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Editorial

Ameaças de Maduro

22 de Julho de 2024 às 22:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Na semana passada, durante um discurso em um dos atos de sua campanha à reeleição, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que haverá um “banho de sangue” e uma “guerra civil fratricida” caso não vença as eleições marcadas para acontecer no próximo domingo, dia 28 de julho. A fala foi proferida na paróquia de La Vega, localizada no centro da cidade de Caracas.

Maduro detém o poder venezuelano praticamente desde 2012. Como vice-presidente, assumiu interinamente a presidência da República em 2012, logo após a vitória eleitoral de Hugo Chávez, em razão da grave enfermidade do presidente eleito. Antes, Maduro atuou como ministro dos Negócios Estrangeiros, de 2006 a 2013.

Nesse ponto, bom lembrar que Chávez governou a Venezuela por 14 anos — de 1999 até sua morte em 2013. Líder da Revolução Bolivariana, inspirado em Antonio Gramsci (1891-1937), um dos fundadores do Partido Comunista na Itália, que difundiu uma cultura marxista anticapitalista, Chávez advogava a doutrina bolivarianista promovendo o que denominava de socialismo do século XXI.

Chávez faleceu em 5 de março de 2013, e novas eleições foram convocadas. Em 14 de abril de 2013, Maduro foi eleito 57º presidente da Venezuela, para cumprir um mandato integral. Acabou reeleito em 2018, num pleito controverso e não reconhecido pela oposição e pela comunidade internacional, com muitos países e órgãos supranacionais não admitindo mais sua legitimidade como presidente.

Outra informação importante: o atual mandato presidencial na Venezuela é de seis anos, com a aprovação da Constituição de 1999, e a reeleição é limitada a dois mandatos desde 2009.

Pois bem, é certo que Maduro governa a Venezuela por decreto, com poderes especiais, desde novembro de 2013. Sua presidência foi marcada pelo declínio socioeconômico venezuelano, com acentuado crescimento da pobreza, inflação, criminalidade e fome. Seus críticos dizem que a crise que o país enfrentou na década de 2010 é resultado direto das políticas de Chávez e Maduro, e a oposição constantemente taxa o presidente de ditador.

Talvez, seja por isso que por aqui se ouve, vez em quando, a seguinte frase: “O Brasil não pode virar uma Venezuela”.

No discurso na paróquia de La Vega — um lugar sagrado —, Maduro não especificou sobre quem fala quando cita “banho de sangue” e “guerra civil fratricida”, mas usou o termo “fascistas”. No discurso ameaçador, ele diz aos eleitores que almeja, no domingo, “a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”. Se não...

As pesquisas de intenção de voto mostram que Maduro está atrás de Edmundo González, um ex-diplomata que despontou como principal rival do atual mandatário venezuelano nesta eleição. González é apoiado por María Corina Machado, líder da oposição que cativou os eleitores ao cruzar o país, fazendo campanha para ele com a promessa de restabelecer a democracia e reunir as famílias separadas pela migração.

Aí, pode estar um dos motivos do apelo de Maduro em forma de ameaça ao povo venezuelano.

A Organização das Nações Unidas (ONU) informou que enviaria à Venezuela quatro especialistas para Venezuela antes das eleições. A equipe teria a missão de produzir um relatório independente e interno sobre a condução do processo eleitoral. O envio de um painel de especialistas eleitorais atende ao pedido do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela e o relatório, que incluirá recomendações para fortalecer eleições futuras, será confidencial.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), afirmou que as falas do presidente venezuelano geram dúvidas sobre se haverá transmissão de poder caso a oposição vença as eleições no domingo e fez um alerta à comunidade internacional sobre o que classifica como “perseguição política” no país latino-americano.

Aqui, no Brasil, o presidente Lula — amigo de Chávez e Maduro — disse que ficou assustado com a declaração. À agência Reuters, Lula afirmou que Maduro deve aprender que, quando se perde uma eleição, é preciso respeitar o resultado e ir “embora”. O recado está dado, portanto.

Então, espera-se que se perder nas urnas, legitimamente, no domingo, Maduro esqueça essa história de “banho de sangue” e “guerra civil fratricida”.