Buscar no Cruzeiro

Buscar

Nildo Benedetti

Filme do Youtube sobre Democracia (parte 2 de 6)

21 de Novembro de 2024 às 23:08
Cruzeiro do Sul [email protected]
Tela
Tela "Os sete pecados capitais", do pintor alemão Otto Dix, de 1933 (Crédito: REPRODUÇÃO)

2. Razão e ignorância
Para desenvolver as ideias sobre democracia e totalitarismo utilizarei obras de vários autores, dentre os quais Sigmund Freud, Massimo Recalcati, Hannah Arendt, Zigmunt Bauman, Baruch Spinoza. Em essência, procurarei demonstrar que democracia é resultado da razão e totalitarismo é resultado de ignorância.

Existem dois tipos principais de ignorância:

A do indivíduo que não sabe e reconhece que não sabe. A esse indivíduo chamarei de “racional”, porque usa a razão para compreender sua limitação de conhecimento, por mais amplo que ele seja.

A do indivíduo que não sabe, mas que tem a certeza de possuir a verdade. A esse indivíduo chamarei de “ignorante”. É aquele que crê que exista uma única a verdade e o que contraria tal verdade é, obrigatoriamente falso e deve ser combatido sem tréguas, até com violência. Pertencem a esse grupo: o fanático político e religioso, o racista, o xenófobo, o preconceituoso contra minorias, o negacionista da ciência e da ameaça ambiental etc. A ignorância é consolidada como forma suprema da verdade e ignora que existem outras formas de verdade.

O que caracteriza o indivíduo democrata é o uso da razão. O indivíduo racional compreende, aceita e convive com a pluralidade religiosa e de formas de pensar e de ver o mundo, da multiplicidade de pontos de vista. Sabe que cada indivíduo é diferente de todos os outros indivíduos, que cada um traz sua própria verdade que depende de sua história de vida e que o convívio em sociedade com o outros e o convívio na política se faz levando em consideração a diversidade desde que não seja ilegal.

O já citado “Dicionário de Política” afirma que o conceito de democracia pode ser simplificado pela noção de democracia representativa, aquela em que o povo governa, uma vez que elege seus representantes por meio do voto. Tem seus direitos humanos fundamentais preservados, liberdade de credo político, religioso, de expressão, de locomoção, de participação na vida política, econômica e cultural, goza de proteção legal contra a violência etc. A manutenção da democracia exige um Poder Judiciário suficientemente forte para assegurar essas prescrições democráticas. A liberdade de opinião e de ação vigente na Democracia deve seguir rigorosamente as leis consagradas na Constituição nacional. A tolerância generalizada a qualquer tipo de opinião que viole as leis pode destruir a própria Democracia. Este assunto foi tratado pelo filósofo Karl Popper em sua obra The Open Society and Its Enemies (A sociedade aberta e seus inimigos). O livro de Popper, embora editado em 1945, tem sido recentemente objeto de grande atenção, porque estamos diante do impasse do que fazer com os neonazistas e neofascistas que aparecem nas sociedades democráticas e querem totalitarismo em nome da “liberdade de expressão”. Eis uma passagem da obra de Popper:

A tolerância ilimitada deve levar ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos tolerância ilimitada mesmo àqueles que são intolerantes, se não estivermos preparados para defender uma sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, e a tolerância com eles. (...). Devemos, portanto, reivindicar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante.

Obs.: Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.