Renato de Oliveira Camargo Junior
Fato ou Ficção? Um diálogo sobre a historicidade da ressurreição de Jesus

Quem é que, diante das narrativas extraordinárias da Bíblia, envolvendo os milagres, as curas e a ressurreição de Jesus, nunca pensou estar diante de uma obra de fantasia? Por outro lado, o desenvolvimento da ciência, não tem diminuído o número de fiéis que acreditam nessas histórias e se deixam moldar por elas. Afinal de contas, a ressurreição é um fato ou uma ficção?
O livro “Em defesa de Cristo”, lançado em 1998, conta a história de Lee Strobel, um jornalista americano, formado pela Universidade de Missouri, mestre em direito pela Universidade de Yale, um dos principais âncoras do Chicago Tribune, que, por seu caráter mais crítico, sempre se declarou abertamente ateu. Conceito este compartilhado com toda sua família.
Até que um dia, foi surpreendido com a conversão de sua esposa à fé cristã, numa igreja chamada Willow Creek, na cidade de Chicago. Strobel considerou tal rendição uma verdadeira afronta aos princípios defendidos pela família e pensou em divórcio. Mas, por amar muito sua esposa, preferiu usar suas habilidades para investigar e desacreditar a fé cristã.
Para tanto, iniciou uma série de investigações científicas, com 12 especialistas dos mais variados ramos das ciências humanas, envolvendo arqueologia, antropologia, história, psicologia e medicina. Seu intuito era produzir o melhor material possível para convencer sua esposa e as demais pessoas que, como ela, se deixaram enganar pela fé.
Para sua surpresa, após dois anos de pesquisa, Lee Strobel descobriu que os “Evangelhos”, principais documentos sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus, eram dignos de confiança. Mais do que isso, que esses evangelhos não eram a única evidência escriturística. Flávio Joséfo, historiador do primeiro século, descomprometido com a fé cristã, afirmou:
“Nessa época havia um homem sábio, chamado Jesus. Seu comportamento era bom e sabe-se que era uma pessoa de virtudes. Muitos tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. Eles relataram que ele lhes havia aparecido três dias depois da crucificação e que ele estava vivo [...]”.
Os estudos de Lee Strobel também o levaram à descoberta de três teorias alternativas sobre a ressurreição. A primeira foi a teoria da conspiração, que defendia a ideia de que os discípulos haviam montado um esquema para roubarem o corpo de Jesus. Essa teoria não se sustenta, porque os discípulos não morreriam, mais tarde, por uma mentira.
A segunda foi a teoria da alucinação, que defendia a ideia de que os discípulos queriam tanto que Jesus estivesse vivo, que o viram numa experiência idealizada. Essa teoria também não se sustenta, porque não há como justificar essa experiência com mais de 500 pessoas, em lugares diferentes, incluindo pessoas que não criam na divindade de Jesus.
A terceira foi a da morte aparente, que defendia a ideia de que Jesus não morreu de fato, mas passou por uma experiência de quase morte. Essa teoria também não se sustenta, porque os romanos eram especialistas em matar, fizeram verter água do seu lado (sinal de morte) e ele não conseguiria sequer andar normalmente, após ter apanhado tanto dos seus algozes.
Mas a ressurreição de Jesus não é crível apenas pela ausência de teorias alternativas dignas de confiança. Destacamos nesta direção, algumas evidências realmente interessantes. Em primeiro lugar, o testemunho de Pedro, que havia negado Jesus, dias atrás, com medo de que o mesmo que acontecia com Jesus, pudesse acontecer com ele. A ressurreição o expunha.
Segundo, o testemunho dos “12”. Menção ao grupo dos discípulos que o conheciam muito bem e que não poderiam confundi-lo com uma pessoa parecida. Terceiro, o testemunho dos 500. Menção a um grupo que conviveu com Jesus por 50 dias após a ressurreição e que, com ele, comeram, beberam e conversaram intensamente.
Quarto, o testemunho de Tiago, irmão de Jesus. Alguém que, apesar de tanto admirar seu irmão, negou-se a reconhecer que ele era o próprio Deus encarnado. Após a ressurreição, se rendeu. Em quinto e último lugar, o testemunho de Paulo, um fariseu que perseguiu os cristãos e matou muitos deles, até que o ressurreto o encontrou pessoalmente. De perseguidor, passou a ser um pregador do evangelho, perseguido pelos judeus.
Após sua pesquisa, Lee Strobel deixou para trás seu ceticismo e acabou se rendendo a Jesus. Ele e sua família frequentam uma igreja nos EUA e servem a Cristo com inteireza de coração, a despeito do que as outras pessoas pensam sobre eles. Esse passo certamente lhe custou um preço muito alto, principalmente em seu ambiente profissional, mas eles estão em paz.
Que a nossa resposta final, sobre a historicidade da ressurreição de Jesus, nunca esteja baseada nos preconceitos estabelecidos contra a fé e, nem tampouco, na capacidade da crença pela crença. Mais do que nunca, precisamos de uma fé baseada em evidências. Uma fé que nos habilite a discernir entre aquilo que é engodo e aquilo que é digno de confiança.
Renato de Oliveira Camargo Junior, é teólogo formado pelo Seminário Presbiteriano do Sul, pós-graduado em Liderança pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Ministério pelo Missional Trainning Center, diretor do Centro de Treinamento para Plantadores de Igrejas e pastor Plantador da Comunidade Presbiteriana Campolim, em Sorocaba.