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Tempos diferentes

Ademir de Barros, o Paraná, conta histórias de 1966 para estudantes

Antigamente, a questão do racismo não era tão percebida como atualmente, e brincadeiras com os jogadores negros eram comuns

18 de Novembro de 2022 às 00:01
Ana Claudia Martins [email protected]
Ex-atleta contou que a questão do racismo não era tão percebida como hoje
Ex-atleta contou que a questão do racismo não era tão percebida como hoje (Crédito: FÁBIO ROGÉRIO (17/11/2022))

O Dia da Consciência Negra, que é celebrado neste domingo (20), foi comemorado ontem (17) pelos alunos da escola estadual Nazira Nagib Jorge Murad Rodrigues, no bairro dos Morros, em Sorocaba, com uma visita especial do sorocabano que jogou na Copa do Mundo de 1966: Ademir de Barros, o Paraná. Ele falou sobre sua experiência na Copa do Mundo ao lado de Pelé.

Paraná contou aos estudantes que antigamente a questão do racismo não era tão percebida como atualmente, e que brincadeiras eram feitas com os jogadores negros, chamando-os de “macacos”, por exemplo. “Tinha um tom mais de brincadeira e não de maldade. Porém, na minha época era diferente. É importante falar sobre o tema para que haja respeito, sem maldade. Falar com os alunos sobre a importância da data e sobre a Copa do Mundo foi uma alegria”, disse.

Ele lembrou de episódios da época. “Na Suécia, as moças passavam a mão no rosto das pessoas de cor para ver se saía tinta, e a gente não ficava bravo. Agora mudou tudo. E na África do Sul, o pessoal foi falar para o time do Santos jogar lá, mas que o único ‘crioulo’ que poderia ir era o Pelé. Daí o Pelé se reuniu com eles e disse que então não haveria jogo e foi toda aquela negrada do Santos”, afirma Paraná.

Ele disse ainda que tinha um amigo que só o chamava de “macaco”. “Se ele fosse vivo, ainda estaria preso, porque ele só me chamava de macaco”, conta. Perguntado se o Brasil será hexacampeão, Paraná disse: “vamos ver, né? Vamos torcer para que ganhe”.

Na legislação brasileira, os casos de racismo estão previstos na lei 7.716/1989, que foi elaborada para regulamentar a punição de crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

Consciência Negra

Decorada com as cores verde e amarela da seleção brasileira, as paredes da escola também deram espaço para painéis que lembram a importância do Dia da Consciência Negra, um símbolo contra o racismo. Na escola, as professoras relatam que o tema é tratado todo ano para lembrar da importância do respeito entre as pessoas, independente de sua cor, raça ou credo religioso. “Acima de tudo temos que ter respeito uns pelos outros”, afirma a diretora Nádia Cristine Sandoval. Ela conta ainda que as professoras, neste ano, deram destaque para os jogadores negros que fizeram história na seleção brasileira, como Pelé, Neymar e outros, e também para as funcionárias negras que trabalham na unidade escolar.

Já a professora de Língua Portuguesa e Artes, Maria Penha Cometti, disse que neste ano o projeto da escola é chamado de “Trilha antiracista”, e que o uniu à Copa do Mundo 2022, com cada sala de aula trabalhando um país e seleção que estará participando do mundial, além da homenagem a Paraná. “Fizemos também um painel com fotos das crianças e funcionárias negras da escola como forma de empoderamento da beleza negra na sociedade contemporânea”, afirma Penha.

Para os estudantes, o Dia da Consciência Negra será lembrado com muita emoção pela visita do ex-jogador e pela coincidência da data com o início da Copa do Mundo 2022, no Catar. João Henrique Antunes de Moraes, de 10 anos, disse que gosta de futebol e pretende ver todos os jogos da Copa. “Gostei de conhecer o Paraná”, conta. Júlia Victória, da mesma idade, afirma que é importante falar na escola sobre racismo para que todos aprendam a respeitar os colegas. (Ana Claudia Martins)