Editorial
Faltam profissionais de tecnologia
Um debate proposto pela Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado Federal, na semana passada, chamou a atenção sobre a necessidade de o Brasil ampliar a conectividade digital e capacitar populações vulneráveis.
O encontro serviu para alimentar um relatório sobre os obstáculos à inovação no Brasil e à falta de incentivo governamental e de uma política pública específica.
O debate defendeu a formação de profissionais qualificados para enfrentar a escassez de mão de obra no setor de tecnologia em razão da crescente demanda na área, que projeta um grande déficit de profissionais nos próximos anos.
O Brasil forma pouco mais de 53 mil profissionais de tecnologia por ano, o que abrirá um déficit de 532 mil pessoas para trabalhar na área até 2029. O mercado está à procura de profissionais para atuar em desenvolvimento de aplicativos, comércio eletrônico, análise de dados e segurança da informação e tem dificuldade para encontrar a mão de obra de que necessita.
André Barrence, diretor do Google for Startups para a América Latina, confirma essa carência de profissionais. “Milhares de profissionais chegam ao mercado de tecnologia todos os anos, mas ainda assim existe uma escassez de pessoas para trabalhar no setor, que só aumentará com o passar dos anos. O contexto, que é global, afeta todos os agentes do ecossistema de inovação, desde as empresas tradicionais até as startups. A pergunta é: Quais fatores motivaram, ao longo dos anos, a existência desse cenário?”
A resposta pode estar no relatório “Panorama de talentos em tecnologia”, realizado pelo Google for Startups, com apoio da Abstartups e da Box 1824. O estudo mapeia atentamente os principais desafios que estão relacionados à escassez destes profissionais na área.
“Para as startups, o desafio na contratação desses profissionais é ainda maior: 92% das startups que foram ouvidas pelo estudo acreditam que faltam profissionais de tecnologia no Brasil. A concorrência com grandes empresas nacionais e internacionais torna a competição por talentos qualificados mais acirrada. Menos atraentes e com menor potencial de retenção de profissionais, as startups entendem que um dos principais efeitos dessa lacuna de talentos é o atraso no crescimento de seus negócios, o que, em um universo competitivo como o de inovação, pode ser uma questão de sobrevivência”, analisa André Barrence.
Para que as previsões não confirmem a falta de profissionais de tecnologia no Brasil, o governo, as empresas e as instituições de ensino precisam trabalhar em parceria para promover a diversidade, aumentar a participação de mulheres e minorias na área de TI, que ainda é predominantemente masculina, criar programas de formação, desenvolver cursos de graduação e pós-graduação em TI e programas de treinamento e capacitação para profissionais já em atividade; incentivar a cultura de aprendizado contínuo entre outras ações.
O relatório do Google mostrou que o mercado de tecnologia no Brasil é bastante homogêneo e pouco diverso, com profissionais altamente concentrados na região sudeste, sendo 43% apenas no Estado de São Paulo. Além da barreira regional, há ainda mais obstáculos para grupos politicamente minorizados que se deparam com ainda menos incentivos ao longo de suas jornadas, o que acaba por desestimulá-los e afastá-los do mercado de tecnologia. Dos entrevistados para o relatório, 50% consideram o mercado de tecnologia totalmente ou muito homogêneo em relação à raça, classe, religião e gênero, enquanto apenas 15% o consideram totalmente diverso.
Há, ainda, a fuga de talentos. Os profissionais que são especialistas buscam e são alvos constantes de melhores oportunidades e salários, principalmente fora do Brasil, culminando na carência de profissionais no mercado de tecnologia brasileiro. A questão aqui não é sobre o futuro e sim sobre o presente. O apontamento está feito. Esperam-se soluções.