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Nelson Fonseca Neto

O que fazer?

28 de Novembro de 2024 às 22:48
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Acontecem umas coisas doidas com a gente. Sempre que recebo no semáforo uma propaganda de condomínio fechado lembro que passei minha infância e adolescência numa cidade com poucos empreendimentos desse tipo. A cidade em questão é Sorocaba mesmo.

Até que já tinha bastante prédio, mas condomínio de casa, quase nada. Eu não estou aqui pra chorar as pitangas dizendo que antigamente tudo era melhor. Algumas coisas eram melhores mesmo, não adianta bancar o descolado. Mas teve coisa boa aparecendo de lá pra cá. Um dia eu escrevo mais a respeito.

Mas voltando aos condomínios fechados: não precisa ser um gênio pra saber que a vida da cidade muda drasticamente quando os condomínios passam a dominar a paisagem. O calibre das minhas análises é modesto pra tentar dar conta do fenômeno, e é por isso que eu me contento com algumas reminiscências e observações rasas.

Meus alunos são adolescentes e não tem como não ouvir os papos que rolam nas escolas. Muitas dessas conversas têm a ver com o que fazer no fim de semana ou na véspera de feriado. Vou ouvindo a moçada empolgada e pensando: como era diferente na minha época!

A cidade era bem menor, tinha pouco condomínio, era uma ou outra boate, os bares fechavam cedo. Sobrava o que pra nossa turma? Os bailinhos.

Não dava pra fazer bailinho toda semana, e aqui a memória falha um pouco. Acho que era um bailinho por mês, às sextas-feiras. Nas outras semanas a gente se virava em casa mesmo, sem muitas pirotecnias. Pelo menos era assim que a banda tocava lá em casa e na casa dos meus amigos. Não havia celular, TV a cabo. Os games eram bem mais toscos, repetitivos, e chegava uma hora em que a gente ia caçar o que fazer.

Longe de mim glamourizar aquela época. A gente precisa tomar cuidado com as reminiscências. É tendência nossa editar aquele material e só trazer à tona os momentos perfumados. Eu já falei aqui mais de uma vez que amo os filmes dos anos 80 e que conheço muitos deles de cor. Não é por conta da minha memória privilegiada. Simplesmente a gente não tinha muito pra onde correr. Não tinha streaming, então a gente ia a uma locadora de filmes. Mas não dava pra fazer isso o tempo todo. Era mais um programa pro fim de semana.

Sou muito grato às locadoras da minha vida, mas, aqui, tenho de separar bem as coisas. Quando eu era adolescente e adulto jovem, as locadoras já tinham dado um salto. Elas estavam bem fornidas, algo que não acontecia na minha infância. Lembro bem, quando eu tinha uns doze anos, de ter decorado os filmes que estavam nas prateleiras das locadoras que frequentávamos. Agora deu pra entender o motivo pelo qual eu praticamente decorei as falas do “Robocop”?

Não termos muitas opções de lazer trazia uma consequência clara para a turma que ia aos bailinhos:  cada festinha era aproveitada como se fosse a última. Eu ouço a respeito das baladas de hoje e penso:  como éramos purinhos! Alguém poderia dizer que balada é pro povo mais velho, maior de idade. Então, se você pensa assim, ou não convive com adolescentes ou não está enxergando muito bem o que está acontecendo bem diante do seu nariz.

Gaste um tempo pesquisando a respeito das músicas românticas dos anos 80. Era aquilo ali que embalava nossos fracassos e sucessos amorosos. Resgate uma foto daquelas festinhas. Gelzinho, calça com cintura alta, camisa abotoada até o pescoço. A gente se entupia de salgadinhos e refrigerante. A gente fazia umas brincadeiras bocós. Pelo menos era assim com a minha turma.

Dei sorte.