitiva que ela tem naquele momento", complementa Azevedo.

Negrão, em sua dissertação, destaca posição semelhante: "criança que ouve histórias as acomoda dentro de si, enriquecendo seu repertório cultural e elaborando sentimentos". Tudo isso tem a ver com a necessidade, não apenas individual, mas social, de se desenvolver nos seres humanos sensibilidade, empatia e responsabilidade. Negrão conclui: "as experiências das crianças da Educação Infantil com os livros despertam a sensibilidade e as ajudam a apreender o mundo de outra forma, produzindo novos sentidos, criando vínculos com a sua própria realidade e suscitando simbolismos".

E é evidente que a leitura é benéfica não apenas para as crianças, mas para todas as idades. Ler em qualquer idade estimula a criatividade e a empatia, auxilia na concentração e na produtividade e também ajuda na comunicação. Quem lê, provavelmente, tem a capacidade de adquirir mais vocabulário e perceber as melhores construções frasais, para melhorar a escrita, a fala e a habilidade de construção de diálogos.

Com base na dissertação “Se eu tivesse dinheiro comprava livros: mundos possíveis na prática da leitura em cotidianos escolares”, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação da professora doutora Alda Regina Tognini Romaguera e aprovada em 1º de fevereiro de 2021. Acesse o link.

Texto: Edison Trombeta