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Editorial

Mais de seis milhões com dengue

07 de Dezembro de 2024 às 21:00
Cruzeiro do Sul [email protected]
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A expectativa de aumento nos casos de dengue no próximo verão é “bastante preocupante”. A afirmação é do presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alberto Chebabo. Segundo o médico, a dengue é uma doença surpreendente, que vem sendo combatida desde a década de 80, com poucas vitórias. Chebabo defendeu que é preciso ampliar a aplicação de vacinas contra a doença para permitir a proteção de um número maior de pessoas.

Dados do Painel de Monitoramento das Arboviroses indicam que o Brasil contabiliza 6.590.575 casos prováveis de dengue ao longo de 2024. Pelo menos 5.872 mortes pela doença foram confirmadas e 1.136 seguem em investigação. O coeficiente de incidência brasileiro é de 3.245 casos de dengue para cada 100 mil habitantes.

O Estado de São Paulo lidera o ranking em números absolutos, com 2,1 milhões de casos prováveis. Em seguida estão Minas Gerais (1,6 milhão), Paraná (653,8 mil) e Santa Catarina (348,5 mil). Já em relação ao coeficiente de incidência, o Distrito Federal aparece em primeiro lugar (9.876), seguido por Minas Gerais (8.233), Paraná (5.713) e São Paulo (4.841).

Por isso, a proximidade do verão preocupa. “A gente sabe que vai ser um verão quente e chuvoso. Já está assim e a gente ainda não chegou no verão, mas a dengue já começa a aparecer na primavera de forma intensa. Então, a gente tem uma preocupação grande em relação a essa temporada. A gente espera que a adesão à vacina contra a dengue seja ampliada e que a gente consiga vacinar uma parte maior da população, protegendo um número maior de pessoas”, alertou o médico Alberto Chebabo.

A dengue é uma doença que traz bastante danos à sociedade, “não só em termos de mortes, mas em razão do absenteísmo, sofrimento mesmo, de internação, então, é uma doença que não é simples. Mesmo os que passam por ela, dizem que nunca mais querem passar por ela”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) concluiu que, embora grande parte da população saiba que é preciso “evitar água parada” para evitar a disseminação de doenças como dengue, zika e chikungunya, investir apenas em estratégias de comunicação focadas nessa mensagem não é suficiente para provocar mudanças significativas no combate às arboviroses.

De acordo com o médico infectologista e diretor de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, José Moreira, uma das principais razões para a atual epidemia de dengue no Brasil é a circulação simultânea dos quatro sorotipos do vírus da dengue, situação considerada atípica. “Isso significa que há introdução de genótipos novos em uma população que é suscetível a ter a doença, pois ainda não se infectou. Crianças e adolescentes que ainda não tiveram exposição aos tipos 3 ou 4, por exemplo, que não circularam nos últimos anos, ficam mais expostas e são mais suscetíveis a doença grave em infecções secundárias”, explica.

É justamente a variação genética do vírus que representa o maior problema da dengue: quando infectado por um sorotipo, o indivíduo adquire imunidade contra aquele vírus específico. No entanto, em contato com um segundo sorotipo, o paciente tem maior risco de desenvolver a doença grave, devido a uma resposta exacerbada dos anticorpos produzidos na infecção anterior.

“O surto que estamos vivenciando é multifatorial. A circulação dos quatro sorotipos, as mudanças climáticas, a falha das medidas de prevenção, além da urbanização descontrolada, indivíduos suscetíveis à doença e baixas condições socioeconômicas impactam diretamente na epidemia”, resume o infectologista.

Para José Moreira, uma das principais formas de controlar o aumento desenfreado de casos de dengue é a vacinação. A baixa adesão à imunização é um problema que precisa ser combatido com ações específicas para a população alvo e com uma comunicação assertiva acerca da segurança dos imunizantes.

Com a chegada do verão, os casos de dengue tendem a aumentar consideravelmente. Devido à grande incidência de chuvas, o acúmulo de água faz com que a proliferação do mosquito Aedes aegypti se intensifique. Somado ao calor intenso, o ambiente é ainda mais propício para que os ovos colocados pelas fêmeas eclodam e deem origem a milhares de novos mosquitos.

Portanto, a prevenção deve começar agora mesmo.