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Prof. José Ricardo Bandeira

Sobre guerra e fertilizantes

É impossível prever se a guerra contra a Ucrânia durará semanas, meses ou anos, o que gera uma insegurança quanto ao retorno das negociações comerciais com a Rússia

03 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Prof. José Ricardo Bandeira.
Prof. José Ricardo Bandeira. (Crédito: Divulgação)

Prof. José Ricardo Bandeira

Todos sabemos, como tem sido vastamente divulgado pela imprensa, que o Brasil é extremamente dependente dos fertilizantes vindos da Rússia e de Belarus e, caso haja a falta deste suplemento, a agricultura brasileira passará por sérias dificuldades que se refletirão em graves problemas, como escassez alimentícia e na alta de preços dos alimentos.

Talvez pensando nisso, o governo brasileiro dias antes do início da guerra fez uma viagem diplomática à Rússia, demonstrando publicamente ser solidário às reivindicações de Vladimir Putin, presidente russo, mas com um discurso travestido de neutralidade.

Nota-se, porém, a diferença de postura do governo brasileiro em relação aos países europeus, que são extremamente dependentes de gás natural vindo da Rússia e, mesmo estando em um inverno rigoroso, onde este combustível se torna fundamental, como no uso para o aquecimento das casas, não se furtaram de se opor ao conflito e de impor sanções à Rússia.

Porém, ao realizar essa visita diplomática, o governo federal não ouviu ou demonstra não ter um serviço de avaliação de crises internacionais, pois não previu que a Rússia e sua subordinada Belarus sofreriam sanções mundiais que as impediriam de efetuar a venda e entrega de produtos e serviços, devido, principalmente, à exclusão do sistema Swift (sistema de transferências de valores entre empresas), e do bloqueio do espaço aéreo e marítimo.

Caso o governo federal tivesse o mínimo de bom senso e informações confiáveis, poderia, logicamente, ter se antecipado e mantido relações mais próximas com outros produtores mundiais de insumos, como o Canada, China e Marrocos. Porém, por não ter feito o seu dever de casa, repete o erro cometido na compra de vacinas, retardando o inicio das negociações e entrando tardiamente no mercado, quando todos os países já haviam se antecipado e garantido suas compras. Como diz um dito popular, “quem chega depois paga mais caro e negocia mais difícil”.

Quanto à guerra contra a Ucrânia é impossível prever se durará semanas, meses ou anos, o que gera uma insegurança quanto ao retorno das negociações comerciais com a Rússia. Porém, o certo é que, mesmo derrotando o exército ucraniano ou depondo o seu presidente, haverá uma eterna resistência por parte da população e dos militares. Assim, a Rússia terá que deixar a Ucrânia, levando consigo milhares de mortos e trilhões de euros de prejuízos e dívidas. Isso, além dos pesados embargos que a levarão a fazer concessões e trocar seus insumos e combustíveis por produtos de necessidade básica ou relaxamento de medidas.

Por fim, nesta “guerra brasileira dos fertilizantes”, que para o governo são mais importantes do que as vidas perdidas e soberania democrática de uma nação, mais uma vez saímos perdendo, prejudicados e desmoralizados no cenário internacional.

O professor José Ricardo Bandeira é perito em Criminalística e Psicanálise Forense, comentarista e especialista em segurança pública. Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais, membro da International Police Association e presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa e diplomado em ciências políticas e estratégicas pela Escola Superior de Guerra (Adesg)