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Nildo Benedetti

Filmes da Netflix: ‘A vida em mim’ (parte 1 de 3)

18 de Julho de 2024 às 22:29
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Crianças refugiadas podem desenvolver a "Síndrome de Resignação"
Crianças refugiadas podem desenvolver a "Síndrome de Resignação" (Crédito: ARQUIVO AFP)

Este filme de menos de 40 minutos de duração, dirigido por Kristine Samuelson e John Haptas, trata da enigmática “Síndrome de Resignação”, que atinge meninos e meninas que permanecem em estado de sono profundo, semelhante ao de coma, às vezes por anos. A síndrome vai se manifestando progressivamente. Inicialmente os meninos e as meninas param de falar, só ficam deitados, passam a comer cada vez menos até parar completamente de se alimentarem. A maioria dos pais não conhece a síndrome e vive a aflitiva condição de supor que a criança está prestes a morrer. O documentário acompanha a trajetória de duas meninas Dasha e Leyla e de um menino, Karen.

Os primeiros casos de crianças com síndrome de resignação surgiram na Suécia entre 2003 e 2005. Essas crianças têm em comum o fato de serem filhas e filhos de pais imigrantes refugiados na Suécia que pleitearam asilo no país e aguardam a manifestação das autoridades suecas. Uma advogada da imigração afirma que essas crianças frequentam a escola, fazem amizades, falam sueco perfeitamente e, de um momento para outro, se vêm ameaçadas de ter de voltar a seus países de origem.

Com a queda do comunismo na União Soviética, levas de imigrantes chegaram à Europa provindos de países do leste europeu que fugiam da crise econômica e das guerras civis na ex-Iugoslávia. Alguns pertencem a certas minorias étnicas. Leyla pertence à pequena minoria étnica e religiosa dos yazidis, de língua curda, que vivia no Iraque e foi perseguida pelos terroristas do grupo Estado Islâmico em 2014. Estes novos migrantes vieram a ser somados aos milhões de estrangeiros que já viviam nos países europeus.

A explicação dada pela síndrome da resignação no filme é que as famílias das crianças afetadas foram sujeitas, em seus países de origem, a algum trauma psicológico, físico ou ambos e, adicionalmente, enfrentam o trauma da deportação da Suécia para seus países de origem. Algumas crianças estão cientes do processo de asilo e sabem que o futuro é incerto “Nós sabemos que um período longo de incertezas depois de um trauma é muito perigoso. A segurança é a base da recuperação depois de um trauma”.

Uma profissional que cuida das crianças com síndrome de resignação afirma, logo no início do filme: “Quando eu faço um exame digo aos pais: ‘Vocês sofrem com o estado dela. Ela não está sofrendo. Sua filha está deitada aqui como a Branca de Neve porque tudo é tão ruim ao redor dela, que esta é a forma de ela se proteger. Ela só está esperando a situação melhorar. Assim, ela poderá acordar e ser uma pessoa normal e cheia de vida de novo’.”

A síndrome se origina da insegurança que os pais sentem sobre o futuro, porque estão correndo o risco permanente de repatriação. No filme, um psicólogo afirma que a recuperação geralmente começa quando a família passa a se sentir segura e a restaurar a esperança. Ela não acontece imediatamente, ocorre depois de meses E são os pais que transmitem a esperança. Portanto, mesmo em estado semelhante ao de coma, a criança estabelece com os pais algum tipo de comunicação. O tom, o toque, a atmosfera no quarto, algo que faz a criança sentir que os pais têm esperança. A família de Leyla ainda pode ser deportada e sua irmã começou a apresentar os primeiros sintomas da síndrome.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.