João Alvarenga
O palavrão na escola...
Embora os alunos estejam na expectativa do encerramento do ano letivo, há um assunto que se tornou motivo de preocupação dos educadores brasileiros: Como lidar com o palavrão no ambiente escolar? Ironicamente, tal questão não é levada muito a sério pela sociedade. Aliás, as autoridades do setor fingem que o problema não existe. Nem mesmo a mídia dispensa a devida atenção para o fato de que alguns alunos ignoram as regras de boas maneiras para, deliberadamente, ofender os coleguinhas de classe. Não é preciso ser especialista para perceber que esse comportamento tem afetado o relacionamento interpessoal dos estudantes, com atitudes, que propiciam ao bullying. Essa mudança merece um estudo aprofundado, a fim de que se possa entender o porquê do uso de uma linguagem ofensiva.
Não há como negar que os termos chulos estão presentes na realidade escolar brasileira. Seja na sala de aula ou, no pátio, durante os intervalos da criançada. Você que é professor, com certeza, sabe que essa situação é muito delicada. Isso fica mais preocupante quando envolve aluninhos do FUD1. Pois, muitas vezes, estão apenas repetindo termos inadequados que ouviram — em algum lugar — e que, na maioria das vezes, nem sempre sabem o que real significado.
Porém, longe de parecer moralista, é fundamental relembrar que uma das missões da escola é garantir que os estudantes, ao concluir sua jornada formativa, tenham um linguajar respeitoso no trato com as pessoas. Pois, isso também garantirá seu sucesso profissional, já que o mundo corporativo solicita respeito às hierarquias. Mas, boa parte do alunado, dado à imaturidade, ignora o que os espera no futuro. Assim, os conselhos dos professores sobre boas condutas nem sempre são ouvidos. Afinal, qual o motivo para tamanha inversão de valores? É o que vamos tentar responder neste artigo.
Um dos fortes indícios é a própria sociedade, pois nossas atitudes de adultos se tornam espelhos às crianças. Assim, o leitor já reparou o quanto o brasileiro está com a língua solta? Ou seja, sem grandes motivos aparentes, as pessoas disparam, logo de cara, “rios de palavrões”, em qualquer circunstância e a qualquer hora do dia ou noite. E tem mais, não importa o lugar em que estejam... Soltar os cachorros virou mania nacional. Parece que o palavrão saiu do armário e se tornou uma espécie de “força de expressão” pra tudo! Lugares mais evidentes: brigas de trânsito, reuniões de condomínios e partidas de futebol. Aliás, em finais de campeonatos, a mãe do juiz é sempre a mais “elogiada” nos estádios.
Desse modo, é inevitável ignorá-lo, pois o danado do palavrão está presente até mesmo em novelas, série, filmes, programas de entrevistas e reality shows. Logo, não importa a razão, seja para comemorar, falar mal ou até mesmo desabafar, o cidadão tasca um termo bem chulo que faz arrepiar o cabelo dos carecas. Agora, parece que até criaram uma nova “etiqueta social”: “palavrão é pra quem ouve, não pra quem diz!”
Todavia, quem está na faixa dos 60+ sabe que, já houve um tempo, neste País, em que as pessoas eram mais cautelosas nas suas condutas, principalmente em espaços coletivos. Era difícil ver alguém lavar a roupa suja em público. Mais que isso, soltar impropérios, em determinados ambientes, era algo inimaginável, pois sovava como sacrilégio. Inclusive, nossos antepassados diziam: “quem fala palavrão, espanta o anjo de guarda”. Pior: “atrai energias ruins”. Esses temores funcionavam como se fosse um “freio” na língua das pessoas, principalmente das crianças, pois temiam o inferno.
Por fim, quando foi que a coisa entortou? Dizem que a MTV Brasil, lá nos anos 90, com o vocalista João Gordo, da banda “Ratos de Porão”, que apresentava um programa pra lá de trash, deu um empurrãozinho para que o palavrão passasse a frequentar o horário nobre da TV. Antes disso, só mesmo as pornochanchadas, dos 70, carregavam essa bandeira. Bom domingo!
João Alvarenga é professor de redação.