Cidades da RMS estão em situação de seca
Todas as 27 cidades enfrentam a falta de chuva. O problema é grave em 18 delas e um pouco mais branda em nove
As 27 cidades da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) estão em situação de seca moderada ou severa. A situação é grave em 18 delas e um pouco mais branda em nove. Em todo o Brasil, 3.157 municípios enfrentam algum nível de seca, entre fraca, moderada, severa e extrema. O número representa mais da metade das 5.570 cidades brasileiras. Os dados são do Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil, estudo realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao governo federal. O boletim refere-se a junho de 2024 e é o mais recente.
Segundo o relatório, a crise é severa em Alambari, Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Boituva, Capela do Alto, Cerquilho, Cesário Lange, Itu, Jumirim, Mairinque, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, Sarapuí, Sorocaba, Tatuí e Tietê. Em Ibiúna, Iperó, Itapetininga, Piedade, Pilar do Sul, São Miguel Arcanjo, São Roque, Tapiraí e Votorantim, o cenário é moderado.
No País, o número de cidades classificadas como seca severa subiu 783,3% entre maio e junho, passando de 12 para 106. Além disso, municípios com falta de chuvas extremas triplicaram no período analisado, subindo de 227 para 918 (alta de 304,4%). Com isso, 1.024 cidades brasileiras vivem nessas situações — 1/5 do total. A quantidade é 23 vezes maior em comparação com o mesmo mês de 2023, quando 45 enfrentavam esses dois níveis do problema. Outras 954 convivem, atualmente, com crise fraca e 1.179, moderada.
De acordo com o boletim, todos os municípios com seca extrema ficam em São Paulo e no sul de Minas Gerais. O monitoramento considera três aspectos para apresentar os resultados. São eles: acumulado de chuva em relação à média histórica, umidade do solo e índice de saúde da vegetação.
Mudanças climáticas e El Niño
Marcelo Zeri, pesquisador do Cemaden, informa que a seca deste ano é uma consequência da falta de chuvas de 2023, causada pelo El Niño e caracteriza-se pelo aquecimento anormal e constante da superfície do Oceano Pacífico na linha do Equador. Com isso, o clima fica mais quente e menos chuvoso.
Segundo Zeri, o fenômeno afetou mais as regiões Norte e Centro-Oeste, mas também interferiu um pouco no Sul e no Sudeste. Consequentemente, houve um outono com temperaturas mais altas e chuvas abaixo da média histórica nessas partes do Brasil. “Ele causou um bloqueio atmosférico que impede as frentes frias de chegarem aqui”.
Por causa desse aquecimento, de acordo com o pesquisador, a sessão chuvosa terminou de maneira prematura. No Sudeste do País, detalha ele, ela começa em dezembro e termina em março, mas janeiro e fevereiro já tiveram volume menor. “Então, a gente veio de uma seca e não conseguiu recuperar essa água nessa última sessão chuvosa e isso se arrastou pelos últimos seis meses”, aponta.
Ainda conforme Zeri, as mudanças climáticas também agravam o quadro, pois geram eventos extremos de forma mais frequente e intensa.
Desabastecimento não está descartado
Para William Dantas Vichete, professor do departamento de engenharia ambiental da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Sorocaba, o maior problema para a região de Sorocaba deve ser a falta de água. Segundo ele, a estação mais úmida na região é o verão. Por isso, as chuvas dessa época são importantes para garantir o abastecimento das cidades durante quase o ano todo. “Os reservatórios enchem e grande parte desse enchimento é armazenado para uma posterior utilização no inverno, que é o período seco usual”, detalha.
De acordo com Vichete, o último verão teve média abaixo da habitual. E, se isso se repetir quando as chuvas geralmente recomeçam, em outubro, alguns municípios podem sofrer com desabastecimento. Vichete diz que a preocupação é maior com aqueles onde já há escassez do recurso natural frequentemente, como Salto e Itu.
Conforme o especialista em escassez hídrica, extremos climáticos e cheias urbanas, o volume dos reservatórios dessas cidades cai cada vez mais, por conta do consumo diário. Ao mesmo tempo, as precipitações não são suficientes para repor a água retirada, o que dificulta a formação de estoque. Consequentemente, existe a possibilidade de crise hídrica. “Nós temos uma situação de alerta, não é nem de atenção”, informa o pesquisador.
Barragem do Piraí
Para tentar contornar as dificuldades de fornecimento, Cabreúva, Indaiatuba, Itu e Salto — integrantes do Consórcio Intermunicipal do Ribeirão Piraí (Conirpi) — anunciaram a construção da barragem do Piraí. A represa terá capacidade de represamento de mais de 9,7 bilhões de litros de água. A iniciativa visa levar água para cerca de 700 mil pessoas mesmo nos períodos de estiagem.
As cidades envolvidas assinaram o acordo para a instalação do reservatório em novembro de 2023. As obras serão realizadas em duas etapas e não há prazo para conclusão. O investimento total é de R$ 227 milhões. (V.C.)
Monitoramento de Secas (Cemaden) Em amarelo: Risco moderado Em vermelho: Risco severo. (crédito: JCS)
Há impactos sociais e socioeconômicos
Marcelo Zeri, pesquisador do Cemanden, aponta que os períodos sem chuva prejudicam, sobretudo, a agricultura. É a chamada seca agrícola. “Se o produtor tem plantios nessa época, pode ter um impacto, uma perda na produtividade”. A situação ainda pode causar falta de água; abala a saúde, devido à baixa umidade do ar; e aumenta os riscos de incêndios. Impactos sociais e socioeconômicos, como a perda de renda por parte de agricultores afetados, são outra consequência. (V.C.)
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