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Editorial

A dificuldade em se comunicar

11 de Abril de 2025 às 22:00
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O governo Lula deu, na quinta-feira (10), mais uma demonstração que peca muito no quesito comunicação. E, em alguns casos, as informações desencontradas criam alguma expectativa nos brasileiros, apreensão na oposição e um rebuliço dentro dos corredores dos palácios do governo às vezes para apagar o fogo antes que vire um incêndio e outras para tentar consertar o que se estragou. É certo que, vira e mexe, nem sempre é possível reverter o efeito de uma notícia lançada de forma afoita ou até mesmo uma fake news.

Na quinta-feira, às 14h09, a Agência Brasil — agência de notícias brasileira pertencente à Empresa Brasil de Comunicação que administra o conglomerado de mídia do Governo Federal — divulgou a notícia de que o Ministério de Minas e Energia trabalhava em um projeto de lei de reforma do setor elétrico brasileiro e, entre as propostas, estava a ampliação da tarifa social, que hoje oferece descontos no pagamento da conta de energia para indígenas, quilombolas, idosos que recebem Benefício de Prestação Continuada (BPC) e famílias inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal com renda até meio salário único.

A ideia é que haja uma isenção de pagamento de tarifa de energia elétrica para essas populações caso elas consumam até 80 kWh por mês, o que chegaria a 60 milhões de pessoas no País. “Isso representa o consumo de uma família que tem uma geladeira, um chuveiro elétrico, ferro de passar, carregador de celular, televisão, lâmpadas para seis cômodos”, disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Atualmente, a isenção completa do pagamento em caso de consumo de até 50 kWh vale para indígenas e quilombolas, enquanto os idosos com BPC e as famílias do CadÚnico têm direito a descontos escalonados de até 65%, caso o consumo seja menor que 220 kWh. Cerca de 40 milhões de brasileiros de menor renda têm desconto na conta de luz. Caso o aumento da isenção na conta de luz anunciado por Alexandre Silveira se concretizasse, o total de beneficiados pela tarifa social subiria 50%, incluindo os descontos parciais, alcançando os 60 milhões.

Olha o tamanho da expectativa criada: mais de 60 milhões de brasileiras e brasileiros beneficiados com a gratuidade de energia do consumo até 80 gigawatt por mês na véspera de um ano eleitoral, pensado por um governo comandado por um presidente com a popularidade em queda. A informação criou uma expectativa enorme: os possíveis beneficiados comemoraram, a oposição ficou preocupada com o populismo da iniciativa e os governistas ficaram atordoados, já que a informação lançada por um ministro de Estado, referendada por uma agência de notícias oficial, não trazia informações sobre quem pagaria essa conta, por exemplo.

Cerca de duas horas mais tarde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, usou a mesma Agência Brasil para informar que o seu Ministério ainda não tem estudos para ampliar a isenção na conta de luz para 60 milhões de brasileiros. “Na Fazenda, aqui, com certeza não tem [estudos sobre o tema], mas o Rui [Costa] me confirmou que não está tramitando nenhum projeto na Casa Civil nesse sentido...nesse momento, não há nada tramitando. Eu desconheço o assunto, e pelo que eu entendi da conversa com o ministro Rui Costa, não há nada que tenha chegado lá”, afirmou Haddad.

Conclusão: o governo Lula não sabe se comunicar nem internamente nem com os brasileiros, de forma geral. A comunicação é um dos pilares fundamentais de qualquer governo. Em um mundo cada vez mais interconectado, onde a informação circula em velocidade vertiginosa, a capacidade de um governo de se comunicar de forma clara, transparente e eficaz é crucial para a construção de confiança e legitimidade. No entanto, quando um governo falha nessa tarefa, as consequências podem ser desastrosas, afetando não apenas a imagem da administração, mas também a vida cotidiana dos cidadãos.

Um governo que não sabe se comunicar adequadamente cria um vácuo informativo que pode ser rapidamente preenchido por desinformação e especulação. Quando os cidadãos não recebem informações precisas sobre as medidas que estão sendo tomadas, eles tendem a buscar respostas em fontes não confiáveis, o que pode levar a decisões erradas e a um aumento da desconfiança nas instituições. Outro efeito negativo de uma comunicação ineficaz é a dificuldade em implementar políticas públicas que atendam necessariamente aos anseios da população. Além disso, a falta de comunicação eficaz pode resultar em um distanciamento entre o governo e a população. As pesquisas de popularidade de Lula provam essa verdade.