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Marcos Adolfo Amaro

A desvalorização do real e os desafios da economia brasileira

07 de Janeiro de 2025 às 21:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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. (Crédito: REPRODUÇÃO)

A recente desvalorização do real frente ao dólar pode ser parcialmente explicada pela valorização global da moeda norte-americana, impulsionada pela eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Sob sua gestão, marcada por políticas pró-mercado, um viés de direita e forte inclinação capitalista, os ativos financeiros se valorizaram, renovando as expectativas de fortalecimento da economia norte-americana. Como consequência, o dólar ganhou força em relação a diversas moedas ao redor do mundo.

No entanto, no caso específico do real, ao menos metade dessa desvalorização deve ser atribuída a fatores internos do Brasil. O governo brasileiro enfrenta um cenário de elevados gastos públicos, crescimento substancial da dívida pública e uma preocupante deterioração fiscal. Essa combinação de fatores amplia as vulnerabilidades econômicas do país e exerce pressão sobre o câmbio.

Historicamente, o governo brasileiro tem sido criticado pela negligência no controle dos gastos públicos. Ainda assim, o país frequentemente aproveitou as desvalorizações cambiais para impulsionar o superávit na balança comercial e acumular reservas internacionais, graças à sua posição como grande exportador de commodities.

Apesar disso, a economia brasileira continua dependente da exportação de produtos de baixo valor agregado. Embora o volume das exportações tenha aumentado, a qualidade e o valor agregado dos produtos permanecem como desafios significativos. Essa limitação perpetua a imagem do Brasil como “a grande fazenda do mundo”, incapaz de competir no comércio global de bens e serviços de alta complexidade tecnológica.

Curiosamente, lembro-me de um professor de economia que costumava dizer: “País rico é aquele que importa.” Essa frase questionava a visão tradicional de que a riqueza de um país está em suas exportações. Ele argumentava que a força econômica de uma nação reside em sua capacidade de consumir internamente bens e serviços de alta qualidade. No Brasil, no entanto, essa premissa enfrenta grandes obstáculos, como as elevadas taxas de juros, que atualmente estão próximas de 15% ao ano. Essas taxas tornam o fortalecimento do consumo doméstico praticamente inviável, penalizando tanto empresas quanto famílias.

Os problemas estruturais da economia brasileira também seguem sem solução. A tão esperada reforma tributária, que prometia simplificar o sistema e reduzir a carga sobre a produção, agora aponta para um possível aumento da carga tributária, desestimulando empresários e cidadãos. Há décadas, discutimos a melhor forma de gastar os recursos públicos, mas pouco avançamos para um debate mais amplo e necessário sobre a redução dos gastos governamentais.

Com uma dívida pública que ultrapassa um trilhão de reais, o Brasil precisa urgentemente enfrentar seus gastos de maneira mais eficiente e sustentável. É imperativo que a sociedade se mobilize para exigir ações responsáveis do governo. Medidas que, embora dolorosas, são essenciais para garantir a saúde econômica do país no longo prazo.

Os empresários brasileiros conhecem bem o custo da ineficiência. Quando enfrentam prejuízos, são obrigados a cortar gastos, reduzir despesas e aumentar a produtividade. O governo, por outro lado, possui a facilidade de transferir esse ônus para a população, frequentemente por meio de aumentos tributários ou da inflação.

Por fim, a economia brasileira segue à deriva, carecendo de uma agenda verdadeiramente liberal e progressista. Para que o país alcance um crescimento sustentável e de qualidade, é fundamental atacar os problemas estruturais com coragem e determinação. Sem isso, continuaremos navegando em águas turbulentas, sem o controle necessário para construir um futuro próspero.

Marcos Adolfo Amaro é empresário, artista plástico e colecionador de arte. Fundador do FAMA Museu de Itu