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Superação

‘O jiu-jítsu é para todos’

Com apenas um braço, Valdir Xavier coloca Sorocaba no topo da modalidade e hoje coleciona mais de 50 medalhas

12 de Abril de 2025 às 19:00
Atleta é faixa marrom e, recentemente, foi campeão do Arnold Sports Festival, um dos maiores eventos multiesportivos da América Latina
Atleta é faixa marrom e, recentemente, foi campeão do Arnold Sports Festival, um dos maiores eventos multiesportivos da América Latina (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Valdir Xavier de Camargo não é apenas um atleta. É símbolo de superação, força e fé. Natural de Sorocaba, ele carrega no corpo uma marca que mudou sua vida para sempre — a perda total dos movimentos do braço esquerdo, consequência de um acidente de moto que lhe causou uma lesão no plexo braquial. Mas foi justamente essa dor que deu início a uma das trajetórias mais impressionantes do jiu-jítsu brasileiro.

Hoje em dia, Valdir é faixa marrom com primeiro grau, dono de mais de 50 medalhas e uma coleção de títulos importantes no currículo: campeão mundial Nogi, vice-campeão paulista e, recentemente, campeão do Arnold Sports Festival, um dos maiores eventos multiesportivos da América Latina.

Mas o que é ser um Parajiu, como ele mesmo se define? “Parajiu é uma pessoa com deficiência física. No meu caso, a limitação de um braço. Sou um PcD e, mesmo assim, venho mostrando que o jiu-jítsu é para todos”, conta, com orgulho.

A paixão pelo tatame surgiu de forma despretensiosa ao acompanhar os filhos nas primeiras aulas. “Levei eles para conhecer e acabei fazendo a minha primeira aula junto. Me apaixonei ali mesmo. Hoje, eles seguem firme no esporte e eu também”, lembra.

Desde então, Valdir passou a competir em opens, paulistas e mundiais, sempre levando a bandeira de Sorocaba ao lugar mais alto do pódio. E mais: sempre contra atletas sem deficiência.

Além da carreira como atleta, Valdir também é instrutor em um projeto social que atende cerca de 60 crianças e jovens em Sorocaba. O foco vai além do esporte: ali, o jiu-jítsu é ferramenta de transformação social. “Exigimos boletim escolar e acompanhamento. Muitos chegaram bagunceiros, hoje são exemplos em casa e na escola. As notas melhoraram, o comportamento mudou. O esporte salva”, afirma.

O projeto é tocado ao lado do mestre Luciano Ricardo Custódio, faixa preta 3º dan e também PcD — ele tem apenas 3% da visão. Mesmo com a limitação, Luciano também coleciona títulos expressivos, como campeão paulista e campeão do Arnold.

Sem apoio governamental, os dois mantêm o projeto na base da força de vontade, fé e união. “A gente se ajuda como pode. Não é porque é gratuito que não tem qualidade. Pelo contrário: nossas crianças voltam dos campeonatos com medalhas no peito e brilho nos olhos”, diz Valdir.

Mas o jiu-jítsu não é a única arte marcial no repertório deste guerreiro. Valdir também é faixa preta 1º dan em hapkido, arte coreana voltada à defesa pessoal.

Com mais de 50 medalhas conquistadas e a faixa preta no horizonte, ele segue no tatame com um propósito claro: “Mostrar que limite quem coloca é a cabeça. Deus nos guia e o esporte nos transforma. Sou grato por tudo que vivi até aqui e por tudo que ainda está por vir”.

Sorocaba, o Brasil — e agora o mundo — já conhecem a força de Valdir Xavier, o guerreiro de um braço só que luta com o coração inteiro. (João Frizo - programa de estágio)