Dissertação da Uniso estuda tratamento alternativo para vítimas de acidentes com serpentes
Mais de 30 mil pessoas, por ano, são picadas por cobra no Brasil, em média
Mais de 30 mil pessoas, por ano, são picadas por cobra no Brasil, em média. Apenas em 2020, segundo o Ministério da Saúde, foram mais de 31 mil acidentes com serpentes, dos quais resultaram 121 mortes. Entre as principais serpentes envolvidas nestes casos, estão a jararaca (responsável por 70%) e a cascavel (aproximadamente 9%). Este número deve ser ainda maior, tendo em vista a subnotificação que envolve as principais vítimas: trabalhadores rurais e populações indígenas, especialmente na região amazônica.
A questão é tão relevante, especialmente em países tropicais como o Brasil, que há um dia no ano dedicado ao tema: 19 de setembro é o Dia Internacional de Conscientização sobre Picadas de Cobra. E a Organização Mundial da Saúde (OMS) também acompanha esses casos: até 2030, a proposta da entidade é que o número de mortes e os casos de invalidez devido a picadas de cobra sejam reduzidos em 50%.
É neste contexto que se encontra a dissertação "Influência do Ácido Tânico no Envenenamento Grave por Venenos Ofídicos de Interesse Médico no Brasil', defendida por Isadora Caruso Fontana Oliveira no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso). O trabalho foi defendido em 2021, sob a orientação da Profa. Dra. Yoko Oshima Franco.
A dissertação é um desmembramento de um projeto maior da Profa. Dra. Yoko, que já havia gerado outros trabalhos. Intitulado "Desenvolvimento e avaliação da eficácia (in vitro e in vivo) de cartucho de hemoperfusor para o tratamento de acidentes ofídicos", o projeto teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "A dissertação da Isadora foi decorrente de algumas perguntas que tínhamos de protocolos experimentais, para esclarecer projeto anterior de doutorado, que recebeu auxílio financeiro da Fapesp", destaca a orientadora.
A ideia do projeto surgiu após recomendações da OMS para que se buscasse desenvolver soluções inovadoras para os problemas relacionados ao envenenamento por serpentes. "A maior parte dos acidentes ofídicos ocorrem em zonas tropicais ou subtropicais no mundo, principalmente em zonas rurais, o que dificulta para os indivíduos acidentados recorrerem ao tratamento oficial – o soro antiofídico – ou a inexistência de soros em determinadas regiões do mundo, como no caso da África", ressalta Oliveira.
Esses pacientes acometidos pelos acidentes por envenenamento por serpentes, em geral, sofrem grandes sequelas, como amputação de membros e complicações renais. Casos mais complexos, que não recebam tratamento a tempo, podem culminar em morte. "Com isso, projeto da minha dissertação foi estudar os efeitos da hemoperfusão e do ácido tânico como tentativa de tratamento alternativo para as vítimas de acidentes com serpentes da espécie Jararaca e Cascavel, focando mais na influência renal pós esses envenenamentos e seus tratamentos", aponta a pesquisadora.
No estudo, realizado com ratos, os indivíduos foram divididos em 6 grupos: dois controles para cada tipo de veneno e dois para os tratamentos propostos inicialmente (hemoperfusão e intraperitoneal) "O mais relevante do trabalho foi a eficácia do ácido tânico para precipitar venenos, misturas complexas de proteínas. O estudo da Isadora demonstrou isso: o aumento da longevidade dos animais expostos ao veneno e recebendo, em seguida, o ácido tânico", destaca a orientadora.
Embora seja uma pesquisa básica, realizada em ratos apenas, os resultados são promissores. "A administração intraperitoneal de ácido tânico, ao retardar a longevidade, poderia ser um recurso alternativo até que o tratamento oficial recomendado, o antiveneno, possa ser aplicado", aponta Franco.
E ficam, ainda, lastros para serem explorados em pesquisas futuras, como todas as boas investigações científicas. "Acredito que os resultados que tivemos contribuíram para um melhor entendimento da técnica e do uso do ácido tânico, que futuramente poderá ser estudado mais afundo para um aprimoramento dessa alternativa", finaliza Oliveira.
Saiba mais
Hemoperfusão é uma técnica da medicina que filtra o sangue em meio fora do corpo do indivíduo com a finalidade remover alguma toxina. Assim, o sangue do paciente passa por uma máquina, na qual ele é filtrado com apoio algum composto e, depois, retorna ao paciente.
Intraperitoneal é uma inserção em uma membrana chamada peritônio. Ela é semipermeável, cobrindo os órgãos abdominais e revestindo a parede abdominal e pélvica.
O trabalho completo contém artigos científicos ainda não publicados. A divulgação pública se dará somente após a publicação dos resultados. Link da prévia.