Editorial
Situação dramática na UFRJ
Uma semana após a divulgação da informação de que o Brasil tem o maior número de instituições de ensino superior entre as melhores da América Latina e do Caribe, dentre um total de 23 países avaliados, os brasileiros foram surpreendidos com notícia absurda de que as atividades da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foram suspensas devido ao corte no fornecimento de água e luz como consequência de uma dívida milionária em suas contas de consumo.
Segundo apontou o QS Latin America & The Caribbean Ranking 2025, das 437 instituições classificadas, 96 são brasileiras (22%). Destas, 50% são federais, vinculadas ao Ministério da Educação (MEC).
A UFRJ aparece na 5ª posição no ranking das melhores instituições de ensino superior do QS, mas a situação vexatória à qual foi exposta nesta quarta-feira (13) ofuscou o brilho de sua conquista. A concessionária Águas do Rio informou que iniciou a interrupção do abastecimento de água em algumas unidades da UFRJ por dívidas. Antes, a Light já havia cortado o fornecimento de energia elétrica em 15 unidades da instituição universitária pelo mesmo motivo.
A Águas do Rio informou que fez várias reuniões com a reitoria da UFRJ para que eles chegassem a um acordo em relação à dívida da universidade com a empresa. Na última reunião, na sexta-feira (8), foi formalizada uma proposta de desconto. No entanto, de acordo com a concessionária, o prazo para a proposta se encerrou na terça-feira (12) e, como não houve retorno, a empresa iniciou o corte do fornecimento de água em algumas unidades. A dívida com o fornecimento de água está na casa dos R$ 18 milhões.
Em relação ao fornecimento de energia elétrica junto à Light, a dívida soma R$ 31,8 milhões, referente a faturas vencidas entre março e novembro de 2024, além de R$ 3,9 milhões em parcelas não quitadas de um acordo firmado em 2020.
E tudo isso acontece em meio à expectativa do esperado e necessário anúncio de corte de gastos do governo federal. Não há informações sobre quais setores terão menos dinheiro, mas é certo que o MEC será afetado e a situação das universidades federais, de modo geral, tende a ficar ainda mais difícil.
Pública, centenária e respeitada internacionalmente, a UFRJ é a primeira universidade criada pelo Governo Federal, em 1920. Mas algumas unidades já estavam em funcionamento, como a Escola Politécnica, fundada em 1792, que é considerada a sétima escola de Engenharia mais antiga do mundo e a primeira das Américas. No início chamada de Universidade do Rio de Janeiro, a UFRJ reuniu a Escola Politécnica, a Faculdade Nacional de Medicina, criada em 1808, e a Faculdade Nacional de Direito, criada em 1891.
A UFRJ tem estrutura similar à de um município de médio porte, compatível com o seu grau de relevância estratégica para o desenvolvimento do País. Formou uma sucessão de notáveis, como o indicado ao Prêmio Nobel da Paz, Osvaldo Aranha; os escritores Jorge Amado e Clarice Lispector; o arquiteto Oscar Niemeyer; os médicos Oswaldo Cruz e Carlos Chagas; e o matemático Artur Ávila, primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, honraria considerada equivalente ao Prêmio Nobel concedida a matemáticos de até 40 anos de idade.
Quarta instituição que mais produz ciência no Brasil, a UFRJ possui dois campi fora da capital fluminense: um em Macaé e outro em Duque de Caxias. Com projetos de ponta nas áreas científica e cultural, a antiga Universidade do Brasil tem sob seu escopo 9 hospitais e institutos de atenção à saúde, 13 museus, 1.456 laboratórios, 1.863 projetos de extensão, 14 prédios tombados, 45 bibliotecas e um Parque Tecnológico de 350 mil metros quadrados, com startups e empresas de protagonismos nacional e internacional.
Apesar de toda essa grandiosidade e importância, a falta de gestão e cuidado por parte do MEC está colocando toda a qualidade desse patrimônio público em risco.
Durante uma aula pública ministrada na quarta-feira em pátio da UFRJ, o reitor da instituição Roberto Medronho, disse que “a situação é dramática” e se agrava por causa do déficit orçamentário da universidade, que atualmente chega a R$ 192 milhões. Apenas neste ano, o déficit chega a R$ 70 milhões.
A Ligth garantiu o fornecimento de energia elétrica para a manutenção dos serviços essenciais como os de saúde e segurança enquanto espera receber o que lhe é devido, assim como a Águas do Rio.