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O limite e os limites na Educação

08 de Novembro de 2018 às 09:59

Em recente reportagem veiculada no Jornal Nacional da TV Globo, o correspondente no Japão mostrou uma feira de empregos. Em todo mundo as várias feiras e empresas participantes abrem suas portas para os interessados, como acontece hoje em São Paulo com o Salão do Automóvel. O curioso neste caso do Japão, no entanto, é que nessas feiras especiais são as empresas que tentam convencer os estudantes a trabalhar para elas. Na maioria dos casos em nosso país são os jovens que vão a esses eventos para tentar ser aceitos. No caso do Japão e em alguns casos em universidades nos Estados Unidos, são as empresas que esperam ser aceitas pelos estudantes.

Para isso as empresas competem em ofertas de vantagens, que vão de planos de saúde, casas, carros e outras participações em ganhos quase impensáveis para o modelo que temos no Brasil. E ainda assim os jovens japoneses ficam com muitas dúvidas sobre a melhor proposta e em qual empresa pretendem ingressar. Por quê? Porque a formação dos jovens japoneses e sua cultura criam indivíduos com alto nível de qualificação e compromisso com as empresas que escolhem.

Enquanto isso o Brasil está lutando para ter uma alfabetização mínima dos jovens, enfrentando as dificuldades de atraso tecnológico e científico, reduções de investimentos nas universidades públicas que recebem repasse de parcela do ICMS e, assim, ou não conseguem dinheiro para investir em ciências ou têm folhas de pagamentos inchadas que resultam em menos recursos para pesquisas. Nas universidades particulares, salvo honrosas exceções como as FGV (Rio/São Paulo) e as Universidades Católicas (RS e RJ), as pesquisas quase inexistem.

Verbas para o CNPQ carecem de ajustes pois estão muito aquém do necessário para dar continuidade às pesquisas e muitas são interrompidas. Há tempos os americanos “importam cérebros” com uma política de valorização de pesquisadores oriundos de todas as partes do mundo. O mercado americano oferece vantagens aos cientistas de outras nacionalidades, desde bolsas a carreira nas universidades americanas. Nos últimos anos Portugal está atraindo alunos brasileiros inclusive com aceitação da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) cuja exigência de pontuação é inferior às necessárias no Brasil para ingressar num curso superior.

A China até os anos 80 não tinha universidades no ranking das melhores do mundo, porém a política econômica e a necessidade de qualificação fizeram com que o governo chinês investisse na formação dos jovens e, hoje, o país tem pelo menos seis universidades entre as 50 melhores do mundo.

O professor Ocimar Alavarse, coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), afirmou: “há uma debilidade na formação da nossa juventude, e isso não é democrático”, ao comentar o Enem de 2017 na Rádio USP. O professor disse em outro trecho da entrevista que “o problema não está no ensino médio, mas no fundamental”. Investimentos deveriam ser feitos no ensino básico onde a formação de qualidade igualaria os estudantes tanto de escolas públicas quanto particulares, cujo resultado seria oferecer ótimos alunos para ingresso nas universidades de qualquer natureza. A complementação dessa equação passa por abordagem com critérios científicos e necessariamente por uma revisão da formação dos alunos desde a família, o meio que vivem até as salas de aula.

Na Constituição brasileira lê-se no seu Art. 205: a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Logo essa formação não pode ser só atribuição do professor, mas da família e da sociedade que deve colaborar para que esteja completa, conforme o Art. 205. Os professores têm dificuldades para orientar os alunos quando não encontram respaldo dos pais, ou quando valores como respeito, educação, interesse, não são devidamente valorizados, ou há interferências ideológicas como as que começaram a ser observadas nas provas dos Enem anteriores e se mostrou de modo bastante contundente na primeira fase da prova aplicada aos alunos no último final de semana. A prova do Enem/2018, na sua primeira parte, trouxe uma série de dúvidas quanto à influência de ideologias implantadas na educação e abordadas em várias questões da prova que não guardavam a necessária relação com a grade curricular propostas para a formação, fazendo com que o aluno que se dedicou por três anos até sua conclusão, não encontrasse correspondência entre o que estudou e o que foi cobrado na prova. Foram fartas as queixas nas redes sociais sobre o conteúdo e o viés político ideológico que se quis imprimir às questões o que confundiu e indignou alunos e professores.

Espera-se que o governo que assume a partir de janeiro de 2019, se volte para a questão do ensino no conteúdo da grade curricular com preocupação em educar cidadãos para ocuparem postos de trabalho embasados em conhecimento universal que lhes garanta oportunidades aqui ou em outros países. Espera-se da escola o espaço de acúmulo de conhecimento e discussão e ideias, mas não como centro de doutrinação de ideologias de qualquer viés. Espera-se que o objetivo final seja a retenção de talentos em nosso país, desenvolvimento científico tecnológico para enfrentar os desafios das outras nações e do mercado nacional.

Do jeito que estão no momento nossos alunos e nossos universitários ou serão sequestrados para outros países, atraídos por oportunidades melhores, ou ficarão à mercê de culturas importadas desses países que investem na educação. Ou ainda, o pior cenário: cooptados por ideologias partidárias e sectárias que não promovem a educação e cultura de um país e, sim criam membros que apenas seguem sem pensar.