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Editorial

O tempo secou

26 de Julho de 2024 às 22:30
Cruzeiro do Sul [email protected]
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Segundo o estudo Impacto da Mudança Climática nos Recursos Hídricos do Brasil lançado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), no último dia de janeiro deste ano, já indicava que a disponibilidade hídrica do País pode cair até 40% em regiões hidrográficas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste até 2040. Com essa redução, existe uma tendência de aumento do número de trechos de rios intermitentes — que secam temporariamente — especialmente na região Nordeste. Essas situações demandam preparação e podem afetar a geração hidrelétrica, a agricultura e o abastecimento de água nas cidades dessas regiões. Por outro lado, o Sul possui uma tendência de aumento da disponibilidade hídrica em até 5% até 2040, mas com uma maior imprevisibilidade e um aumento da frequência de cheias e inundações, como vem ocorrendo na região nos últimos anos.

Mas não é de hoje que a natureza vem dando sinais de que algo não vai bem. Em maio de 2021, o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) emitiu um alerta conjunto de emergência hídrica para a área da Bacia do Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná. O documento previa chuvas abaixo da média entre junho e setembro na região. Foi a primeira vez que o órgão emitiu um alerta desta natureza.

Segundo o informe de 2021, a escassez de chuva vem sendo verificada desde 2019. O alerta feito há três anos é mais atual hoje. O Sistema Nacional de Meteorologia é coordenado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia. Aquele alerta também foi subscrito por todos os órgãos federais ligados à meteorologia, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).

Nesta semana, o Cemaden tornou público dados do Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil, referente a junho deste ano, que mostra que os 27 municípios que integram a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS) estão em situação de seca moderada ou severa. A situação é grave em 18 cidades: Alambari, Alumínio, Araçariguama, Araçoiaba da Serra, Boituva, Capela do Alto, Cerquilho, Cesário Lange, Itu, Jumirim, Mairinque, Porto Feliz, Salto, Salto de Pirapora, Sarapuí, Sorocaba, Tatuí e Tietê. Em nove — Ibiúna, Iperó, Itapetininga, Piedade, Pilar do Sul, São Miguel Arcanjo, São Roque, Tapiraí e Votorantim —, o cenário é moderado mas não menos preocupante. Em todo o Brasil, 3.157 municípios enfrentam algum nível de seca, entre fraca, moderada, severa e extrema.

Marcelo Zeri, pesquisador do Cemaden, confirma que a seca deste ano é uma consequência da falta de chuvas de 2023, causada pelo El Niño e caracteriza-se pelo aquecimento anormal e constante da superfície do Oceano Pacífico na linha do Equador. Com isso, o clima fica mais quente e menos chuvoso.

Com a falta de chuva surge outra situação que afeta a vida das pessoas, além das consequências da seca. Na quinta-feira (25), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta laranja de baixa umidade para quase todo o Estado de São Paulo. O aviso indica uma situação crítica ou de alto risco, neste caso, causada pelo tempo seco. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a situação é de alerta quando a umidade relativa do ar cai para menos de 30%. Em Sorocaba, foram registrados mínimas de 10% nesta semana, e a umidade varia entre 20% e 30%. Segundo o Ministério da Saúde, a baixa umidade aumenta a incidência de doenças respiratórias, como rinite alérgica e asma, além de problemas na pele, nos olhos e possíveis sangramentos nasais.

Pois bem, a seca é considerada um dos principais limitantes que afetam a segurança alimentar e a sobrevivência de mais de dois bilhões de pessoas em todo o planeta. E, mesmo com todo o aparato moderno de equipamento e tecnologia, não há nada seguro que se possa fazer e que traga alguma garantia de uma solução para a falta de chuva. É fato que por consequência da ação dos seres humanos, as mudanças climáticas no planeta têm sido mais frequentes e extremas. A situação requer ação além da reflexão sobre o que pode ser feito para amenizar a seca ou até mesmo consertar o que se estragou.