Sorocaba
Segunda maior dívida de aluguel da Americanas é com o Iguatemi Esplanada
Varejista tem uma pendência de R$ 1,6 milhão com o shopping e comunicou que os aluguéis devidos não serão pagos
Os shoppings que possuem lojas físicas da Americanas receberam uma notificação de que os aluguéis devidos até a data do deferimento do pedido de recuperação judicial, em 19 de janeiro, não serão pagos, por conta da suspensão de cobranças conferido pela recuperação judicial. A varejista possui uma pendência de R$ 1,6 milhão com o shopping Iguatemi Esplanada, considerada a segunda maior dívida de aluguel da Americanas. Se somada aos R$ 741 mil com o Shopping Iguatemi de São Paulo, a dívida chega a R$ 2,364 milhões.
Na lista entregue à Justiça, os dez maiores shoppings credores concentram quase 80% das pendências da Americanas com o setor. A maior dívida da varejista, de R$ 2,6 milhões, é com o Shopping Pantanal, de Cuiabá (MT), do grupo Ancar. Em terceiro lugar está o Grupo AD, com R$ 2,103 milhões a haver, referente aos shoppings Penha (R$ 1,170 milhão), ABC (R$ 660 mil) e Praça da Moça em Diadema, São Paulo (R$ 273 mil).
No total, a Americanas deve R$ 11,6 milhões aos shoppings espalhados pelo País. São cerca de 90 credores de shopping centers. Os valores não estão discriminados pelo tipo de despesas, mas, provavelmente, se referem a aluguéis e condomínios.
O comunicado da varejista sobre o não pagamento dos valores em aberto é assinado pelo coordenador jurídico da Americanas, Bernardo Mesquita Costa. O informe destaca que o eventual pagamento do aluguel até o dia 19 de janeiro ‘implicaria em prática de favorecimento de credor‘. O comunicado ressalta ainda que os créditos anteriores ao pedido de recuperação estão com sua exigibilidade suspensa. Já os pagamentos cuja competência compreende o período de 20 a 31 de janeiro de 2023 serão realizados ao longo deste mês.
A reportagem do jornal Cruzeiro do Sul questionou a Rede Iguatemi sobre a dívida e se há negociação em andamento. Em nota, o Iguatemi afirma que os aluguéis pagos pela Americanas representam menos de 1% do faturamento total da rede, que conta com um portfólio sólido e diversificado em todas as praças de atuação.
Para o presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Glauco Humai, o rombo da varejista é um alerta para que os shoppings busquem diversificar o mix de lojistas e assim, diluir os riscos. “O setor não pode ficar refém de uma pequena base de varejistas”, disse. Ele afirma também que está monitorando o caso e o impacto no setor.
Bradesco diz que pode ter dado crédito demais
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, disse que, diante da alta dos juros e da inflação no ano passado, os calotes subiram rapidamente. “Chegamos na pandemia a uma taxa de juros que não condizia com o País”, disse. “Em função disso, talvez tenhamos concedido mais crédito do que deveríamos”.
No ano passado, o Bradesco teve lucro de R$ 20,7 bilhões, uma queda de 21,1% em relação a 2021, explicada principalmente pelos provisionamentos contra a inadimplência, incluindo as possíveis perdas com a Americanas. “Provisionamos integralmente a exposição de um cliente de atacado. Provisionamos no quarto trimestre de 2022 por governança, embora o evento tenha sido posterior”, afirmou Lazari.
Por sigilo bancário, os bancos não têm citado nominalmente a varejista.
De acordo com o executivo, o banco revisitou o apetite de risco, o que deve reduzir as provisões contra a inadimplência no segundo semestre deste ano. “O principal aumento em 2023 virá do aumento das provisões”, comentou ele. O presidente do Bradesco afirmou ainda que no atacado, não deve haver um crescimento forte nas provisões, mas sim menores reversões de provisão em lucro: ‘Deveríamos ter restringido o apetite antes. De todo modo é um aprendizado”.
Segundo ele, o banco já reduziu de forma relevante a tomada de riscos no segmento de pequenas e médias empresas, um dos que tiveram uma aceleração da inadimplência ao longo do ano passado. O mesmo tem acontecido em cartões de crédito, afirmou.
Sem citar a Americanas nominalmente, Lazari disse que o caso foi uma fraude, e que é pontual. De acordo com ele, o banco não mudou as condições de contratação do chamado risco sacado, operação que está no centro do rombo contábil que levou a empresa à recuperação judicial.
“É um caso pontual, uma fraude”, afirmou. “O risco sacado não traz inadimplência. Quando o caso aconteceu, fomos revisar todas as operações”. Segundo ele, o banco não encontrou situações de fragilidade nesse processo. “Não mudamos o spread do risco sacado pelo caso específico”, disse.
O executivo pontuou ainda que o caso foi inesperado, dado o histórico da companhia e de seus três sócios de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. “Fomos surpreendidos, não só nós, como o mercado”. (Virgínia Kleinhappel Valio, com informações do Estadão)