Editorial
Contas pesadas
O projeto de lei número 5/2025 apresentado na Câmara Municipal de Sorocaba cria 75 novos cargos em cinco novas secretarias da prefeitura e, com eles, um custo anual estimado em mais de R$ 17,7 milhões, considerando-se salários, férias e décimo terceiro.
Conforme noticiou este jornal, na edição de ontem, o valor acima ultrapassaria a casa dos R$ 70 milhões durante os quatro anos do segundo mandato do prefeito reeleito Rodrigo Manga. A proposta foi aprovada por 17 votos a favor e 8 contrários, apesar de emendas apresentadas por alguns vereadores para barrar a criação dos novos cargos.
As secretarias propostas são as de Turismo; Inclusão e Transtorno do Espectro Autista; da Mulher; de Parcerias; e de Empreendedorismo, Microempresa e Empresa de Pequeno Porte.
Com a criação dessas pastas, a prefeitura terá de contratar cinco novos secretários, com salário de R$ 17,6 mil; três superintendentes, com ganhos de 19,1 mil; cinco chefes de gabinete recebendo R$ 13,6 mil e 62 assessores de gabinete com salário de R$ 12,5 mil cada. A distribuição dos assessores será feita conforme a complexidade das secretarias, com base na quantidade de projetos e demandas de trabalho. E tudo isso a critério da gestão pública.
A votação do projeto foi realizada em uma sessão extraordinária da Câmara Municipal de Sorocaba, que durou mais de oito horas. Os vereadores favoráveis à reorganização da estrutura administrativa foram Alexandre da Horta (Solidariedade), Caio Oliveira (Republicanos), Claudio Sorocaba (PSD), Cristiano Passos (Republicanos), Fabio Simoa (Republicanos), Fausto Peres (Podemos), Fernando Dini (PP), Henri Arida (MDB), João Donizeti Silvestre (União Brasil), Jussara Fernandes (Republicanos), Luís Santos (Republicanos), Péricles Régis (Agir), Rodolfo Ganem (Podemos), Rogério Marques Munhoz (Agir), Silvano Jr. (Republicanos), Toninho Corredor (Agir) e Vinicius Aith (Republicanos).
Os votos contrários foram de Dylan Dantas (PL), Fernanda Garcia (PSol), Iara Bernardi (PT), Ítalo Moreira (União Brasil), Izídio de Brito (PT), Raul Marcelo (PSOL), Roberto Freitas (PL) e Tatiane Costa (PL).
Além disso, o Executivo de Sorocaba obteve autorização para contrair um empréstimo de US$ 150 milhões (aproximadamente R$ 930 milhões) junto a instituições financeiras, com a proposta sendo aprovada por 22 votos a favor e três contrários.
Diante dos números apresentados pela reportagem assinada por Vanessa Ferranti, pode-se afirmar que esse tipo de reorganização administrativa e aumento de custos em Sorocaba ocorre em contraste com outras cidades brasileiras, como Jacareí e Goiânia, que adotaram medidas para reduzir gastos.
O prefeito de Jacareí, Celso Florêncio (PL), por exemplo, determinou uma redução de 40% nos gastos da prefeitura, enquanto em Goiânia, o prefeito Sandro Mabel (União Brasil) implementou um decreto com medidas temporárias de contenção de despesas, incluindo a redução de nomeações e suspensão de benefícios.
Trata-se de um cenário bem complexo, este proposto em Sorocaba. A criação de novos cargos e secretarias, com um custo significativo, pode gerar muitas discussões na população e entre os vereadores. Enquanto alguns veem a necessidade dessas pastas para atender demandas específicas, como turismo e inclusão, outros questionam se é realmente o momento de aumentar a estrutura administrativa, especialmente considerando que muitas cidades estão buscando maneiras de reduzir gastos.
O impacto financeiro a longo prazo é uma preocupação válida. Mais de R$ 70 milhões em quatro anos é um valor considerável e poderia ser direcionado para outras áreas que também precisam de atenção, como saúde e educação.
Além disso, a aprovação do empréstimo de US$ 150 milhões pode indicar uma estratégia para financiar projetos futuros ou cobrir déficits. Isso também levanta questões sobre a capacidade de pagamento desses empréstimos no futuro.
A diferença nas abordagens entre Sorocaba e outras cidades, como Jacareí e Goiânia, reflete as realidades políticas e financeiras que cada município enfrenta. É interessante ver como essas decisões podem moldar o futuro da cidade.
A criação de novos cargos e secretarias pode, sim, ser vista como uma forma de acomodar interesses políticos e partidários, especialmente em um contexto onde a política local é bastante dinâmica e cheia de alianças. Muitas vezes, essas decisões são tomadas com base em acordos que priorizam a manutenção de poder e influência, em vez de focar nas reais necessidades da população.
Além disso, a inflação e o aumento dos gastos públicos podem sobrecarregar ainda mais o orçamento municipal. Se o dinheiro não for bem utilizado, isso pode resultar em serviços públicos deficientes e uma sensação de que os recursos estão sendo mal administrados. Isso gera desconfiança na população em relação à gestão pública.
É importante que haja um equilíbrio entre a expansão da estrutura administrativa e a eficiência na entrega de serviços à população. Um debate mais aberto e transparente poderia ajudar a esclarecer esses pontos e garantir que as decisões tomadas realmente atendam às necessidades da comunidade, em vez de apenas servir a interesses políticos.