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Editorial

O fator Trump

Trump jamais foi condenado por esse suposto crime e, portanto, é inocente até que se prove o contrário

14 de Fevereiro de 2024 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Trump supera Nikki Haley
Trump supera Nikki Haley (Crédito: SCOTT OLSON/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP)

A possibilidade de Donald Trump voltar a presidir os Estados Unidos a partir do ano que vem está provocando uma verdadeira confusão no cenário político mundial.

Em seus discursos de campanha, ele alerta para uma série de medidas que pretende tomar, causando apreensão em diversos setores.

A mídia dominante nos Estados Unidos tem gastado páginas e páginas de artigos tentando convencer o eleitor do risco que a recondução do ex-presidente poderia causar ao país.

Mas, pelas pesquisas eleitorais, esse discurso desesperado parece não estar surtindo efeito.

Trump lidera a maioria das pesquisas, algumas com boa margem de votos sobre o atual presidente Joe Biden.

Alguns estados norte-americanos estão tentando usar subterfúgios legais para tentar impedir a candidatura do republicano.

Decisões locais impediram que Trump disputasse as primárias eleitorais do seu partido.

Diante do impasse, o caso foi parar na Suprema Corte.

A justificativa daqueles que tentam impugnar a candidatura do ex-presidente se baseia na alegação de que ele teria ferido a 14ª Emenda da Constituição ao incentivar atos que podem ser considerados como insurreição ao sistema político norte-americano.
O ponto fraco dessa alegação é que Trump jamais foi condenado por esse suposto crime e, portanto, é inocente até que se prove o contrário.

A preocupação dos juristas nos EUA é de que a Suprema Corte só avalie, em sua decisão, se os estados podem ou não podem aplicar a proibição atual.

Para eles, o ideal seria que a Corte Máxima já definisse se Trump cometeu ou não o crime de insurreição.

Se esse ponto não ficar claro, o Congresso, no ano que vem, pode tentar impedir a posse dele, se eleito, usando as mesmas alegações.

Os Estados Unidos correriam o risco de ficar sem presidente até que a Suprema Corte fosse acionada novamente e tomasse nova decisão.

Para Gerard Magliocca, professor de direito na Universidade de Indiana e um dos maiores especialistas no assunto, “se a Corte disser apenas que os estados não podem impor (a proibição) contra candidatos presidenciais, isso não é o mesmo que dizer que Trump é elegível para servir”.

Segundo ele, “o tribunal não tomaria nenhuma posição sobre essa questão e isso significa que se Trump vencer, as pessoas se sentiriam livres para ir ao Congresso em 6 de janeiro de 2025 e pedir que o declarem inelegível”.

Enquanto a vitória de Trump ainda é uma mera especulação, seu discurso agressivo tem surtido efeito prematuro.

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, anunciou nesta quarta-feira, 14, um aumento significativo dos gastos militares pelos membros da aliança, após as ameaças do republicano aos países em atraso com suas contribuições.

Trump já avisou que os Estados Unidos não pretendem defender os países que não contribuem com a Otan e chegou a sugerir ainda que incentivará a Rússia a “fazer o que quiser” com eles.

A fala de Trump repercutiu imediatamente.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que questionar um pilar fundamental da Otan como o princípio da defesa mútua é “irresponsável e perigoso”.

Durante seu primeiro governo, Trump criticou abertamente os aliados da Otan por sua resistência em aumentar os gastos em defesa e sempre declarou que não aceitaria que os Estados Unidos pagassem a conta por todos.

O retorno de Trump à Casa Branca ainda é incerto e pode nem ocorrer, mas os efeitos de suas palavras já ecoam em todo o planeta.

Cabe ao eleitor americano, em novembro, decidir o que é melhor para o seu país e para o mundo.