Marcelo Augusto Paiva Pereira
A arquitetura é música congelada
A arquitetura e a música têm elementos comuns, como são a harmonia, o ritmo e o tempo, que as aproximam na razão da composição elaborada e na medida do espaço ocupado, cujas fontes criadoras são as mesmas, mas para fins diversos. Discute-se, entretanto, quem teria dito (ou afirmado) que a arquitetura é música congelada: se Goethe ou Schopenhauer. Seguem abaixo alguns comentários.
Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Arthur Schopenhauer (1788-1860) viveram ao tempo do Sacro Império Romano-Germânico, foram contemporâneos (da influência) do Iluminismo, da Revolução Francesa (1789-99), do Período Napoleônico (1799-1815), do resgate da arquitetura greco-romana e da adaptação desta para o mundo da época, sob a forma arquitetônica de neoclássica.
Nesse contexto, o Iluminismo tomou conta do pensamento filosófico, artístico e científico da época e fez crer na evolução das civilizações, num emergente universo inédito e muitos queriam crer que para melhor. Enquanto filósofos, Goethe defendeu o retorno do homem à natureza; Schopenhauer, contudo, entendia a vida entre o sofrimento e o tédio e a felicidade seria momentânea. A frase “a arquitetura é música congelada” foi pensada e afirmada por um deles nesse ambiente em que a Europa estava imersa.
Ao fazer uso do espaço, harmonia, ritmo e tempo, a arquitetura planeja os edifícios na medida dos espaços (extensão) e na razão da harmonia do desenho (ou projeto) definido pelo ritmo, com vistas ao uso pelo transcurso do tempo (duração da obra). A musicalidade está implícita na forma de cada edifício, ainda que seja acessória da função (a forma segue a função).
Nessa seara, a música se encontra congelada na arquitetura por todos os elementos que compuserem o edifício, tanto pelos cheios e vazios quanto pela estética, a formarem a harmonia que a música faz com as sete notas ou menos para envolver o indivíduo e atingir-lhe a alma, na busca pelo conforto físico e espiritual.
Na órbita da musicalidade, a arquitetura modernista reduziu a extensão das composições e atingiu a versão minimalista, pela qual o ritmo padronizou a harmonia do desenho sob a forma do módulo, medida pré-definida que se repete quantas vezes for necessária para compor o edifício. Ainda assim a música permaneceu congelada nas obras arquitetônicas, mas na forma modulada, de ritmo repetitivo, harmônica e sem se fragmentar.
Conclusivamente, a arquitetura é música congelada por ser elemento integrante dos projetos desenhados e construídos na razão da harmonia dada pelo ritmo (ou módulo) e na medida dos espaços. Se, entretanto, foi de Goethe ou de Schopenhauer a autoria dessa afirmação, ainda não se sabe. Sabe-se, porém, que ambos acertaram, qualquer que tenha sido. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista