Perigo
Pai de menina vítima de ‘desafio’ cobra punição
No ano passado, 56 crianças morreram devido a tais desafios na internet

Cássio Maurílio, pai de Sarah Raíssa Pereira de Castro, menina de oito anos que morreu no domingo (13), após inalar desodorante, instigada por um desafio na internet, e morrer vítima de parada cardíaca, cobrou a punição de quem lançou o desafio na internet e que os desodorantes passem a conter um alerta de perigo.
Em entrevista à GloboNews, a secretária Direitos Digitais do Ministério da Justiça, Lilian Melo, disse que 56 crianças morreram no ano passado por conta de tais desafios.
“Essas plataformas que estão aí, cheias de crianças assistindo, não têm nenhum filtro... por que não têm nenhum filtro?”, questionou, após o sepultamento da filha no cemitério de Taguatinga, no Distrito Federal, na segunda-feira, (14). “A criança é criança, é fácil de ser manipulada. Não importa qual rede social, qual plataforma foi. A regulamentação tem que valer para todas”, afirmou Maurílio.
“Eu só peço que a mídia, que é a voz dos desamparados, não deixe (o crime contra) minha filha ficar impune, porque ela não foi a primeira e não vai ser a última, se ficar todo mundo calado. Eu só quero justiça”, continuou o pai da menina, emocionado.
Segundo Maurílio, a filha queria ser médica. “Falei para ela que tinha que estudar, pra ganhar dinheiro e ser alguém, e ela falou que não queria dinheiro, que queria ser médica para salvar vidas”, relembrou. “Olha o que fizeram com uma pessoa que queria salvar vidas”, lamentou.
Kelly Luane, tia de Sarah, cobrou providências do governo para evitar a disseminação dos desafios na internet: “Quero que o governo converse com as plataformas, porque se você entrar no seu celular e colocar ‘desafio do desodorante’, você pode escolher a qual quer assistir. Tem um monte, e uma criança não vê o perigo disso. E que aquele usuário que postou o vídeo fazendo esse desafio seja punido, porque assassinou uma criança”, lamentou.
Especialistas
Especialistas ouvidos pelo Estadão defendem a necessidade de punições severas tanto para quem propõe e divulga esse tipo de conteúdo quanto das plataformas, que também podem responder criminalmente por não fiscalizar e vetar na urgência exigida. A ausência de punição efetiva, inclusive, tem o efeito colateral de legitimar, por inércia, a repetição de tragédias.
Alexander Coelho, sócio do Godke Advogados e especialista em direito digital e proteção de dados, afirma que o desafio do desodorante, por exemplo, envolve condutas com evidente risco à integridade física, especialmente quando dirigido a menores.
“Esses conteúdos deveriam ser tratados com a mesma severidade que se aplica à incitação ao suicídio ou à automutilação. No entanto, estamos atrasados em criar um marco legal que dê conta dessa nova realidade digital”, afirma ele. (Estadão Conteúdo)