Dom Julio Endi Akamine
Peregrinos da Esperança
Iniciamos há pouco o Jubileu cujas raízes bíblicas se encontram em Lv 25,8-13 e sobretudo Lc 4,18-19. Para que este seja “um ano do agrado do Senhor”, os católicos se comprometem em buscar a conversão e a serem “Peregrinos da Esperança”.
Continuamente, porém, a esperança cristã é colocada à prova. Em primeiro lugar, há o desafio do mal presente no mundo. Impressiona principalmente a sua progressão: a criminalidade organizada crescente, os requintes da tortura, os atos de violência parecem se multiplicar no mundo em que vivemos. Chegamos até mesmo a nos perguntar se é verdade que a humanidade foi salva por Cristo e se o reino de amor trazido pelo Salvador existe verdadeiramente no mundo.
O desafio é ainda maior quando o mal parece triunfar naqueles que deveriam ser testemunhas da santidade de Cristo. É uma grande provação à esperança descobrir, naqueles que deveriam estar a serviço do Reino de Cristo, as manobras das ambições pessoais: em lugar da caridade que deveria brilhar em todo seu fulgor, constatar rancores, disputas e vinganças; em vez do exemplo de desapego, a cobiça de dinheiro. Até a esperança mais firme ameaça sucumbir diante dessas descobertas.
A esperança é colocada à prova não somente a partir do exterior, mas também a partir de nós mesmos. Podemos perder a esperança pelo mal que se manifesta na nossa própria conduta. Não somente não conseguimos corrigir os defeitos, mas muitas vezes nos surpreendemos com sentimentos e gestos que escapam ao nosso controle. Quanto mais nos conhecemos, mais claramente vemos em nós inclinações ao mal e motivações pouco nobres.
Por outro lado, a esperança cristã é de uma tal natureza que resiste às crises. Conforme a expressão de Paulo, a esperança é uma das coisas que permanece: “Agora, portanto, permanecem fé, esperança e caridade, estas três coisas” (1Cor 13,13). De fato, a “esperança não decepciona” (Rm 5,5), porque consiste em esperar Deus.
A esperança é primeiramente um dom de Deus. É fundamental para nós que seja vivida como algo que se recebe. A nossa primeira atitude, portanto, não é a do esforço, mas a do estar abertos e acolher o dom que nos é oferecido. Se há algum esforço, consiste primeiramente em aceitar o dom oferecido. Tornamo-nos mais cristãos quanto mais intimamente nos deixamos invadir pela esperança.
O elemento distintivo dos cristãos é o fato de eles terem um futuro: não é que conheçam em detalhe o que os espera, mas sabem em termos gerais que a sua vida não acaba no vazio. Somente quando o futuro é certo como realidade positiva, é que o presente se torna vivível. A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir e estão ainda totalmente ausentes; a fé já nos dá algo das realidades cridas. A fé nos dá já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma “prova” das coisas que ainda não se veem (Bento XVI, Spe salvi).
A esperança atrai o futuro para dentro do presente, de modo que o futuro não é o puro “ainda-não”. O fato de esse futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se naquelas presentes e as presentes nas futuras (SS 7).
A esperança é o encontro da eternidade com o tempo. Ela já está em movimento no presente, ainda que sua plenitude esteja no futuro. Desde o seu surgimento, a esperança implica uma vida eterna que já começou a se formar no cristão. A vida eterna ainda não alcançou sua plenitude, nem será alcançada no tempo da vida terrena, mas é já uma verdadeira vida de eternidade, uma vida que permanece. Sem essa antecipação, a vida terrena se torna muito cansativa e penosa.
Desejar “feliz ano novo” é um exercício da esperança cristã: Feliz 2025!
Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba