Editorial
O dólar em alta
Às vésperas do Natal — e das férias escolares — a notícia que vem da área econômica continua não sendo nada boa, principalmente para a maioria da população brasileira que, praticamente conta moedas para conseguir chegar ao final do mês sem entrar no cheque especial e nem estourar o cartão de crédito para garantir o básico para suas respectivas famílias.
A sexta-feira (13) foi mais um dia de tensões no mercado financeiro brasileiro. O dólar subiu, apesar de o Banco Central (BC) ter intervido no câmbio pela segunda vez em dois dias. A bolsa caiu mais uma vez e atingiu o menor nível em duas semanas.
O dólar comercial encerrou aquele dia 13 de dezembro vendido a R$ 6,035, com alta de R$ 0,026 (+0,43%). A cotação chegou a abrir em baixa, mas inverteu o movimento e passou a subir ainda durante a manhã. A moeda desacelerou no meio da tarde, após o BC vender US$ 845 milhões das reservas internacionais. Mesmo assim, permaneceu acima de R$ 6.
O mercado de ações teve um dia mais pessimista. Em queda pela segunda vez seguida, o índice Ibovespa, da B3, fechou aos 124.612 pontos, com recuo de 1,13%. O indicador está no menor nível desde 28 de novembro.
Tanto fatores internos como externos influenciaram o mercado. No exterior, o dólar subiu nesta sexta-feira, principalmente durante a tarde, especialmente perante aplicações financeiras tradicionais, como o ouro.
No entanto, o cenário doméstico predominou, com a desconfiança de que o Congresso Nacional desidratará o pacote de corte de gastos do governo. A votação depende da liberação de emendas parlamentares e corre contra o tempo, com o Parlamento entrando em recesso no fim da próxima semana.
Enquanto as lideranças do Executivo e do Legislativo travam uma queda de braço para ver quem tem mais poder, o brasileiro comum é quem sofre. Ir ao supermercado é uma tarefa nada agradável, principalmente para o bolso. Até mesmo parece que voltamos aquele tempo onde os preços subiam várias vezes ao dia. Nem mesmo aquela sábia prática de pesquisar preços está sendo possível cultivar, pois circular pela cidade de carro está custando caro, em razão dos preços dos combustíveis.
Com a alta do dólar, quem planejou viajar nos feriados de fim de ano ou nas férias escolares precisa rever os orçamentos. Quem ainda estudava fechar um pacote, pensa em adiar o passeio justamente pela incerteza de quanto a viagem vai realmente custar. O difícil é explicar para as crianças o motivo pelo qual não poderão visitar os avós que moram em outra cidade neste ano.
É sabido que as autoridades monetárias estão fazendo o que podem para segurar o rojão. Na quarta-feira (11), a alta do dólar e as incertezas em torno da inflação e da economia global fizeram o Banco Central (BC) aumentar o ritmo de alta dos juros. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic, juros básicos da economia, em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado financeiro, que esperava uma elevação de 0,75 ponto.
Em comunicado, o Copom atribuiu a elevação acima do previsto às incertezas externas e aos ruídos provocados pelo pacote fiscal do governo. O órgão informou que elevará a taxa Selic em 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões, em janeiro e março — o Copom se reúne a cada 45 dias — caso os cenários se confirmem. Os próximos encontros serão comandados pelo futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, escolhido do presidente Lula. Aqui, cabe um parênteses: o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi, ao longo do ano, trucidado pelo governo em razão das decisões do Copom. Ao que tudo indica, Campos Neto é o menos culpado pelo cenário econômico que se vê atualmente no Brasil.
Na sexta-feira (13), pela primeira vez desde agosto, o Banco Central vendeu dólares das reservas internacionais, sem comprar o dinheiro de volta, para segurar a alta da moeda norte-americana. A autoridade monetária leiloou na tarde daquele dia US$ 845 milhões para fazer cair a cotação, no entanto, a moeda norte-americana reverteu o movimento. Atualmente, o BC tem US$ 363,6 bilhões em reservas internacionais.