Engenheiro cria modelo de casa com tecnologia assistiva
A casa do futuro já não é mais uma fantasia do cinema ou do desenho dos Jetsons. A automação residencial tem ganhado cada dia mais espaço, com modernos sistemas de controle de iluminação, som e de câmeras de segurança. Pelo celular, já é possível trancar a porta de casa, abrir as cortinas, molhar as plantas e até preparar o café antes mesmo de sair da cama.
Tudo isso é encantador, mas o engenheiro Renato Maragna Junior tem um objetivo mais nobre para as chamadas casas inteligentes: utilizar essas tecnologias para ajudar pessoas com Paralisia Supranuclear Progressiva, um tipo de degeneração neurológica que não tem cura e causa diversos males, como dificuldades motora e de fala, cegueira e demência, similares ao Parkinson.
Maragna Junior fez uma pesquisa profunda sobre o tema durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso). O “Estudo para Aplicação de Tecnologias Assistivas para Apoio a Pessoas com Paralisia Supranuclear Progressiva (PSP)”, apresentado em sua dissertação, foi aprovado pela banca examinadora em novembro de 2017, sob a orientação do professor doutor Waldemar Bonventi Junior.
"Durante a evolução do estudo, procurou-se estabelecer uma conexão entre as dificuldades do paciente e a utilização de tecnologias assistivas, um método de automação para residências, para que o doente e os indivíduos envolvidos pudessem ter um suporte de tais recursos e equipamentos disponíveis”, explica o pesquisador.
O trabalho apresenta um modelo de uso da tecnologia assistiva em função de cada estágio da doença. A pesquisa utiliza elementos de automação existentes no mercado nas linhas de mobilidade, fala e monitoramento. “A primeira etapa foi a de idealizar o grau de dificuldade do paciente em relação ao seu cotidiano, como comer, andar, falar e, principalmente, nos momentos de queda e possíveis engasgos com alimento líquidos e outros fluídos”, detalha o pesquisador. Na segunda etapa, com base nas filosofias de automação residencial e tecnologias assistivas, Maragna Junior apresenta um modelo desse sistema.
A doença
A Paralisia Supranuclear Progressiva é uma desordem parkinsoniana, mais comum em pessoas com Mal de Parkinson. É uma doença degenerativa e que torna o portador incapaz de exercer as atividades do dia a dia, causando grandes riscos de acidentes domésticos, como quedas, queimaduras e sufocamentos. “Com o avanço da doença, a pessoa perde a capacidade de ficar sozinha e deve ser assistida o tempo todo. A utilização de Tecnologias Assistivas pode auxiliar na supervisão desse paciente, porém, não substitui o cuidador, ficando o uso da automação para apoio no cotidiano do doente”, frisa Maragna Junior.
Com o avanço da PSP, a fala do paciente fica mais difícil de ser compreendida e a junção fonética das palavras perde suas características. “Nesse momento, o uso de um elemento reconhecedor de voz, com padrões pré-definidos de fala, poderá auxiliar na supervisão dessa pessoa. O portador de PSP perde a capacidade gritar, falar em voz alta, tornando-o incapaz de pedir socorro. Os sons emitidos, então, quando padronizados e registrados em um reconhecedor de voz, podem fazer o papel de pedir socorro", explica o pesquisador.
Outro problema muito comum é a dificuldade de locomoção, que causa quedas frequentes no paciente. “Nesse caso, o uso associado de um acelerômetro com sensores de presença pode fazer a supervisão do portador de PSP”, diz.
Tecnologias assistivas
A tecnologia assistiva é um termo ainda novo, utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência. O objetivo dessa tecnologia é promover vida independente e inclusão.
O desenvolvimento do projeto de Maragna Junior se faz com a integração de diversos subsistemas que se comunicam por meio de uma unidade de processamento central. Como nem sempre é fácil adaptar uma casa comum com cabos para integrar o sistema, o projeto utiliza o padrão Bluetooth. “A escolha de quais sensores devem ficar em cada ambiente depende do estudo da rotina do paciente”, explica.
Segundo Maragna Junior, o sucesso do funcionamento da automação residencial depende da instalação correta dos elementos, da fonte de energia, dos dispositivos de proteção, dos habitantes do local e das necessidades de reforma. “O entendimento da expectativa dos usuários deve ser equalizado, a fim de que o projeto seja o mais customizado possível", ressalta. O projeto ainda permite alterações e expansões conforme a doença avança.
"A implementação deste projeto traz condição de segurança e de supervisão ao paciente, porém não dispensa a presença do cuidador. A ideia é trazer o mesmo conceito de automação industrial aplicada à supervisão dos equipamentos e das pessoas. Os envolvidos devem ser treinados para entenderem o funcionamento do sistema e seus objetivos, bem como identificar seus alarmes. Deve haver um responsável técnico para prover suporte ao funcionamento correto ao projeto que deve ocorrer em dois atos, monitoramento local e remoto, o que abre uma possibilidade de negócio para esse projeto além da venda do produto”, explica.
Maragna Junior ressalta na conclusão do seu estudo que o projeto foi aplicado para uma enfermidade, mas pode ser ajustado a outros tipos de doenças. “Uma boa automação residencial nasce de um bom projeto, em que todas as necessidades são consideradas e avaliadas para propor a melhor solução”, ressalta.
Texto elaborado com base na dissertação “Estudo para Aplicação de Tecnologias Assistivas para apoio a pessoas com Paralisia Supranuclear Progressiva (PSP)”, do Programa de Pós-Graduação em Processos Tecnológicos e Ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação do professor doutor Waldemar Bonventi Junior e aprovada em 13 de novembro de 2017. Acesse a pesquisa: http://pta.uniso.br/documentos/discentes/2017/renato-maragna.pdf.
Reportagem: Marcel Stefano