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Editorial

À espera de boas notícias

14 de Novembro de 2024 às 21:51
Cruzeiro do Sul [email protected]
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À espera de boas notícias para a economia do Brasil, por parte do governo federal, os brasileiros — de forma geral — assistem as suas dificuldades financeiras aumentarem. A maior expectativa é pelo anúncio do corte de gastos, já que a reação do mercado deve ser positiva provocando uma onda de otimismo às vésperas do final de ano. Algo precisa ser feito urgente para salvar o ano econômico brasileiro. No início desta semana, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou a queda da confiança por parte dos empresários industriais na economia nacional.

Mas, as dificuldades não são sentidas apenas no setor produtivo. Quem consome também vive no aperto. Estudo feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) apontou que 77% das famílias têm alguma dívida, como conta sem pagar e financiamento imobiliário, o que significa que 1,45 milhão de famílias a mais assumiram dívidas nos últimos dois anos. Segundo a pesquisa, 29% das famílias têm contas em atraso e 13% disseram não ter condições ou perspectivas de quitar os débitos.

A pesquisa ouviu 18 mil famílias em 27 capitais em julho. Mais da metade das famílias endividadas (52%) vivem nos estados do Sudeste. As capitais com maior quantidade de famílias endividadas são: São Paulo (2.888.081), Rio de Janeiro (2.028.143), Distrito Federal (765.823), Belo Horizonte (744.993) e Fortaleza (712.465).

Em termos de porcentagem, Porto Alegre e Vitória têm registro de 91% das famílias nessa situação. Em Belo Horizonte, Boa Vista e Curitiba, o percentual é de 90% e, em Fortaleza, 88%. Já Campo Grande e Salvador (66%), Goiânia e Macapá (68%) e Belém (69%) apresentam percentuais menores.

O percentual de famílias endividadas cresceu em quatro capitais em 2024 na comparação com 2022. O aumento ocorreu em Teresina (de 61% para 86%), João Pessoa (78% para 87%), Porto Velho (72% para 84%) e Fortaleza (71% para 88%). Houve queda em Rio Branco (89% para 77%), São Paulo (75% para 68%) e Curitiba (95% para 90%) no mesmo período analisado.

Em nota, a FecomercioSP explica que as diferenças entre as capitais estão relacionadas às “condições macroeconômicas de cada Estado e região, em que indicadores como inflação, juros e renda familiar criam circunstâncias distintas pelo País, e quanto maior o número de famílias convivendo com dívidas mais caro fica o crédito no mercado, elevando, como consequência, o risco de inadimplência, principalmente em um cenário de juros altos ou inflação pressionando o consumo”.

Na nota técnica, a Fecomercio afirma “mesmo que esse endividamento represente mais acesso da população ao crédito e aumento do consumo, também traz riscos: se mal gerido, pode levar à inadimplência e à exclusão no mercado. Por isso, é fundamental equilibrar o incentivo ao consumo com medidas que protejam o orçamento das famílias, especialmente as mais vulneráveis”.

Há, sem dúvida, uma enorme torcida para que esse quadro melhore e a economia volte a aquecer. É benéfico para todos. Porém, o Comitê de Política Monetária (Copom) já alertou que a desancoragem das expectativas de inflação pode levar a um prolongamento do ciclo de alta da taxa de juros e que o ritmo de ajustes futuros na Selic será ditado pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

Isso só é possível por meio da credibilidade da política monetária, fundamental para alcançar uma inflação estável e baixa. E, quem deve buscar essa condição é sem dúvida o governo.

Como dito no início deste texto, tudo está ligado. O mercado financeiro tem cobrado caro a falta de medidas do governo para o ajuste fiscal.

O reflexo, todos estão sentido. Há, ainda, de se considerar o fator externo. Na quarta-feira (13), pela primeira vez em quase três meses, o Banco Central interveio no câmbio para segurar a alta do dólar, leiloando US$ 4 bilhões das reservas internacionais.

Setores estão agindo, apesar das dificuldades. A indústria, apesar da falta de confiança, está contratando mão de obra e investimento em produção. O setor de serviços cresceu em outubro na comparação com setembro e essa tendência deve se manter, enquanto se espera a ação do governo federal.