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João Alvarenga

O limite da bondade

04 de Janeiro de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: REPRODUÇÃO INTERNET)

Para iniciar nossa série de abordagens de 2025, escolhemos, para este domingo, um tema que há muito inquieta a humanidade: a bondade ou a ausência dela em muitos momentos da História. Tal assunto sempre esteve presente nas discussões filosóficas, desde os pré-socráticos, perpassou as eras, e se torna objeto frequente de muitas pregações de vários segmentos religiosos. Inclusive, o próprio Sócrates defendia: “Não há a verdadeira felicidade sem bondade”. Para o filósofo, o “ser bom”, como supremo destino do homem, é idêntico a “ser feliz”. Em outras palavras, ser bom é “agir em harmonia com a própria essência divina”. Para reforçar esse pensamento, em sua obra “Pensamento Filosófico da Antiguidade”, o escritor brasileiro, Huberto Rohden, evidencia: “O altruísmo é fator necessário à vida em coletividade”.

No entanto, diante do vislumbre dos avanços tecnológicos que têm marcado fronteiras entre o real e o simulacro, o escritor norte-americano, Philip K. Dick, no romance “Blade Runner”, obra retrofuturista distópica adaptada para o cinema há mais de cinquenta anos, já apontava para uma questão que hoje está no centro das discussões: qual o destino da humanidade diante das inteligências artificiais? No livro, o autor deixa bem claro que um androide, por mais evoluído que seja, é incapaz de sentir empatia: “Capacidade empática quereria um instinto de grupo”. Segue: “Os androides não têm a capacidade de apreciar a existência do outro.”

Já que só nós, os humanos, somos capazes de sentir empatia, o que torna uma pessoa bondosa? Seus atos? Suas atitudes? Seria a sua capacidade de se colocar no lugar do outro, diante de uma situação perigosa? Na verdade, é mais do que isso, pois nos comovemos, muitas vezes, com dramas de pessoas desconhecidas, que estão no outro lado do mundo, principalmente quando vemos imagens de crianças vítimas de bombardeios. Inexplicavelmente, isso desperta em nós um sentimento de solidariedade. Nesse momento, pensamos: “Desejar o bem não importa a quem”. Mas, será que ainda temos essa capacidade ou nosso coração está empedernido diante de tantas mazelas que afligem nossa espécie? Ou já nos acostumamos às tragédias?

Lançamos esses questionamentos porque temos a impressão de que, atualmente, a maldade anda solta no mundo. Parece que o ódio tem mais poder de persuasão do que a possibilidade de um armistício iminente que ponha fim a todos os conflitos que assolam o planeta, neste exato momento. Os que amam a vida bradam: basta de tantas mortes inocentes que, no entender do poeta alemão Bertold Brecht, é algo insano e injustificável. Enfatiza o poeta: “Dão sopa aos soldados para que eles nunca perguntem por que vão à guerra”.

Todavia, há aqueles que não querem saber da vida alheia, para não se meterem em confusão. São rotulados de egoístas ou alienados, já que nem mesmo aos telejornais assistem, porque acham que a mídia exagera, quando ocorrem tragédias. Assim, desprezam tudo que promove o saber, para não “contaminar” a felicidade. Porém, esquecem-se de que a alienação gera a ignorância. O saudoso filósofo Jacob Bazarian, dizia: “A ignorância é mãe de todos os males”.

Para finalizar, citamos um pequeno exemplo de como o ser humano é capaz de atos inimagináveis. A lamentável notícia que reverberou, no final de 2024, sobre a prisão de um “serial killer” de animais, em Itapetininga, provocou a indignação de ativistas da causa animal. Investigações deram conta de que o assassino adotava cães e gatos para torturá-los até a morte. Qual o propósito disso? Essa pergunta é inevitável para um fato que revela uma dura realidade: evoluímos muito pouco até aqui! Ainda somos capazes de cometer atrocidades contra seres indefesos. Num editorial da Cruzeiro FM 92,3, o texto lamenta o triste episódio que macula a imagem da humanidade perante todas as demais espécies. Que São Francisco nos perdoe. Bom domingo!

João Alvarenga é professor de redação