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Nildo Benedetti

Filmes da Netflix: ‘A vida em mim’ (parte 2 de 4)

25 de Julho de 2024 às 23:02
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Manifestações anti-imigração na Alemanha com faixa diz:
Manifestações anti-imigração na Alemanha com faixa diz: "Fora estrangeiros" (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Prezado leitor, decidi adicionar um quarto artigo sobre “A vida em mim”, para estender um pouco mais a questão da imigração europeia.

Não existe, até o momento uma explicação para o fato de a síndrome de resignação ser muito maior na Suécia, quando comparada com outros países. “Fatores culturais que talvez sejam exclusivos à Suécia podem promover o desenvolvimento da condição”, é dito no filme. Na Austrália, nos centros de detenção para refugiados, a síndrome tem sido encontrada com os mesmos sintomas dos observados na Suécia.

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“A vida em mim” mostra uma faceta triste de um problema que se acentuou nas últimas décadas: o das ondas migratórias. O assunto é controverso, porque envolve uma série de fatores entrelaçados. Se o leitor procurar na Internet o tema da migração, observará uma série de opiniões conflitantes. Mas cada um tem uma razão lógica para explicar o ódio ao emigrante ou sua aceitação.

No documentário, o jornalista Gellert Tamas diz que os políticos e militantes de extrema-direita espalhavam boatos de que as crianças com síndrome de resignação estariam fingindo os sintomas ou que os pais estariam dando veneno a elas. Mas, constatou-se que não havia interferência externa, os boatos eram fake news e que, na realidade, as crianças estavam muito doentes.

O sentimento anti-imigrante está crescendo na Suécia e as políticas de asilo se tornaram mais rigorosas. Ocorreram mais de 200 novos casos da síndrome nos últimos três anos. Escrever porque o sentimento anti-imigrante se tornou a principal bandeira da extrema-direita europeia exigiria uma explanação de grande fôlego, o que, obviamente, foge ao escopo destes artigos. Mas, podemos sintetizar uma explanação a partir de alguns textos acadêmicos.

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, no seu livro “Retrotopia”, afirma que os migrantes da era pós-colonial buscam por uma chance de construir uma vida mais digna nas economias domésticas dos colonizadores. E continua: Ainda por cima, há um volume crescente de pessoas que são obrigadas a abandonar suas casas por causa de guerras civis, conflitos étnicos, religiosos e bandidagens não mitigadas nos territórios que os colonizadores deixaram para trás nos “Estados” (soberanos apenas no nome) artificialmente forjados e com poucas perspectivas de estabilidade; mas há também enormes arsenais bélicos de armas que procuram alvos fornecidos por seus antigos senhores coloniais. A desestabilização obviamente sem perspectivas da área do Oriente Médio, na esteira de políticas e aventuras militares mal calculadas, insanamente míopes e assumidamente abortivas das potências ocidentais, é o caso mais frequente, porém não o único dessa categoria. Na verdade, uma parte imensa da África o cinturão entre os dois trópicos de Câncer e Capricórnio foi transformada numa fábrica de refugiados em massa.

Bauman expõe uma série de pontos de vista sobre a sociedade contemporânea. O título do livro remete ao fracasso das utopias criadas e postas em prática pela humanidade, como comunismo, socialismo, capitalismo, nazismo, neoliberalismo, que se propuseram a construir um mundo perfeito, em que todos os seres humanos seriam agraciados com o necessário para ter uma vida digna.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.