João Alvarenga
Para matar a saudade! (parte 1)
No domingo passado, prestamos homenagem aos nossos compositores. Neste artigo, mataremos a saudade de canções que fizeram parte da trilha sonora de novelas que até hoje povoam o imaginário popular. Quem ouve a canção, automaticamente, lembra-se de determinada cena. Pois, a “música é a roupa do audiovisual”. Assim, cenas só se tornam memoráveis graças à boa trilha sonora. Do contrário, tudo fica opaco. Porém, é com tristeza que assistimos a um drama fora das telas: atualmente, as telenovelas brasileiras enfrentam uma crise de criação. Para os saudosistas, não se tem mais uma obra de impacto; mas, apenas e, tão somente, um produto a mais na grade da programação, que pouco chama a atenção, especialmente das novas gerações.
Um dos fortes indícios desse fenômeno, no entender de Flávio Ricco, comentarista de TV, deste jornal, está no fato de que a produção nacional, infelizmente, perdeu o protagonismo no festejado Emmy Internacional (o Oscar da TV). Nosso último Emmy foi obtido há quatro anos. De lá para cá, passamos em brancas nuvens. Todavia, num passado não tão distante, belíssimas produções nacionais receberam esse importante prêmio. Agora, as criações turcas, coreanas e chinesas estão “roubando” a cena. Por que será? Com a palavra, os especialistas.
Claro que esse momento delicado da nossa teledramaturgia, não tira o brilho de outrora. Afinal, já fomos contemplados com o que havia de melhor em termos de entretenimento de qualidade, com novelas e séries geniais, que recordaremos aqui. Mas, faremos nossa viagem nostálgica através de suas trilhas. São finíssimas canções que não só nos trazem à tona inesquecíveis cenas (cômicas, românticas e tensas), como entraram para a história da TV brasileira, juntamente com novelas que foram líderes de audiência e, também, marcaram uma época. Sob esse prisma, destacaremos não só seus intérpretes como seus compositores, dando relevo à figura do criador por detrás da criação.
Nesse contexto, vale a pena destacar a delicadíssima “O casarão”, de Lauro Cesar Muniz, com direção de Daniel Filho. Essa novela foi levada ao ar, em 1976, pela TV Globo, no tempo em que as novelas eram exibidas exatamente às 8h. Ou seja, a popular “novela das 8h”, que tinha uma grande audiência. Só para lembrar, a música-tema do par romântico, o casal João Maciel e Carolina (os atores Paulo Gracindo e Sandra Barsotti — foto —), era “Fascinação”. Uma curiosidade: essa criação é atribuída ao compositor francês Maurice Ravel (do “Bolero de Ravel”), numa encomenda feita pelo violonista Dante Marchetti, que passou a ser o autor “oficial” da peça, cuja letra é assinada por Maurice Féraudy. A versão brasileira, imortalizada por Elis Regina, é de autoria de Armando Louzada.
Detalhe: “O Casarão” é uma espécie de “Romeu e Julieta” ambientado no meio rural brasileiro. Essa novela teve o desafio de substituir a impactante “Pecado Capital”, da genial Janete Clair, cuja música-tema tem a assinatura e interpretação de Paulinho da Viola. A música foi encomendada pelo produtor musical Guto Graça Mello. A versão original dessa novela foi ao ar em 1975. Já a releitura, exibida entre 1988 e 1999, teve a assinatura de Glória Peres, que passaria a substituir Janete Clair. Porém, a música-tema foi mantida.
No entanto, a canção “Modinha Para Gabriela”, interpretada por Gal Gosta, numa criação do gênio Dorival Caymmi, foi um momento encantador. Essa música foi tema de abertura da versão original da novela “Gabriela”, de 1975, escrita por Walter George Durst, a partir da obra de Jorge Amado. Na mesma esteira, tivemos “Tieta”, vivida por Betty Faria, no auge da beleza. A Globo ensaia uma releitura dessa novela, cuja música-tema foi composta por Paulo Debétio, com letra de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (o Boni). O recém-lançado cantor, Luís Caldas, foi o intérprete, inaugurando o “Axé Music”. Semana que vem seguiremos com esse assunto. Bom Domingo!
João Alvarenga é professor de redação.