Vanderlei Testa
Além Linha, lembranças dos trens da EFS e das boiadas na ruas
As gerações de moradores do bairro Além Linha sentem orgulho de suas vilas e de suas atrações históricas
Considerado um dos mais antigos centros habitacionais de Sorocaba, a Vila Santana surgiu há mais de 100 anos. Dividida pelos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, que separou a cidade em dois grandes polos da zona leste e zona norte -- Além Ponte e Além Linha --, a Sorocaba de 1920 cresceu às margens desses povoamentos. A Vila Santana, com os ferroviários que vieram transferidos de Mairinque, e a Vila Hortência, com os operários têxteis. As gerações de moradores do bairro Além Linha sentem orgulho de suas vilas e de suas atrações históricas. Na semana passada, o artigo destacou as lembranças dos moradores do bairro Além Ponte. Hoje vou relatar as recordações da Vila Santana.
Mônica Torres, tem na memória os desfiles de que participava na infância pelo Emei 2. “Eram tão lindos”, diz, e se emociona, ao contar que eram na rua Dom José Gaspar, a rua do parquinho. A Solange de Fátima ainda saboreia, ao respirar, o gostinho do Café Sorocabano, produzido no bairro, na rua Oliveira César. O Antônio Hélio Santana de Carvalho viajou no túnel do tempo até a pequena vila de casas da rua Hermelino Matarazzo, onde morava e brincava
jogando bola na rua. Como as crianças jogavam descalças, sempre tinha jogadores que, como ele, perdia um “tampão” de dedão.
A Sidnéia Moreno, na juventude, recorda com brilho nos olhos dos domingos à tarde no Cine Líder. A Simone Cristina Bettus Mendes fez uma listinha de suas recordações da Vila Santana. A sirene da EFS, o começo do Colégio Véritas, a
fábrica de macarrão dos Campanini, a banca do Juca e a Padaria Pão Nosso.
“Todos esses locais serão eternamente lembrados por mim como momentos da minha vida”, diz Simone, acrescentando o “rec rec” dos bijus vendidos na rua. A Rita Cintra contou que morou na rua Paissandu. Ainda hoje, a placa da rua continua ao lado da praça do Líder, onde, quando criança, brincava com as meninas da redondeza. Rui Martins era um dos meninos que se divertia no largo do Líder. “Lá tinha o carrinho do pipoqueiro e venda de amendoim que eu adorava comprar”. A observação da Ana Paula Cardoso é curiosa, pois segundo ela, o apito da EFS a salvava de acordar atrasada para o trabalho. “Era o meu despertador, afirma.
As músicas das barraquinhas da Festa Junina da igreja velha de Santa Rita atraiam a Sonya Regina Brunhara de Almeida. Durante o ano, como existiam muitas áreas de terreno desocupados na Vila Santana, sempre havia circos sendo montados. “O Circo Guaraciaba e o serviço de alto falante Terceiro Centenário são parte da história do bairro”, diz César Fabri. Os parques de diversão com seus brinquedos agregavam aos circos para conquistar as famílias. Na rua São Vicente sempre tinha esses entretenimentos e a Margarida Dias convencia os pais a participar. Para os meninos, como o Juvenal Santos Mello, em 1970, as quadras de futebol de salão do São Remo e da Santa Rita eram valorizadas pelos times do bairro Além Linha.
Impossível não lembrar e ter saudade dos carnavais do Clube Santana. A Elisete Ayres afirma que ficava olhando as famílias e vizinhos a caminho dos bailes com suas fantasias. “Era tudo tão lindo aos meus olhos”, diz. “Eu morava em São Paulo -- relata Andréia Borges Boscardin --, mas, adorava passar as férias na casa dos meus avós, na rua Santa Rosália. Quando criança, ia brincar no largo do Líder e fiz muitos amigos. Jamais esquecerei”, relata a paulistana Andréia.
Ao se lembrar da Vila Santana, contou a Rita Mara Cherione, que os ensaios da escola de samba do Vadeco, em frente ao bar do seu pai, eram animados e atraiam muitos sorocabanos. Também nas suas recordações, a piscina do Clube Estrada e a pipoca do japonês na travessa da rua Aparecida, ainda emocionam.
Adriane Mendes deixou o saudosismo tomar conta dela, principalmente ao se lembrar do seu pai. “Sinto saudades do auge do Santana Atlético Clube. Meu pai, Roque Mendes, foi o idealizador do clube e do Baile das Rosas”, contou. O produtor de eventos João Caramez focou suas lembranças nos eventos e danças animadas do Santana; nas missas da juventude na paróquia de Santa Rita, construída em 1923; no bar do Gastão (Humberto Fasoli); na subida das boiadas pela rua Bartolomeu de Gusmão, proporcionando à Vila Santana, um dos fatos mais pitorescos na sua história centenária. À página na rede social, do Reinaldo Camargo, “Pedaço da Vila Santana”, os nossos agradecimentos pelo retorno de 210 comentários dos leitores com as suas lembranças do bairro.
Vanderlei Testa ([email protected]), jornalista e publicitário, escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul