Celso Ming
Ufa! Saiu o acordo Mercosul-UE
Está fechado o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Levou 25 anos (uma geração) de avanços, retrancas e recuos, mas o que saiu foi inédito.
É o compartilhamento de um mercado de 718 milhões de consumidores e de um PIB agregado de US$ 22 trilhões. O objetivo é a progressiva liberação do comércio, ou seja, o acesso a 27 mercados, como se um paulista fosse vender para um comprador da Bahia. Mas o acordo ainda prevê concessões recíprocas e prazos para a liberação total.
Ainda falta a aprovação do Parlamento Europeu, a assinatura de país por país, o que demandará debates. A novidade é a de que desta vez não serão precisas as assinaturas de todos os países sócios. Bastará a aprovação de dois, de um lado e de outro, para começar a valer bilateralmente e, assim, os tratados se estenderão progressivamente.
França, Polônia e Irlanda vinham rejeitando o acordo. O presidente da França, Emmanuel Macron, avisara que “o acordo continua sendo inaceitável”. A maior resistência vem dos produtores rurais, a maioria deles ineficiente, que temem a concorrência do produto do Mercosul. Logo deverão compreender que, se ficarem de fora, perderão mais do que ganharão.
Boa pergunta está em saber por que, depois de tanta defensiva e muito conversê, a aprovação do acordo, ainda em princípio, ficou inevitável. Do ponto de vista da Europa, passou a ser necessário agir diante de dois riscos: o do enorme protagonismo da China dentro do território do Mercosul; e o das ameaças do presidente Donald Trump de cortar importações da Europa. Do lado do Mercosul, foi removida grande parte da oposição dos industriais que temiam perder mercado interno para os europeus, que contam com mais tecnologia e recursos baratos. Basta lembrar o que foi o rechaço da proposta da Alca, que seria a Área de Livre Comércio das Américas (que incluiria Estados Unidos, Canadá e México).
Embora sua maturação leve mais alguns anos, esse acordo deve começar desde já a produzir consequências. Empresas e grupos financeiros de todos os calibres terão agora de avaliar com que estratégia e com que recursos encararão a participação na ampliação de seu mercado. Chegar atrasado pode custar perda de participação no bolo.
O principal desafio do Mercosul consistirá em levar mais a sério as relações entre os sócios do bloco. Desde o início se propôs a queimar etapas e a se constituir em união aduaneira, situação que exige tarifas unificadas no comércio com terceiros países. Mas está longe de completar o primeiro estágio, o de área de livre comércio. O fluxo dentro do bloco ainda capenga com muitas restrições, como a da imposição de cotas de importação e da exigência de conteúdo local.
Celso Ming é comentarista de economia.