Respiro de vida
Palmeirense com leucemia vence a doença após conhecer o Allianz Parque e o ídolo Dudu
O futebol acontece dentro das quatro linhas, mas o sentimento que o envolve ultrapassa qualquer limite imposto pelas regras. Ver o time jogar mexe com a emoção de cada torcedor e a conexão é tão forte, que pode até se tornar um respiro de vida. Teodoro Mantovani Pedroso Teixeira, um palmeirense sorocabano de seis anos, é prova do que a paixão e o amor pelo Verdão são capazes de fazer. Com leucemia e um diagnóstico complicado, o pequeno foi até o Allianz Parque e, após entrar no gramado e conhecer grandes ídolos, como Dudu, um tempo depois teve uma melhora significativa no tratamento. “O Palmeiras se tornou um símbolo de esperança e celebração da vida para gente”, conta a mãe do pequeno Teo, como é carinhosamente chamado.
Após receber essa injeção de ânimo dos palestrinos, um ano e cinco meses depois, Teo bateu o sino no Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci) de Sorocaba, em novembro do ano passado, simbolizando a vitória na família. Hoje, o sorocabano está na fase de remissão do câncer, por isso ainda tem que tomar alguns cuidados pelos próximos anos.
Mas as precauções são consideradas “mínimas”, perto de tudo que a família passou desde a descoberta da doença, em 2022. Em uma consulta para averiguar a febre de Teo, Nathália Mantovani Molina Pedroso e o pai Thiago Fernando Pedroso Teixeira saíram do hospital com o diagnóstico de leucemia e tão logo o filho foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), passou a receber transfusões de sangue e plaquetas, pois as taxas eram bem baixas.
“Nunca vou me esquecer de quando o médico disse ‘mãe, eu vou tentar salvar a vida do seu filho, mas não prometo que isso aconteça’, então aquilo foi bem impactante”, relembra a arquiteta de 29 anos.
Foram cinco dias intensivos no hospital até que iniciou o tratamento no Gpaci, referência para esse tipo de procedimento no interior paulista. Dividido em três etapas, foi justamente entre a segunda e a terceira que o Palmeiras entrou. “A gente precisava chegar a uma certa quantidade de leucócitos, que é o que determina a imunidade para ele ir para a manutenção e nada de subir. Nesse período o Teo viu um jogo do Palmeiras no Allianz pela televisão e pediu pra ir”, conta a mãe.
Além de conhecer o estádio do time do coração, o garoto tinha outro desejo curioso: andar de ônibus. Naquela semana a consulta ocorreu na quinta-feira e, no sábado, o Palmeiras jogaria em casa. Seria a oportunidade perfeita para o Teo realizar o sonho dele, ainda mais faltando poucos dias para completar seu quinto aniversário, se não fossem os exames em índices baixos.
Nathália falou sobre a situação com o filho, que caiu um lágrimas. Mas a médica disse que poderia ir — mesmo com todos os pontos proibidos em relação a aglomeração e alimentação fora de casa e ainda profetizou: “esse menino vai estar bom na segunda-feira”.
“Fomos então, mas com o coração na mão. Pegamos o ônibus, fomos almoçar e o Thiago colocou no X (antigo Twitter) que se os jogadores vissem poderiam dar oi pro Teo e tudo mais”, complementou a mãe. O que poderia ser apenas um entre tantos tuítes, chegou ao conhecimento de um dos idealizadores do Palmeiras Cast, gerando mais de 360 mil interações.
A história de Teo chegou então até a equipe interna do clube paulista, que entrou em contato com a família, perguntando se o torcedor gostaria de entrar no campo. Por ser um pouco acanhado, preferiu a arquibancada. Mas só foi ver a dimensão do Allianz, os mascotes e o gramado que a ideia mudou rapidinho.
Ele então desceu sem os pais para o palco principal, mas de mãos dadas com o Dudu, ponta-esquerda na época, e também teve várias interações com o mascote Porco Gobbato e demais atletas do elenco de 2023.
A experiência foi fantástica e, na segunda-feira, uma surpresa para a família. O que não subia de jeito nenhum, deu um salto exponencial. Os leucócitos estavam em mais de 3.500, 300 células/mm³ a mais do mínimo. “Depois disso nunca mais desconfio de um médico”, relembra Nathália. “Os médicos dizem que a criança não pode estar deprimida, elas precisam estar felizes e alegres para que o tratamento funcione. E tudo o que aconteceu com ele, mais do que prova essa tese”, complementa.
Com a melhora, uma etapa muito esperada foi alcançada no dia 6 de novembro do ano passado: bater o sino no Gpaci. O momento foi acompanhado por familiares e membros da Mancha Verde Sorocaba, a qual o grande Teo conheceu no ano anterior.
Um pouco antes, em julho, a família retornou ao Allianz e pôde reviver e criar novas experiências. Agora, com o ciclo fechado, ou seja, com as quimioterapias finalizadas, a intenção é retornar ao estádio do eterno Palestra Itália para celebrar mais essa etapa.
Para além do futebol
Para a família, ser palmeirense significa muito mais do que apenas torcer por um bom futebol. Após tudo o que aconteceu com Teo, isso se transformou em uma paixão que representa amor, união e família. Eles foram acolhidos, tanto pela família Palmeiras, quanto pela torcida Mancha de Sorocaba, o que foi fundamental durante o tratamento. Essa experiência trouxe alegria e um sentimento de normalidade, especialmente em um momento em que ele estava lidando com a doença.
O Palmeiras se tornou um símbolo de esperança e celebração da vida para a família. Ainda segundo a arquiteta, o acolhimento que recebeu durante os momentos difíceis do tratamento foi crucial, proporcionando um ambiente de felicidade e apoio, contrastando com a realidade pesada que enfrentaram no hospital.
A gratidão é tanta que o alviverde faz parte da decoração da família. Quando a reportagem foi conhecer o pequeno Teo, notou-se que o Palmeiras não é apenas o time do coração, mas a cor principal usada na casa e eventos familiares. O chá revelação do Antonio, irmão de Teo, foi com o tema do time da Barra Funda. “Faz parte da nossa história, sempre seremos gratos”, finaliza Nathália.
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