Cinema
Filme de Tarkovsky é a atração de hoje no Cult nas Quartas
"Stalker" é inspirado em livro dos irmãos Strugatski, que transposto para o cinema, aproveita linguagem das imagens

Em um país não nomeado, a suposta queda de um meteorito criou uma área com propriedades estranhas, onde as leis da física e da geografia não se aplicam, chamada de Zona. Dentro da Zona, segundo reza uma lenda local, existe um quarto onde todos os desejos são realizados.
Com medo de uma invasão da população em busca do tal quarto, autoridades vigiam o local e proíbem a entrada de pessoas. Apenas alguns têm a habilidade de entrar e conseguir sobreviver lá dentro, são os ‘Stalkers‘. Um escritor e um cientista querem entrar e contratam um stalker para guiá-los lá dentro. No caminho até o quarto, vão passar por rotas misteriosas e muitas vezes, mutáveis.
Esta é a sinopse de “Stalker”, produção soviética de 1979, dirigida por Andrei Tarkovsky, atração de hoje (23) do “Cult nas Quartas”, a partir das 19h, na estação Paula Souza, com entrada gratuita a todos os interessados.
Segundo filme de ficção científica do soviético Andrei Tarkovsky após “Solaris” (1972), está conectado tanto com o passado quanto futuro: com a misteriosa explosão em Tunguska, Sibéria, em 1908, e com o acidente nuclear de Chernobyl em 1986, cujo argumento do filme foi estranhamente profético. Um stalker (guia ilegal) conduz um cientista e um escritor para “A Zona” região misteriosa desértica e em ruínas (lá teria caído um asteroide ou nave alienígena) cercada por forte aparato policial.
Nessa zona proibida existiriam estranhos poderes capazes de realizar os desejos mais recônditos de quem sobrevivesse a suas armadilhas mortais. Para Tarkovsky, “A Zona” seria o microcosmo da própria vida: Ciência, Arte e Religião se confrontam em uma batalha niilista para ver quem herdará o que restou da sociedade moderna mesmo depois do fim, a ilusão, a fé vulgarizada e oportunismo lutam entre si.
Inspirando-se no livro escrito pelos irmãos Strugatski, “Piquenique à Beira da Estrada”, transpõe para o cinema muitos conceitos, aproveitando a linguagem das imagens para criar um ambiente original e propício para o desenrolar da história. Esta se dá através da passagem de três personagens, Professor, Escritor e Stalker pela Zona, uma parte do mundo que interage com as pessoas que nela estão, muda de acordo com elas e realiza os desejos íntimos delas. O termo stalker, de acordo com a obra dos irmãos Strugatski, seria uma pessoa que rouba objetos da Zona para revendê-los depois, um intruso, que vive às custas daquele ambiente
O diretor também utiliza alguns elementos simbólicos para marcar alguns pontos da narrativa, como a passagem dos trens e a ida para a Zona em um vagão, o que por si só já denota uma mudança de fases. Em outros pontos, utiliza contrastes entre luz e sombras para marcar dúvidas em relação à vida e sentimento de angústia, muito frequente no início, em que os personagens estavam inseridos nesta sociedade opressiva. Tudo contrasta com o momento em que encontram a Zona, com suas paisagens vastas e inabitadas, transmitindo uma sensação de liberdade, misturada à curiosidade em relação ao desconhecido.
O projeto “Cult nas Quartas” tem curadoria de Cleiner Micceno, com sessões gratuitas às 19h, na Estação Paula Souza, localizada na rua Paula Souza, 420, região central de Sorocaba. (Da Redação)