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Editorial

Muito a declarar

Uma juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que o vídeo, no qual Felipe aparece todo pimpão, fosse removido das redes sociais

15 de Janeiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Felipe Brandão polemizou com suas marcas de grife
Felipe Brandão polemizou com suas marcas de grife (Crédito: Fotomontagem)

Um vídeo que teve milhões de visualizações está chamando a atenção de boa parte da população brasileira.

Nas imagens, o empresário Felipe Brandão, filho do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Benedito Gonçalves, empolga-se em ostentar os ‘mimos‘ de luxo que adquiriu em lojas famosas da Europa.

No momento da gravação, o empresário, ao lado de sua família, mostrou-se bastante à vontade em se gabar de seus feitos. Só que a repercussão foi tão negativa que, arrependido, Felipe foi chorar nas barras da justiça para remover e censurar a publicação.

E, o pior, para a democracia brasileira e para o direito à liberdade de expressão, é que ele conseguiu, pelo menos liminarmente.

Uma juíza do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que o vídeo, no qual Felipe aparece todo pimpão, fosse removido das redes sociais.

Na decisão da magistrada, ela afirma que a divulgação do vídeo, além de ridicularizar o próprio Felipe, pretendia também atingir terceiros - no caso, o ministro Gonçalves.

A medida pode até gerar a remoção do vídeo de algumas plataformas, mas não vai impedir que o mesmo seja espalhado por outros processos eletrônicos como o WhatsApp e os e-mails.

As peripécias de Felipe Brandão estão gravadas eternamente no emaranhado de informações que trafega pela internet.

O vídeo poderia servir de base, também, para que os técnicos da Receita Federal, principalmente os que trabalham nos aeroportos, conferissem se todos esses produtos de luxo adquiridos pelo empresário foram devidamente registrados em sua viagem de volta para o Brasil.

Felipe Brandão, sua mulher e seu filho tinham muito a declarar para a alfândega brasileira e, se não o fizeram, precisam ser devidamente cobrados e penalizados, não importando o parentesco com o ministro famoso.

Publicado no dia 7 de janeiro, o vídeo, agora proibido pela Justiça brasileira, acumulava mais de 2,8 milhões de visualizações e 167 mil curtidas.

A entrevista foi gravada em inglês pelo influenciador Anthony Kruijver em uma rua de Amsterdã, na Holanda. Faz parte do trabalho do polêmico comunicador questionar, nos vídeos, as marcas de roupa que os personagens escolhidos estão vestindo.

No início da gravação com a família de Felipe Brandão, Kruijver pergunta sobre o tênis vermelho usado pelo empresário. O modelo Air Force foi produzido pela Nike em parceria com a Louis Vuitton e, em sites brasileiros de produtos importados, custa pouco mais de R$ 30 mil.

Em seguida, o destaque é para o item mais caro do modelito usado pelo empresário: um relógio Richard Mille RM-011. O autor do vídeo diz que o modelo custa mais de 200 mil euros (cerca de R$ 1,07 milhão pelo câmbio atual). Brandão veste ainda uma calça preta com elementos brancos da Denim Tears, que no site da marca custa R$ 1.027.

O valor da jaqueta da Prada não foi informado, mas no site oficial da grife, um modelo similar é vendido por cerca de R$ 14 mil.

Além do relógio, Brandão exibe outro acessório: uma pulseira da marca Cartier. No site oficial, o modelo Juste un Clou, feito em ouro branco com 32 diamantes lapidados, custa R$ 96,5 mil.

Isso sem falar nas roupas e acessórios do filho e da esposa do empresário que estavam usando.

Como se pode notar, pela descrição dos itens, há muito o que informar ao Leão. Se o empresário declarou esses bens e recolheu os impostos devidos na chegada ao Brasil, sua defesa, até agora, não usou esse argumento perante a justiça.

Confirmar se tudo está regular é uma medida bastante simples para os auditores da Receita e uma informação que poderia ajudar a melhorar, ou piorar, a imagem do empresário perante a opinião pública.

Vale lembrar que o pai de Felipe, Benedito Gonçalves, integrou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até novembro de 2023. Foi ele que, na posse de Alexandre de Moraes como presidente do TSE, ganhou ‘tapinhas‘ no rosto e uma conversa inaudível ao pé do ouvido.

Foi Benedito também que disse ‘missão dada é missão cumprida‘ a Moraes na diplomação dos eleitos de 2022.

Na Corte Eleitoral, Benedito foi ainda relator da ação que deixou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível por oito anos, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.

O vídeo nada tem a ver com Benedito, só com a ostentação de um empresário brasileiro deslumbrado com as maravilhas que o dinheiro pode comprar.

A missão agora, para a Receita, é comprovar se tudo está em ordem. Esperemos que essa missão também seja cumprida.