João Alvarenga
A literatura resiste
Eventos que valorizem a leitura são fundamentais e precisam acontecer com mais frequência. Afinal, temos a impressão de que, atualmente, tudo gira em torno do digital
Pela primeira vez, duas entidades sorocabanas ligadas à vida literária da cidade se unem para promover um evento que, certamente, poderá ser o início de uma feliz parceria que muito beneficiará os autores sorocabanos. Estamos falando do “Festival Literário”, ocorrido na última semana de janeiro (de 23 a 27), na Biblioteca Municipal “Jorge Guilherme Senger”. Por iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura, o evento reuniu os imortais da Academia Sorocabana de Letras e os integrantes da Feira do Livro e Autores Sorocabanos (Flaus). A proposta “Vozes Sorocabanas” deu visibilidade aos autores.
O “Festival” teve, além de exposição das obras publicadas em nossa cidade, espaço para uma roda de conversa sobre como está a literatura que se produz aqui. Pois, os outros atrativos da internet, infelizmente, têm dispersado o contingente de potenciais leitores. Talvez, isto venha ser um das principais falhas dos adultos: passamos aos jovens, principalmente aos estudantes, a crença de que o material impresso “tem cheiro de mofo”, que “os clássicos são chatos”. Parece que, hoje, o divertido só é uma postagem que não passa de cinco minutos, senão ninguém vê, porque se torna cansativo.
Inclusive, especialistas em neurociência estão preocupados com uma situação que vem afetando a sociedade global: a redução do QI médio da população. Estudos apontam que o nível de inteligência, medido nos testes, tem diminuído. Um dos fatores, segundo cientistas britânicos, está no empobrecimento da linguagem, ou seja, há uma redução do vocabulário e isso tem dificultado a compreensão até mesmo de textos simples. A retomada da leitura de material impresso pode ser uma saída, já que o digital é dispersivo, e o físico requisita concentração.
Por isso, eventos que valorizem a leitura são fundamentais e precisam acontecer com mais frequência. Afinal, temos a impressão de que, atualmente, tudo gira em torno do digital. Ou seja, parece que não há mais nada de interessante fora das redes sociais. Resta a ideia de que o livro impresso luta para se manter como alternativa saudável de lazer, principalmente aos estudantes, que precisam ter foco no que leem.
Oxalá, estejamos enganados, porque há indícios de que o mercado editorial brasileiro vem se diversificando para tornar o livro um produto agradável às futuras gerações. Infelizmente, muitas crianças já nascem “plugadas” à rede mundial de computadores. Assim, com o “Vozes Sorocabanas”, adolescentes puderam tomar contato com nossos escritores e conhecer os talentos locais. Quiçá essa iniciativa seja um novo despertar para as nossas letras, e Sorocaba possa retomar a trilha da efervescência cultural que, nos idos de 80 e 90, do século passado, agitou a cidade com espetáculos teatrais e feiras de livros.
O leitor deve se recordar da famosa “Semana do Escritor”, que acontecia no espaço da Fundec, sob a batuta de Douglas Lara e Lurdinha Blagitz. O encontro reunia autores consagrados e jovens estreantes nas letras. Numa das ocasiões, além de autores da região metropolitana, a “Semana” contou, também, com a participação do poeta lusitano Joaquim Evóreo, que evocou a figura de Fernando Pessoa.
Por ser algo mais recente, quem sabe a “Expo Literária” também esteja viva na memória de muitos sorocabanos. Foi um megaevento que trouxe medalhões da literatura nacional para falar à nossa juventude. Tivemos as presenças de Maurício de Souza, criador da “Turma da Mônica”, e do professor Pasquale Cipró Neto. Na ocasião, Pasquale criticou o “Acordo Ortográfico”, que mudou a grafia de algumas palavras. Claro que essa iniciativa também contou com a presença de nossos autores, além da exposição e venda de livros, lançamentos de obras, palestras e oficinas literárias, além de grande público.
Por fim, é bom frisar que Sorocaba é uma terra de escritores talentosos, com uma literatura autêntica que honra o passado e festeja o futuro.
João Alvarenga é professor de redação